Arrigo Barnabé e banda Trisca apresentam faixas de

Arrigo Barnabé e banda Trisca apresentam faixas de "Arrigo visita Itamar", entre elas, "Tristes trópicos"

crédito: Stela Handa/Divulgação


Um dos ícones do movimento cultural Vanguarda Paulista, surgido no final dos anos 1970 e encerrado nos meados dos anos 1980, o pianista, cantor, ator e compositor Arrigo Barnabé chega às plataformas digitais com quatro das 13 faixas do álbum “Arrigo visita Itamar” (Atração): “O que tem nessa cabeça”, “Quando eu me chamar saudade”, “Fico Louco” e “Tristes trópicos”.

 


Além de Arrigo (piano), participaram das gravações Paulo Lepetit (baixo e direção musical), Marco da Costa (bateria) e Jean Trad (guitarra). Este três últimos formavam a cozinha da banda Isca de Polícia, que ganhou o nome de Trisca. Arrigo conta que a ideia do projeto surgiu quando participou como convidado de alguns shows da banda. Na oportunidade, o artista revelou a Lepetit que gostaria de fazer um trabalho, interpretando músicas do parceiro Itamar Assumpção (1949-2003).


Arrigo conta que depois de Assumpção, que chegou a fazer parte da Isca de Polícia, Lepetit encabeçou a continuação do trabalho da banda. “Volta e meia, o Paulinho me chamava para fazer alguma coisa com eles. Cheguei até a fazer letras para ele e fizemos duas parcerias. Então, vez por outra, lá estava eu participando de show com a Trisca, fazendo coisas do Itamar e algo do meu disco ‘Clara crocodilo’ (1980). Eu tocava umas três músicas no máximo. Isso já vinha desde 2011. Com o fim da pandemia de COVID-19, Paulinho me convidou para fazer um show com eles no Sesc/SP.”

 

Leia também: Ayrton Montarroyos lança "A lira do povo"

 

O convite foi aceito e Arrigo pediu ao amigo para cantar mais. “Falei com o Paulinho que queria fazer um show inteiro com eles, porque gosto de cantar com uma banda de rock e fazer só duas músicas era muito pouco”, lembra. “Ele me perguntou se queria mesmo, respondi que sim, porém com um power trio de base. Começamos a trabalhar primeiro em cima de um repertório do Itamar Assumpção, mas usando também uma canção do Nelson Cavaquinho (1911-1986), que é ‘Quando eu me chamar saudade’. Nos shows seguintes, resolvemos incluir mais músicas do Nelson e de Ataulfo Alves (1909-1969), entre outras.”


Poema de Drummond

 

Arrigo conta que o empresário Wilson Souto, da gravadora Atração, ficou entusiasmado com o show e disse que queria gravar um DVD. “Falei com o Lepetit: 'Já que é para gravar, vamos ampliar o repertório'. Tem o samba 'Pra mais ninguém' (Marisa Monte e Arnaldo Antunes) que gosto muito e queria gravá-lo. A letra dessa música dialoga com a canção ‘Dor elegante’, do Itamar e do Paulo Leminski. No final dessa música, durante os shows, declamo um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), ‘O relógio do Rosário’, que é sobre a dor também.”


O show, segundo o artista, começou a ter "a cara de um momento de dor". “Aí, colocamos mais uma música do Nelson, outra do Ataulfo, uma minha e do meu irmão Paulo, ‘Maldição’, outra minha com o Sérgio Espindola, que é ‘O sentido do samba’, e chegamos nesse resultado. Nos primeiros shows, fazia uma coisa escrevendo em um caderno, sentado a uma mesa, no centro do palco. Depois, em uma máquina de escrever, um recurso que já havia usado nos anos 1980 e ficou muito legal. Uso-a para conversar com o Itamar, como se estivesse escrevendo uma carta para ele.”


No cinema e ao piano

 

O artista conta que também está lançando o filme “O homem crocodilo”, dirigido por Rodrigo Grota. “Ele tem 84 minutos e está sendo exibido no In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, em São Paulo, até 23 de junho. "É sobre o meu processo de criação. Dentro desse festival, farei um show com a banda Sabor de Veneno. Porém, estou esperando que a gente faça muitos shows para divulgar o álbum. Por outro lado, continuo compondo, mas não tenho nenhum plano por enquanto. Nos shows toco eu e a banda Trisca. Os arranjos do disco foram feitos pelo Paulinho Lepetit”, conta Arrigo, que tocou piano em todas as faixas do disco.

 

Arrigo foi peça fundamental no movimento cultural Vanguarda Paulista, que surgiu de 1979 a 1985. “A nossa turma foi inspirada pela geração anterior, de Paulinho da Viola, Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Edu Lobo, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor. Esse panorama é que fez a gente se interessar por música popular brasileira e começar a compor, a trabalhar e a discutir, perguntar e investigar. Começamos a trabalhar em cima do que eles fizeram, porém com algum grau de ruptura. Na minha música havia uma coisa mais escandalosa, tanto na parte musical, quanto na questão da dissonância e na rítmica.”

 

Leia também: Hermeto Pascoal lança disco dedicado à mulher

 

Ruptura


Segundo ele, em relação ao compositor, produtor e professor Luiz Tatit, “era algo mais ligado ao canto falado, a fala como recurso musical.” “Eu gostava de usar locuções radiofônicas, porém a música de Itamar já tinha uma coisa meio Hélio Oiticica (1937-1980), tipo ‘Seja marginal, seja herói’, uma celebração do marginal. De certa forma, o meu álbum ‘Clara crocodilo’ também tinha essa celebração do marginal. Então, havia esses três trabalhos, além do grupo Premeditando o Breque, que também rompia bastante com a questão do humor, que era algo que tinha pouco na música brasileira. Acredito que a minha música, talvez, tivesse um grau maior de ruptura, por isso ficou um pouco menos conhecida.”


Arrigo ressalta que a música de Itamar também tinha um grau de ruptura, porém era menor, mais acessível, assim como a de Luiz Tatit. “Quando a crítica viu esse movimento surgindo, tratou logo de dar um nome para ele e assim surgiu a Vanguarda Paulista.” Para o artista, Itamar Assumpção era uma pessoa em constante aperfeiçoamento. “Ele dançava muito bem, aliás, era um cara de teatro. Ele, o irmão Narciso e a irmã Denise começaram em um grupo de teatro chamado Proteu, criado na cidade de Arapongas (PR)."


O artista lembra que a poeta, cantora e compositora paranaense Neuza Pinheiro, que também integrou a banda Isca de Polícia, foi quem ensinou Itamar Assumpção a tocar violão. “Itamar, por várias vezes, me disse que a gente já se conhecia de outras vidas e que iríamos nos encontrar de novo em uma nova vida. E ele falou isso com muita certeza”, garante Arrigo, que adianta que em 5 de julho serão lançadas mais quatro músicas e, em 9 de agosto, o álbum completo.


“ARRIGO VISITA ITAMAR”
• Disco de Arrigo Barnabé e Banda Trisca
• Atração
• 13 faixas
• Disponível nas plataformas digitais as faixas “O que tem nessa cabeça”, “Quando eu me chamar saudade”, “Fico louco” e “Triste trópicos”