As quatro protagonistas de "Tudo o que você podia ser" levam para a tela "o recorte da vida como ela é", diz o diretor Ricardo Alves Jr. -  (crédito: Entrefilmes/Divulgação)

As quatro protagonistas de "Tudo o que você podia ser" levam para a tela "o recorte da vida como ela é", diz o diretor Ricardo Alves Jr.

crédito: Entrefilmes/Divulgação

 


A intensificação e virulência dos ataques à comunidade LGBTQIAP+ a partir de 2018, com a ascensão da extrema direita ao poder, motivou o diretor de cinema e teatro Ricardo Alves Jr. a filmar “Tudo o que você podia ser”, que estreia nesta quinta-feira (20/6) em salas de cerca de 20 cidades brasileiras. O longa chega ao circuito com ingressos a preços reduzidos e sessões especiais, acompanhadas de debates com a presença do diretor, atrizes e equipe de produção.

 


A obra, que transita entre o teatro e o cinema, se baseia na vida das quatro protagonistas: Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares, com reconhecida trajetória na cena teatral de Belo Horizonte. Elas interpretam a si mesmas.

 

 


“Desde o princípio, quis trabalhar na interseção entre o documentário e a ficção. Então, parte do enredo são histórias pessoais delas e parte são fabulações”, diz Alves Jr.

 

De acordo com ele, as quatro atrizes protagonizam uma história que traz novos olhares e narrativas sobre a vida de pessoas LGBTQIAP+. O público acompanha o último dia de Aisha em Belo Horizonte – a despedida se desenrola na companhia das amigas Bramma, Igui e Willa. O foco recai sobre as interações cotidianas do quarteto.

 


Apesar do hibridismo entre ficção e documentário, tudo o que se vê na tela é real, pontua Alves Jr. “O espectador 'compra' o que está se passando ali. Como se constrói essa história? Misturando as duas coisas. O que está na tela é a vida das personagens daquele filme, que são atrizes”, destaca.

 

Recorte

 

Durante as filmagens, o longa foi caminhando para a atuação realista, em termos de linguagem cinematográfica.“É quase o recorte da vida como ela é. O teatro contemporâneo também trabalha muito com atores e atrizes que trazem suas histórias, como uma biografia em cena. De alguma maneira, o filme cruza com esse tipo de teatro em que o ator criador coloca na dramaturgia sua história pessoal”, ressalta o diretor.

 


O filme explora temáticas relacionadas com a sobrevivência à intolerância e a afirmação das subjetividades em meio à dura realidade enfrentada pela comunidade LGBTQIAP+.

 

Cena do filme Tudo o que você podia ser rodada no Vaiaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte

Cena rodada no Viaduto Santa Tereza. BH também é personagem de "Tudo o que você podia ser"

Ricardo Alves Jr./Instagram

 


Alves Jr. observa que a história se abre a possibilidades futuras. “Não é só a impossibilidade de ser, a violência e o preconceito. São personagens que têm sonhos e jogam para a frente, então os sonhos podem se realizar. O filme traz as questões da comunidade LGBTQIAP+ para um lugar muito próximo de qualquer pessoa. Essa chave é importante. As quatro não precisam justificar quem são; elas são e ponto”, destaca.

 


Premiado no 25º Festival do Rio, “Tudo o que você podia ser” foi considerado o melhor filme, pelo voto do público, no último Mix Brasil e ganhou prêmio no festival argentino Espaço Queer. “Os reconhecimentos afirmam os desejos que a gente tinha de que fosse uma história com que as pessoas se identificassem, que mostrasse outra perspectiva da comunidade LGBTQIAP+”, diz o diretor.

 

Filtro da arte

 

Bramma Bremmer já havia trabalhado em curtas como atriz e roteirista. “Tudo o que você podia ser” é seu primeiro longa. Para ela, personagem e atriz são a mesma pessoa, que, no entanto, deve ser vista pelo filtro da arte.

 


“No teatro, falo muito que nós somos a obra. O filme transita no lugar do documentário ficcional, então tem a construção da personagem. Mas os movimentos, os diálogos, os sentimentos colocados ali são da atriz”, pontua.

 


A parceria com as outras protagonistas teve início entre 2013 e 2014, quando Bramma passou a acompanhar os trabalhos de Igui e Will.

 

“Em 2015, conheci a Aisha. Começamos a trabalhar juntas em 'PassAarão', com o (grupo teatral) Espanca!, 'Projeto Maravilhas' e 'Protótipo para cavalo', com atuação da Aisha e direção minha. Realizamos também o Quarta Queer, que existe até hoje. O filme é a continuação da trajetória que a gente vinha construindo no teatro”, diz.

 


Belo Horizonte é quase personagem do filme, segundo o cineasta. A partir das experiências vividas pelas quatro amigas, o longa tece retrato particular da cidade, com cenas gravadas no Aglomerado da Serra, Bonfim, Centro, Lagoinha e Santa Tereza, construindo diferentes imagens do espaço urbano.

 


“Parque de diversões”

 

“Tudo o que você podia ser” compõe, nas palavras do diretor Ricardo Alves Jr., um díptico com “Parque de diversões”, longa que estreia na próxima terça-feira (25/6), no Festival Internacional de Cinema de Marseille, na França.

 

Os dois foram filmados em sequência. Com elenco também formado por Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares, acompanhadas por artistas da cena queer, o novo filme de Alves Jr. explora o universo do cruising (encontros íntimos em locais públicos).

 

Com classificação indicativa de 18 anos, aborda o corpo e as sexualidades, tangendo voyeurismo, exibicionismo, códigos fetichistas e performances não heterocentradas.

 

“TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER”


(Brasil, 2023, 84 min., de Ricardo Alves Jr., com Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares). Em cartaz a partir desta quinta (20/6), às 20h30, na sala 2 do UNA Cine Belas Artes. Sessões na sexta (21/6), 23/6 e 25/6, às 20h30, na sala 1 do Centro Cultural Unimed-BH Minas.