"Papers!", tragicomédia espanhola sobre o drama da imigração, abre o festival às 19h, na Funarte

crédito: @josepgil/Divulgação

 

 

Este ano, o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) celebra três décadas. Para marcar esse percurso, o evento bienal oferece, a partir de hoje (20/6), programação norteada pelo tema “Teatro: patrimônio cultural – Pontes de memória”, propondo a revisão de sua própria história.

 


“Papers!”, da companhia espanhola Xarxa Teatre, dará a largada às 19h30, na Funarte, da tradicional maratona bianual das artes cênicas.

 

 


O 16º FIT-BH reúne 195 artistas em 23 espetáculos do Brasil e do exterior, com 53 apresentações em 22 espaços. Atividades formativas e lançamentos de livros fazem parte da agenda.

 


Eliane Parreiras, secretária de Cultura da capital mineira, destaca o aumento do número de espetáculos de rua, com programação descentralizada que chegará às nove regionais da cidade. Ela ressalta a importância do festival como construtor de memórias, reunindo artistas e plateias formadas em seu âmbito.

 


“A programação joga luz sobre produções de grandes nomes, como Ione de Medeiros e Eid Ribeiro, por exemplo. Trata-se de uma homenagem ao teatro de Belo Horizonte”, explica Eliane.

 


A atriz, performer, professora e gestora cultural Tina Dias, que compôs a curadoria ao lado do ator, diretor e dramaturgo Assis Benevenuto e da atriz e crítica teatral Soraya Martins, diz que o desenho curatorial buscou tratar não apenas da memória em relação às tradições e à história do FIT.

 


“Quisemos acessar subjetividades que não são colocadas tão claramente, não são partilhadas. Valorizamos as tradições, os coletivos, os mestres do teatro, mas também trabalhamos o lugar da memória que não é contada. Como trazê-la à tona? Trouxemos novas vozes, muitas culturas, múltiplos corpos e geografias”, pontua.

 

Cena da peça Ubu tropical, do grupo  da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui

"Ubu tropical", da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui traveiz, vem a BH, depois de o grupo gaúcho ter perdido a sede nas enchentes

Maira Ali Lacerda Flores/Divulgação

 

Com base nesse direcionamento, houve olhar atento tanto para expressões da América Latina (com duas companhias chilenas e espetáculo amazonense inspirado em manifestações da tradição latino-americana) quanto para a gastronomia no contexto das artes cênicas, por meio das montagens “La cocina pública” (Chile) e “O fim é uma outra coisa” (SP), com idealização e atuação da atriz Zora Santos, cozinheira e pesquisadora da culinária afro-mineira.

 


“Havia o desejo de reforçar o entendimento do Brasil como país latino-americano. No início, não tínhamos verba para trazer espetáculos internacionais, mas conseguimos parcerias. A questão da culinária veio depois que assisti a “La cocina pública” e fiquei muito entusiasmada, porque envolve a comunidade. O espetáculo da Zora é uma grande experiência sensorial, performativa e gastronômica”, destaca Tina.

 

Resistência gaúcha

 


A curadora chama a atenção para “Ubu tropical”, do grupo gaúcho Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, uma das mais antigas companhias de teatro de rua do país. “Vai ser um momento marcante, até pelo contexto que estão vivendo no Rio Grande do Sul – perderam a sede, que foi inundada. Não sabíamos nem se eles teriam aeroporto para sair de lá”, comenta Tina.

 

Atrizes vestidas com vestidos brancos durante a peça "Vestido de noiva"

Grupo Officina Multimédia vai encenar "Vestido de noiva" no domingo (23/6), às 20h30, no CCBB-BH, com ingressos a R$ 30 e R$ 15

Netun Lima/divulgação

 


Convidada especial, a diretora Ione de Medeiros, há mais de 40 anos à frente do Grupo Oficcina Multimédia (GOM), lembra que a trupe participa do festival desde as primeiras edições.

 

“No início, não tínhamos o texto como prioridade. Era, de fato, teatro multimédia, com projeções, dança, instalações, música, e o FIT-BH abriu para que fôssemos incluídos. Fico muito feliz de fazer parte dessa história”, ressalta.

 


Ione elogia o festival. “É difícil, hoje em dia, dar continuidade a um tipo de trabalho como o que desenvolvemos. Estar atualizado com seu tempo significa também resgatar o que já foi feito e, passados os anos, continua sendo feito”, diz, aludindo ao prêmio APCA conquistado por “Vestido de noiva”, peça de Nelson Rodrigues que o GOM apresentará no FIT-BH.

 

Tradição garantida

 

Esta noite, na Funarte, a abertura do FIT-BH seguirá a tradição de edições passadas, em que artistas e público se encontram nas ruas com produções de forte apelo visual.

 

A montagem performativa e imagética espanhola “Papers!” propõe reflexões a partir de cenas que transitam entre o absurdo e o real. Na trama, imigrantes chegam a um novo país, mas têm as esperanças frustradas por imposições da sociedade. O espetáculo soma tragicomédia, sarcasmo e humor.

 


16º FIT-BH


Desta quinta-feira (20/6) até 30/6. Abertura hoje, às 19h, na Funarte (Rua Januária, 68, Centro), com entrada franca. Espetáculos de rua, residências artísticas, oficinas, rodas de conversa e lançamentos de livros têm acesso gratuito. Ingressos para peças em teatros custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Programação completa: www.portalbelohorizonte.com.br/fit