O ator Oscar Martínez, que trabalhou com Mariano Cohn e Gastón Duprat no longa

O ator Oscar Martínez, que trabalhou com Mariano Cohn e Gastón Duprat no longa "O cidadão ilustre", protagoniza a série, disponível no Star+

crédito: STAR/DIVULGAÇÃO

 

Na disputa pelo cargo de direção do Museu Ibero-Americana de Arte Moderna de Madri, Antonio Dumas logo percebe que não tem a menor chance. Como ele próprio se define, é homem, velho, branco, heterossexual e de ascendência europeia. Um contraponto e tanto para suas duas colegas no concurso, ambas jovens: uma é de origem africana e a outra representa a cultura alternativa.

 


À banca que vai definir o novo gestor, Dumas diz que qualquer uma das duas será um nome mais adequado aos tempos atuais. Escolhê-lo seria um risco, optar por uma delas seria conservador. Não é preciso ir mais adiante para dizer que foi ele o vencedor. É desta maneira que tem início “O museu”, comédia espanhola disponível no Star+.

 


Os nomes por trás da produção são argentinos. A dupla Mariano Cohn e Gastón Duprat, também responsável por outras boas séries do gênero – “Nada”, “Meu querido zelador”, “O agente de futebol”, todas disponíveis na mesma plataforma – convidou o conterrâneo Oscar Martínez para estrelar a série. Os três ganharam mundo, vale dizer, com o ótimo filme “O cidadão ilustre” (2016).

 


A toada aqui é discutir o politicamente correto com muita ironia. Ao alcançar o posto, Dumas não vai tardar a descobrir que ganhou um presente de grego. A gestão pública demanda muito jogo de cintura. Ele terá que lidar com favores pessoais, conflitos sindicais, egos, morosidade do sistema. Tem que fazer política, coisa que não está acostumado. E o veterano historiador é também cínico, vaidoso e reservado (seu único amigo, Borges, é um gato). Ou seja, passará por poucas e boas.

 


Opostos

Para lidar com o dia a dia da instituição, o personagem terá uma fiel secretária, um curador jovem e vítima dos modismos e sua superior, a Ministra da Cultura, em uma relação enervante, pois os dois são diametralmente opostos.

 


Cada episódio segue um problema diferente no museu. Que pode ser um artista idoso e medíocre que ocupa a galeria principal da instituição porque é amigo pessoal da ministra; uma mostra coletiva com jovens artistas absolutamente sem noção (uma das obras vai virar um caso quase de saúde pública); e uma residência artística, que leva um grupo de africanos para uma performance que se revela outra coisa.

 


Um ataque a uma escultura que está na porta do museu tem um arco maior, com o caso só se resolvendo ao final da série. Por meio desta narrativa, a produção acaba tocando em assuntos que vão muito além do mundo da arte, fazendo um retrato da complexa realidade social nos dias de hoje. Há boas piadas, mas algumas situações são previsíveis. Mesmo assim, muito acima da média dentro da produção atual.

 


A exemplo de outras séries da dupla, “O museu” traz episódios curtos, com pouco mais de 20 minutos. E o tom agridoce da meia dúzia de episódios deixa o espectador com vontade de mais.

 


“O MUSEU”
• A série, em seis episódios, está disponível no Star+. A partir da próxima quarta (26/6), esta produção, como todo o conteúdo da plataforma, vai migrar para o Disney+.