Como parte da programação da segunda edição da Mostra Retratos do Brasil, o premiado pianista, compositor e produtor André Mehmari aterrissa em Belo Horizonte para única apresentação, nesta terça-feira (11/6), às 19h30, no Conservatório UFMG.
No recital de piano solo, ele vai mostrar sua versão da "Chacona em ré menor" para violino, de Bach, e releituras de Noel Rosa, com foco na parceria com Vadico. A maior parte do programa será dedicada ao improviso, a partir de temas propostos pelo público.
"Eu diria que é o centro da apresentação, um momento que deve ocupar mais da metade do concerto, dedicado a essa prática que tenho desenvolvido e feito no mundo inteiro, colocando as pessoas para participarem comigo, criando em tempo real", diz. Ele destaca que essa é uma linguagem que tem se mostrado "muito forte" e que o retorno do público é maravilhoso. Mehmari observa que o improviso o tem permitido unir suas duas principais facetas: pianista e compositor.
A plateia poderá sugerir qualquer música, de temas folclóricos a clássicos do jazz, que servirá de mote para o desenvolvimento de uma composição que toma forma durante a execução.
"É uma prática que me dá muito prazer e espero que dê alegria para quem está acompanhando. É muito diferente de você apresentar uma peça, digamos, premeditada, porque o fato de músico e plateia estarem conectados pela criação é algo que tem uma força enorme", sublinha.
Bipolarização
O improviso para a composição em tempo real a partir de um determinado tema já foi muito comum na história da música, mais notadamente no final do século 19, aponta. Ele diz que "essa prática foi aos poucos sumindo, havendo uma bipolarização dos papéis de compositor e intérprete".
Sobre Noel Rosa, Mehmari observa que já gravou um álbum de piano solo dedicado a seu cancioneiro, "Noël: estrela da manhã", lançado no início de 2020. "Vou fazer um passeio pela obra dele com Vadico", diz.
Ele destaca que é sempre um prazer se apresentar em BH devido às relações pessoais e musicais que mantém com a cidade.
No final do ano passado, a Filarmônica de Minas Gerais estreou uma peça de sua autoria, "Concerto para violoncelo", composto sob encomenda para Antonio Meneses, que atuou na première como solista.
Mehmari diz que sempre esteve presente na vida da orquestra, não só como compositor mas também como jurado do festival Tinta Fresca e como admirador.
"Para mim, é a melhor orquestra do Brasil e eu tenho, de fato, uma relação muito próxima com o maestro (Fabio Mechetti) e com os músicos", afirma.
O pianista acompanhou o imbróglio que se estabeleceu a partir de abril deste ano envolvendo a Sala Minas Gerais, sede da Filarmônica, que, em função de decisão do governo, passaria a ter outra destinação. "Me manifestei de forma veemente contra essa mudança e consegui muito apoio. Falei o que tinha que falar", diz.
BDMG Cultural
André Mehmari sai em defesa do BDMG Cultural – sob ameaça de extinção, responsável, entre outros programas, pela realização do prêmio BDMG Instrumental, cujo corpo de jurados ele presidiu em 2016.
O artista não poupa críticas ao governo Romeu Zema (Novo), ao qual atribui "atitude destrutiva, no sentido de atacar a cultura quase com prazer sádico".
Novos projetos
Como de costume, Mehmari está às voltas com diversos projetos simultaneamente. Neste momento, compõe um quarteto de violoncelos para grupo norte-americano e cantata que será apresentada em primeira mão no Carnegie Hall, em 2025.
Ele acaba de lançar EP que traz um tema que compôs quando tinha 20 anos. "Também estou preparando para este ano duas grandes turnês nos Estados Unidos e outra no Japão. Em paralelo a isso tudo, estou inaugurando outra área de estudos na minha vida: a regência", diz.
ANDRÉ MEHMARI
Recital de piano solo, nesta terça-feira (11/6), às 19h30, no Conservatório UFMG (Av. Afonso Pena, 1.534 – Centro). Informações: (31) 3409-8300. Entrada gratuita.