"Pulmão da mina", instalação de Luana Vitra, remete às dinâmicas da atividade mineratória e a traumas do passado escravista de minas gerais

crédito: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo

 


Até setembro, o Palácio das Artes recebe a itinerância da 35ª Bienal de São Paulo. Obras de mais de 20 artistas e coletivos brasileiros e internacionais ocupam quatro galerias e o hall de entrada do complexo cultural. A abertura da exposição ocorre nesta quinta (20/6), às 19h, e conta com apresentação do grupo fluminense de percussão Tambores de Aço.

 


Com o tema “Coreografias do impossível”, a Bienal usa a arte para discutir questões políticas e sociais e retratar as vivências diversas de cada autor.

 

 


“Coreografar o impossível significa desenhar um cenário mais favorável às mulheres, às pessoas negras e aos povos originários. A Bienal traz pautas urgentes e tenta reparar o que por muito tempo na arte contemporânea foi desigual, ao se pensar nos espaços em museus e instituições que sempre foram dedicados aos homens brancos”, diz Uiara Azevedo, gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado.

 

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A afromineiridade é destaque entre as temáticas das obras expostas. Artistas negros e oriundos de Minas Gerais – entre eles, Sonia Gomes, Eustáquio Neves e Luana Vitra – discutem temas como raça, identidade, gênero e território, por meio de vários aparatos.

 


“Os artistas são de gerações diferentes e usam suportes diferentes, mas todos trabalham especialmente a questão das suas raízes mineiras e identidade como pessoas negras”, afirma Uiara.

 

Minas de Ouro Preto

 


Natural de Contagem, mas com parentes em Ouro Preto, Luana Vitra ouvia histórias de como a mineração se dava no século 19. Era comum mineradores africanos trazidos à força para o Brasil levarem canários aos lugares de extração para monitorar o nível de gases tóxicos. Mais frágeis às mudanças no ambiente, os pássaros morriam primeiro. Dessa forma os trabalhadores poderiam escapar das minas antes de também se intoxicarem.

 


“Na cosmologia indígena do Brasil, muitos povos pensam que os metais não devem ser extraídos da terra porque fazem parte da estrutura do nosso planeta. Já em uma perspectiva centro-africana, por exemplo, a mineração poderia ocorrer, mas sempre tendo em mente o equilíbrio entre os reinos animal, vegetal e mineral. Dessa forma, ‘Pulmão da mina’ aborda a dinâmica da exploração da terra e as consequências que essa ação tem gerado para nós”, detalha Luana Vitra.

 

 


Ferro, cobre, prata e pó de anil são alguns dos materiais usados na instalação por Luana. Canários feitos de prata e cobre estão na mira de flechas pontiagudas, representando, conforme a artista, “os mineradores que estavam sempre no limite da possibilidade de continuar vivos ou morrer”.

 


Luana Vitra revela a forte influência do estado natal em seu trabalho. “Minas Gerais é o ponto de partida de todas as minhas obras. Para mim, o fato de ter crescido em Minas foi o que me possibilitou compreender o mundo e os metais da maneira como compreendo hoje”, afirma.

 


“ITINERÂNCIA DA BIENAL DE SÃO PAULO EM BH”


Em quatro galerias e no hall de entrada do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Até 15 de setembro, de terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingos, das 17h às 21h. Entrada franca.


* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro