Obra de Heitor Villa-Lobos valorizou a brasilidade, a natureza, a floresta e os indígenas -  (crédito: Arnold Newman/Museu Villa-Lobos)

Obra de Heitor Villa-Lobos valorizou a brasilidade, a natureza, a floresta e os indígenas

crédito: Arnold Newman/Museu Villa-Lobos

 

 

“Villa-Lobos ouviu muito o Brasil, e o Brasil precisa ouvir Villa-Lobos agora”. Com essas palavras, o maestro Gil Jardim justifica a criação do espetáculo “Voos de Villa – Impressões rápidas sobre todo o Brasil”, que chega a BH na quinta-feira (13/6), às 20h30, no Centro Cultural Unimed-BH Minas.

 


A montagem, que coloca a obra do compositor em diálogo com outras formas de expressão artística, estreou em 2019. A pandemia interrompeu a turnê, retomada no mês passado em São Paulo, seguindo para Rio de Janeiro e Brasília antes de chegar a Belo Horizonte.

 


“Embora o projeto de turnê tenha sido aprovado pela Lei Rouanet, ele ficou, como tantos outros, parado durante os anos em que Bolsonaro esteve na Presidência. Quando mudou o governo, ressuscitaram uns 300 ou 400 projetos. Tivemos a oportunidade de captar recursos e retomá-lo”, explica Jardim. O hiato permitiu a maturação do espetáculo, que teve muitas mudanças – sobretudo para torná-lo mais acessível.

 

 

Em 2019, a apresentação era mais acadêmica, 100% focada na obra de Villa-Lobos (1887-1959). “Agora retorna mais poética, de forma a falar mais proximamente com as pessoas”, pontua Jardim. Chico Buarque, Guinga, Pixinguinha, Dori Caymmi e Milton Nascimento foram incluídos no roteiro, pois conversam com o legado de Villa-Lobos.

 

Foto de orquestra de câmera se apresentando no palco

No espetáculo "Voos de Villa", orquestra de câmara incorpora programações de música eletrônica a seu repertório

Alexandre Eca/Divulgação

 


Jardim conta que se manteve a “experiência multimídia total”, como forma de explorar as inúmeras formas de expressar a brasilidade que a obra do compositor oferece. A designer de palco Anna Turra assina iluminação e cenografia; a multiartista Juuar, os vídeos e a direção visual e cênica. André Magalhães responde pelo projeto sonoro.

 


Tudo isso conflui para a narrativa que traz, inclusive, áudios de povos originários. “A gente começa com a voz do próprio Villa, numa polifonia a partir da qual acontece uma revoada e o espetáculo segue ininterrupto. É um roteiro que criamos através do vídeo e da música com equipe muito competente. Esse mix celebra a vida, o planeta, a ecologia e os povos originários”, ressalta.

 


O espetáculo é fruto da trajetória de Gil Jardim, que conduziu a execução de Villa-Lobos por várias orquestras e dirigiu Milton Nascimento e Egberto Gismonti, entre outros nomes da MPB.

 


“Sempre senti o desejo de abraçar num só abraço a música clássica e a música popular brasileira, porque sempre estive nos dois lugares, entendendo as pertinências de cada um”, diz. O espetáculo inclui “uma pitada de música eletrônica”, afirma.

 

 


O guitarrista Lello Bezerra cuidou das programações. “Por que fiz isso? Porque não sei onde Villa-Lobos vai dar. A tecnologia está sempre chegando, e o que ela vai fazer com a música de Villa e de outros compositores a gente não sabe. Então, é bacana ter ali alguma coisa que possa significar o infinito”, diz.

 


A formação é camerística, com 16 músicos, constituída por um instrumento de cada naipe da orquestra sinfônica moderna.

 

Caiapós

 

A peça central é “Uirapuru”, que evoca os caiapós. “Villa traduziu, com essa partitura, sons que tentam expressar o ambiente da mata. Isso me levou a selecionar dezenas de canções que tinham pássaros, das quais escolhi não mais que meia-dúzia”, comenta o maestro, citando “Passaredo” e “Sabiá”, ambas de Chico Buarque, com Francis Hime e Tom Jobim, respectivamente.

 


Influenciadores de Villa também estão presentes. “Antes de 'Passaredo', tem as 'Danças sacras e profanas', de Debussy, obra pela qual ele tinha um apreço muito grande. Aí tem a viola em 'Modinha' e 'Trenzinho do caipira', que segue para 'Rosa', do Pixinguinha, volta para Villa, com 'Veleiro', e vai para 'Rio Amazonas', do Dori (Caymmi). São como passarinhos levando o ramo da árvore um para o outro”, compara Gil Jardim.

 

 


“VOOS DE VILLA – IMPRESSÕES SOBRE TODO O BRASIL”


Regência: Gil Jardim. Quinta-feira (13/6), às 20h30, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia). Ingresso social: R$ 30 e R$ 15 (lote limitado). Informações: (31) 3516-1360.