Escritas por Johann Sebastian Bach no século 18, as "Variações Goldberg" foram consideradas, até o século 19, uma das obras mais difíceis e áridas, em termos de execução e de fruição, do repertório do compositor alemão. A partir do século 20, essa percepção mudou, mas o desafio da interpretação permanece. As "Variações Goldberg" são o tema central do recital que o pianista Alberto Heller apresenta em Belo Horizonte nesta quarta-feira (19/6), às 20h, na Igreja Luterana da Paz.
O concerto de piano solo abre as comemorações pelos 200 anos de presença da Igreja Luterana no Brasil. A escolha do programa se justifica pelo fato de Bach ter nascido em família luterana e por ter trabalhado durante toda a vida em estreita relação com a igreja. Heller destaca, ainda, a adequação da música ao espaço onde será executada: "É uma obra intimista, então executá-la em uma igreja, com a acústica característica do espaço, é perfeito."
Ele conta que o convite para o recital surgiu após uma conversa com Estefano Fay, coordenador do núcleo de música da Igreja Luterana em Minas Gerais. "Comentei sobre a turnê que vou fazer em breve por cidades da Alemanha executando as 'Variações Goldberg' e ele propôs essa apresentação em Belo Horizonte", diz o músico, que nasceu na Argentina em 1971, mudou-se para o Brasil com a família quando tinha 2 anos e reside, desde 2000, em Florianópolis.
Trechos de cantatas
As "Variações Goldberg" são o tema central do recital de logo mais, mas o programa também inclui transcrições de trechos famosos de cantatas de Bach – ária da "Cantata BWV 208 – As ovelhas podem pastar seguras", abertura da "Cantata BWV 29" e coral da "Cantata BWV 147 – Jesus, alegria dos homens".
Heller destaca que são obras que têm profundo sentido religioso, o que as coloca em simbiose com o contexto em que serão apresentadas.
O recital tem duração de uma hora, da qual 45 minutos serão dedicados às "Variações Goldberg". O pianista observa que para quem se dedica a esse instrumento, a relação com a obra de Bach se estabelece logo no início dos estudos. "É um compositor basilar, obrigatório mesmo", diz, pontuando que, ainda assim, trata-se de uma obra que pode demandar uma vida inteira de aprofundamentos.
"Só nos últimos anos tenho me sentido mais à vontade para levar Bach aos palcos, porque minha relação com ele sempre foi muito íntima – é um compositor que toquei mais em casa do que diante de uma plateia em espaços de concerto. Acho que é preciso maturidade para poder executar, como os vinhos, que demandam idade e experiência para saber degustar", compara.
Desafio
O pianista chama a atenção para o caráter particularmente desafiador das "Variações Goldberg", que, conforme aponta, foram originalmente compostas para cravo com dois teclados, de forma que, adaptá-las ao piano já representa, por si só, uma dificuldade.
“É obra desafiadora também pelo tamanho, pelas relações matemáticas que se estabelecem entre as 30 variações e por questões de expressividade. Precisei estudar durante cinco anos para somente agora apresentá-la com segurança", diz.
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Instrumentista e compositor
Além de intérprete de autores como Bach, Mozart, Beethoven, Schubert e Debussy, cujas obras registrou ao longo da discografia que contabiliza 13 títulos, Alberto Heller também é compositor.
De sua lavra, destacam-se a "Sinfonia Terra" (para orquestra sinfônica, soprano, barítono e coro); o concerto "Aurora Consurgens" (para piano, violino, viola e orquestra sinfônica); "As vozes da poesia" (20 poemas de autores catarinenses musicados para coro e piano); a trilha sonora original do filme "Ensaio", da cineasta Tânia Lamarca; "lAbirintH" (11 peças para piano solo); e a ópera-rock "Frankenstein" (para solistas, coro, orquestra sinfônica e banda).
Heller também é autor dos livros "Fenomenologia da expressão musical" (2007) e "John Cage e a poética do silêncio" (2011).
"VARIAÇÕES GOLDBERG"
Recital de piano solo de Alberto Heller, executando esta peça e também trechos de cantatas de Bach. Nesta quarta-feira (19/6), às 20h, na Igreja Luterana da Paz (Rua Dona Salvadora, 37 – Serra). Contribuição voluntária sugerida: R$ 60. Entrada limitada à lotação do espaço