Pensador mais ativo da Teoria Crítica marxista, Walter Benjamin (1892-1940) questionou o pensamento de esquerda, iluminou o perigo de uma direita radical e ponderou sobre as consequências do progresso capitalista.
De todos os autores que compartilhavam a mesma linha de pensamento (a Teoria Crítica), Benjamin era quem mais esteve ligado à luta de classes como princípio de compreensão da história e de transformação do mundo, de modo que, para ele, o materialismo histórico substituiu a ideologia de progresso.
Há, no entanto, uma faceta pouco conhecida do filósofo judeu que se matou depois de ser pego pela Gestapo: as críticas literárias que escreveu para diferentes jornais da Europa. Parte desses textos estão reunidos no livro “Walter Benjamin – Literatura”, organizado por Maria Aparecida Barbosa, pesquisadora e professora de literatura na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi ela, inclusive, quem traduziu todo o material do alemão para o português.
O livro será o ponto de partida da palestra “Resenhar é um ato social”, que Barbosa vai ministrar na Academia Mineira de Letras (AML), nesta segunda-feira (17/6). Após a fala, ela vai participar de bate-papo com o público, mediado pela também professora Sabrina Sedlmayer.
Leia também: Ricardo Aleixo é eleito para a Academia Mineira de Letras
“A gente quer mostrar um viés da produção e do pensamento de Benjamin que é voltado à literatura, às questões da leitura e às questões da tradução”, ressalta Barbosa. “Muitas dessas resenhas que ele fez são trabalhos que pensam no desmonte de uma cultura muito positivista e muito religiosa. Em alguns ensaios, Benjamin abre a possibilidade de pensarmos diferente”, acrescenta.
Exemplo disso é a resenha que ele fez sobre o livro “Bartholomé de Las Casas, père des indiens” (“Bartolomeu de Las Casas, pai dos índios”, em tradução livre), de Marcel Brion (1895-1984). A publicação, que não chegou a ser lançada no Brasil, traz a figura de Bartolomeu de Las Casas, um dos principais insurgentes contra os maus-tratos que os espanhóis infligiram nos povos originários da América Latina durante o processo de colonização.
Em outra resenha, Benjamin revela que o dramaturgo espanhol Calderón de La Barca (1600-1681) foi o eixo virtual de seu trabalho. Ainda acrescentou que, durante os séculos 17 e 18, os alemães nunca conseguiram escrever nada que se aproximasse das peças de La Barca por serem muito moralistas.
Influência feminina
“Benjamin também foi responsável por apresentar novos autores nas colunas de jornais que assinava. Tem algumas poetas alemãs daquele momento, que eram pessoas desconhecidas, como (Gertrud) Kolmar e Marieluise Fleisser”, lembra Barbosa.
As colunas de Benjamin não só apresentavam as novas autoras, mas acompanham um modo de leitura. E ainda revelam o quanto as conversas que ele entabulou com intelectuais mulheres influenciou seu pensamento.
Adrienne Monnier, poeta e livreira francesa, por exemplo, foi responsável por fazer com que Benjamin vencesse a resistência contra a reprodução técnica ao alertá-lo sobre o quão preconceituoso ele estava sendo ao dizer que achava perturbadora a ideia de que uma pessoa visse a fotografia de um objeto e pudesse falar sobre ele.
“O trabalho de Benjamin com resenhas literárias chama a atenção pela argúcia nas leituras dele, que extrapolam o texto. E essa é a sensibilidade que eu quero mostrar. Porque é basicamente ele ensinando a gente a ler”, conclui Barbosa.
“RESENHAR É UM ATO SOCIAL”
Palestra com a professora Maria Aparecida Barbosa sobre os trabalhos de Walter Benjamin com a literatura. Nesta segunda-feira (17/6), às 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466 – Lourdes). Entrada franca.