Os sócios Lino Rodrigues, Marcelo Crocco e Claudão Rocha montaram programação especial neste mês de junho para comemorar o aniversário d’A Obra -  (crédito: MARCOS VIEIRA/EM/D.APRESS)

Os sócios Lino Rodrigues, Marcelo Crocco e Claudão Rocha montaram programação especial neste mês de junho para comemorar o aniversário d’A Obra

crédito: MARCOS VIEIRA/EM/D.APRESS

 

Foi uma confusão monumental. Uma noite de domingo, 22 de junho de 1997. Ninguém sabia o que iria acontecer, mas todo mundo foi conferir. Talvez 500, 600 pessoas até, num lugar onde cabia um terço disso. Foi nesta noite caótica que A Obra Bar Dançante veio ao mundo. E a história começou a ser contada a partir dali.

 


No mês de seu aniversário, o inferninho mais querido de Belo Horizonte vem comemorando, a cada fim de semana, seus 27 anos. Na programação, algumas das festas mais conhecidas. E no dia 22 de junho cinco DJs se revezam para celebrar a nova “idade” – a noite será dedicada à produtora Fernanda Azevedo, que morreu em 16 de maio e era a responsável pela programação da casa.

 


Em 27 anos, A Obra rendeu muita coisa. O objetivo inicial era ter um palco na Região Central de Belo Horizonte para a música independente. E muita gente passou por ali, em noites lotadas: Pitty, Supla, Kid Vinil, Lee Ranaldo e Steve Shelley, ex-Sonic Youth (cada qual com seu próprio show), do Guitar Wolf (em japonês).

 


Casamentos começaram n’A Obra. Teve, inclusive, um que foi realizado no local, com banda de terno e gravata acompanhando a festa. “A Obra não é só boate, casa de show, de cultura. É tudo isso, mas também um ponto turístico. Várias pessoas vêm para Belo Horizonte dizendo que querem conhecer a Pampulha, Inhotim, o Mercado Central e A Obra. Isso é bacana pra caramba, deixa a gente morrendo de orgulho do que fazemos”, comenta Cláudio Vieira Rocha, o Claudão.

 


Vinte e sete anos atrás, ele, Marcelo Crocco e Lino Rodrigues, amigos de faculdade que formavam Os Meldas (banda de rock criada no final dos anos 1980 que chegou a ter nove integrantes), se uniram para criar A Obra. A experiência deles era com banda e com som (na época, tinham a Radiola Sound System, empresa de sonorização). Tanto que, nos dois primeiros anos, penaram para manter a casa.


Inferninho

Depois, ela acabou acontecendo, mesmo com dificuldades ao longo do período. Houve a época do inferninho literal. Não havia ar condicionado e o cigarro era liberado – você saía defumado, chegava em casa e ia direto para o banho. Vieram o ar e a proibição do fumo. Com isto, o cercadinho do lado de fora virou um lugar superconcorrido. Tem gente que sai de casa para ir para “a porta d’A Obra”, que enche nas madrugadas.

 


O horário, aliás, sempre foi uma questão. A casa abre pontualmente às 22h – quanto mais tarde, melhor. Mas, no pós-pandemia, Crocco diz, as coisas mudaram um pouco. “Tem sábado que, dependendo da festa, às 23h já tem fila. A gente teve que se adaptar. Hoje em dia, pelo menos para mim, há uma carência grande de movimentos alternativos. E A Obra sempre foi palco deles: indie, emo, punk, surf music. Ela continua sendo eclética, mantém o padrão, mas se rendeu um pouco ao pop. Agora, axé, pagode, sertanejo, isso você nunca vai ver lá.”

 


Atualmente, a casa, cuja lotação é de 120 pessoas, só abre sextas e sábados (e vésperas de feriados). “Mantemos a tradição, com festas históricas, como Cabeça Dinossauro, Wannabe, Let’s Dance, Eu Não Presto, Mas Eu Te Amo (que completa 18 anos semana que vem). Mas fizemos algumas concessões”, acrescenta ele.

 


Boate que funcionou por duas décadas no Ponteio Lar Shopping, a NaSala, de certa forma, está sendo revivida n’A Obra, desde que seu principal residente, o DJ Válber, levou para lá a festa Murder on the Dancefloor. “Nossa política é manter o canal aberto para os DJs alternativos. Mas eles têm que encher a casa”, afirma Crocco.

 


A Obra é pequena, com uma estrutura grande para seu porte. “São seis seguranças e o Gil, gerente da casa há 26 anos, é quem segura as pontas. Isto fora a equipe do dia e da noite. Não dependemos d’A Obra para sobreviver, pois temos outras fontes de renda”, explica Crocco, que há dois anos criou o restaurante CroccoVeg, no Funcionários. Lino Rodrigues é professor da Escola de Letras da UFMG e Cláudio Rocha é tradutor, músico e fotógrafo.

 


Como negócio, A Obra não vale a pena. “Nunca ganhamos dinheiro lá. Levamos um troco, uma mesada. Mas A Obra sobrevive porque as pessoas amam aquele lugar, pelo que ela representa para a cidade e para nós”, comenta Crocco.



Confira a programação deste fim de semana e do próximo

. Nesta sexta (14/6) – Festa Supra Sumo (DJs Seu Muniz e Roy, com anos 70 a 90)


. Sábado (15/6) – Festa Hits (DJs Seu Muniz e Frankiw, com rock, pop e dance)


. 21/6 – Festa Eu Não Presto, Mas Eu Te Amo, 18 anos (DJs Kemille Lorraine, Ingrid Gabrielle, M. Lousada e Capitão Ingrato, com música brega)


. 22/6 – Aniversário da Obra, 27 anos
(DJs Frankiw, Nezt, Andreia Around, Vinicius Amaral e Seu Muniz, com rock, pop e dance)


A OBRA
Rua Rio Grande do Norte, 1.168, Savassi. Sextas (R$ 30) e sábados (R$ 35), a partir das 22h.