Mascarados do grupo amazonense Panorando dialogam com criaturas da cultura popular do Chile e dos Andes peruanos na peça "As cores da América Latina" -  (crédito: Bento Clicks/divulgação)

Mascarados do grupo amazonense Panorando dialogam com criaturas da cultura popular do Chile e dos Andes peruanos na peça "As cores da América Latina"

crédito: Bento Clicks/divulgação

Ele é feio mesmo, daqueles de dar medo – quanto mais grotesca a máscara, melhor. Geralmente, usa macacão largo e bem colorido. Nas mãos, uma varinha e uma boneca. Bem-vindo ao universo do Fofão, o personagem mais tradicional do carnaval de São Luís. Muito popular até meados do século 20, ele saiu gradativamente de cena, mas ainda se faz presente na folia maranhense como símbolo de resistência.

 

Com estreia neste domingo (23/6) no Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), o espetáculo “As cores da América Latina”, do grupo amazonense Panorando Cia. e Produtora, coloca o personagem como o último Fofão da Terra.

 

 

Nesta montagem com dramaturgia, mas sem texto, cinco atores bailarinos apresentam uma grande metáfora sobre o esquecimento. Até terça-feira (25/6), serão três apresentações no FIT-BH – a de hoje na Praça Geralda Damata Pimentel, na Pampulha, começa às 17h30.


Prêmio Shell

 

Quinta montagem do grupo criado em Manaus em 2016 por recém-formados em dança e teatro, “As cores da América Latina” foi eleito, em março último, Destaque nacional do 34º Prêmio Shell. Estreou há um ano no festival Amazônia Encena na Rua, em Porto Velho, Rondônia.

 

Foi um marco, afirma o diretor Fábio Moura, pernambucano radicado no Amazonas há 12 anos. O grupo vem viajando pelo Brasil com o espetáculo. Chegou ontem a BH depois de se apresentar na quinta-feira (20/6) em Alta Floresta, no Mato Grosso. Em maio, o Panorando estreou em Minas Gerais, no Festival de Teatro de Itabirito.

 

Ainda que seja o Fofão a conduzir o espetáculo, “As cores da América Latina” partiu de três manifestações de diferentes países. A primeira é a Fiesta de la Tirana, celebração religiosa anual que ocorre em julho no povoado La Tirana, no deserto chileno. Milhares de pessoas vão para o local. As festas são cheias de bailados.

 

Dos Andes peruanos vem a Huaconada, realizada nos primeiros dias de janeiro com homens mascarados, os huacones. Em 2010, foi proclamada, pela Unesco, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Já do Brasil, da Zona da Mata pernambucana (e também da Paraíba), vem o Cavalo-marinho, folguedo que mistura música, dança e poesia, com 76 personagens. Em todas as três manifestações há participantes usando máscaras.

 

 

Na fronteira entre o teatro e a dança, “As cores da América Latina” busca trabalhar tanto as diferenças entre as manifestações quanto os pontos que as unem. “Nós as escolhemos principalmente porque são festas e festejos que acontecem no ambiente não convencional, ou seja, nas ruas, em terreiros, zonas rurais. Embora já tenhamos feito apresentações no palco italiano, a montagem funciona muito bem na rua”, explica Fábio Moura.

 

As manifestações tratam da relação entre o sagrado e o profano. “E tem o jogo do brincante, que acaba ressignificando o corpo do ator bailarino”, continua o diretor.

 

Dos cinco espetáculos no repertório do grupo, este é o que mais busca “a fricção entre a dança e o teatro”, diz Moura. “Nos primeiros projetos, trabalhamos o teatro e a dança separadamente. A partir do terceiro espetáculo (‘Jamais fomos modernos’, de 2019), começamos a trabalhar na fronteira entre eles”. 

 

Livros no FIT

 

Serão lançados dois livros neste domingo (23/6), a partir das 16h30, no CentroeQuatro (Praça Rui Barbosa, 104, Centro).“Horizonte da cena: Uma década de crítica coletiva” (Letramento) foi organizado por Clóvis Domingos, Felipe Cordeiro, Julia Guimarães e Luciana Romagnolli a partir da produção do site de mesmo nome.

 

O outro livro, da coleção “Arte & teoria” (Relicário), reúne entrevistas de Pedro Kalil com Ione de Medeiros, Leda Maria Martins, Leo Pyrata, Marta Neves, Sara Rojo e Sérgio Pererê. Ambos serão vendidos na banca do FIT no local.


"AS CORES DA AMÉRICA LATINA"


Espetáculo da Panorando Cia. e Produtora (AM). Neste domingo (23/6), às 17h30, na Praça Geralda Damata Pimentel, na Pampulha. Segunda-feira (24/6), às 18h, no Centro Cultural Padre Eustáquio (Rua Jacutinga, 550, Padre Eustáquio. Terça (25/6), às 19h, no Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal, Avenida Afonso Pena, 1.321, Centro). Entrada franca.