Na última semana, a banda mineira Lagum realizou um show em celebração a seus 10 anos de história. A apresentação aconteceu no mesmo local onde o grupo se apresentou pela primeira vez, em 2014, o pub Major Lock.
Assim como na estreia, o quarteto composto por Pedro Calais (vocalista), Zani (guitarrista), Jorge (guitarrista) e Chico (baixista) lotou a casa. Porém, desta vez, não só com amigos e conhecidos, mas também com fãs que se deslocaram de diferentes cidades do país e se espremiam para comemorar a data o mais perto possível dos ídolos.
Há uma década, a setlist contava com apenas uma canção autoral. Agora, os shows da Lagum percorrem os quatro discos lançados pela banda – “Seja o que eu quiser”, “Coisas da geração”, “Memórias (de onde eu nunca fui)” e “Depois do fim” –, além de diversos singles que são sucesso nas plataformas de streaming, como é o caso de “Telefone” e “Eu não valho nada”.
O final do show foi preenchido com os mesmos covers que os músicos tocavam no passado em pequenas casas de shows e eventos privados. O repertório vai do indie dos ingleses do Arctic Monkeys, com “R U Mine”, ao rock dos estadunidenses do Rage Against the Machine, com “Killing in the name”. Referências que, de alguma forma, seguem ecoando nas músicas da banda até os dias de hoje.
De 400 para 100 mil
O grupo aponta o aumento do público como uma das maiores evoluções que conquistou ao longo da última década. Se antes a banda cantava para 400 pessoas, hoje faz shows solo em casas com capacidade para mais de 8 mil e participa de festivais que chegam a receber 100 mil por dia, como o Lollapalooza. Em BH, neste sábado (15/6), a banda já esgotou os ingressos para a apresentação no Arena Hall da turnê do último disco, “Depois do fim”.
O baixista Francisco Jardim (o Chico ou Chicão) destaca o amadurecimento musical como um ganho. “Também tivemos mudança muito grande no entendimento da música. Não diria que é uma evolução pra melhor ou pra pior, mas, sim, que ganhamos expressão artística muito maior e muito mais sensível. Sabemos melhor o que fazer e como entregar”, pontua.
Grammy Latino
Essa mudança pode ser percebida em “Depois do fim”, que chegou a conquistar a indicação na categoria de melhor álbum de engenharia de som no Grammy Latino do ano passado. O disco ganhou versão deluxe em comemoração à primeira década da banda com duas faixas inéditas (“Cócegas” e “Me lembre”), além de versões experimentais das composições que já tinham entrado na primeira versão.
Como costumam dizer os integrantes da banda mineira, existem “duas Laguns”: uma no fone e outra em cima do palco.
“A gente foi se ligando nisso. Vimos que o show se tornou diferente e único para a pessoa que está ali poder realmente vivenciar. Acabou se tornando nosso diferencial. É quase um enigma, que a galera sempre comenta”, afirma Chico.
Os músicos destacam que nada disso seria possível sem a troca com o público e o apoio dos fãs, peças fundamentais na construção da carreira da banda que ganhou diversos prêmios e concursos por votação popular.
“Um dos pilares da nossa banda desde o início é a proximidade com os fãs. Percebemos esse carinho crescendo, uma coisa a que a gente sempre deu muita atenção. Separamos um tempo nosso para atender os fãs e cultivar mesmo estsa proximidade”, afirma o guitarrista Jorge.
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Na comemoração dos 10 anos, a demonstração de carinho foi intensificada com a trend no Instagram que incentivou o público a postar lembranças desse período ao lado da banda. “Vi fotos minhas de 2017, eu nem lembro como eu estava direito”, brinca Chico.
“Essas fotos trazem uma recordação daquele dia, trazem a memória de um momento especial. Vamos continuar caminhando juntos para desencadear sempre mais tempo (de banda), é isso que a gente espera”, completa.
Spotify e TikTok
De 2014 pra cá, a indústria musical passou por diversas mudanças. Para o vocalista Pedro Calais, a maior delas é a influência das redes sociais na forma como as pessoas consomem música. Ele lembra que no início da carreira, o Spotify, por exemplo, não tinha a mesma força de hoje e, por isso, a forma de divulgar a banda era feita de maneira orgânica, distribuindo CDs nos shows.
“O mercado está muito diferente de quando a gente entrou. O TikTok, hoje em dia, dita muito as tendências. De uns tempos para cá, buscamos equilibrar as formas de trabalhar desse jeito, pensando em como fazer a galera ouvir o que a gente está lançando. De certa forma, é legal, porque não deixa de ser desafiador nunca”, avalia Calais.
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Para Jorge, outra mudança significativa foi a cena artística de BH, com a música autoral ganhando força. “A gente sempre teve muita referência com as grandes bandas que passaram por aqui, desde o Clube da Esquina até Pato Fu, Skank, Tianastácia e Jota Quest. Só que vivemos um gap dessa cena autoral pop rock de 2000 até 2010, que foi quando a gente iniciou”, observa.
Novos projetos
Pedro Calais destaca que a transformação do cenário musical, que já foi pop rock, agora abrange diferentes gêneros, como o rap, a eletrônica e o funk, que tem ganhado destaque com o subgênero MTG. “É uma cena muito efervescente. As coisas que saem daqui têm identidade tão forte que elas são capazes de mudar toda uma tendência do mercado", avalia o vocalista.
Sobre o futuro da Lagum, os músicos contam que recentemente inauguraram um estúdio e já têm mais de 15 músicas escritas. Os fãs podem esperar um novo álbum, então?
Calais responde: “Trabalhamos a todo vapor aqui no estúdio. Agora é ver o que a gente vai produzir e como vamos lançar. Se tudo der certo, este ano ainda teremos mais lançamentos.”