Washington Silvestre vende versos, pipoca e quitutes na frente do Centro Cultural Banco do Brasil
 -  (crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Washington Silvestre vende versos, pipoca e quitutes na frente do Centro Cultural Banco do Brasil

crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

 

 

O CCBB-BH, na Praça da Liberdade, é um dos principais pontos do turismo cultural da capital. Bem em frente a seu prédio histórico, encontra-se um carrinho de pipoca, que não sai dali há 11 anos.
Equipado com o radinho que amplifica o canto de grandes sambistas, é comandado por um homem com correntes e anéis dourados, que vende quitutes e recita poemas sobre a história de sua vida. Este pipoqueiro poeta se chama Washington Silvestre. Tem 50 anos, também é compositor.

 


Silvestre lançou “Pipocando versos”, livro de poemas. “Escrevo todos os dias, porque escrever significa viver. Escrever me faz existir, ser. É um meio de ver as coisas. Nada passa despercebido pelos meus olhos. O escritor é observador, às vezes ele escreve o que nem vê”, afirma.

 

 


Tudo começou em 1989. “Comecei a escrever porque tive uma desilusão com futebol”, conta, dizendo que não havia condições de levar adiante o sonho com os gramados. “Comecei a perceber que gostava muito de ler. Quando notei que também tinha facilidade para escrever, comecei a fazer meus poemas e a guardar todas as minhas coisas”, relembra.

 


Silvestre diz que seus poemas relatam a dor dos menos favorecidos. “Uma professora me incentivou muito. Sou muito grato a ela, porque pude começar a construir meu senso crítico a partir da leitura de 'Mein kampf', de Adolf Hitler, 'Diário de Anne Frank' e 'O capital', de Karl Marx.”

 


Em 2013, ele se apaixonou pela Praça da Liberdade. Ajudou o primo a instalar luzes de Natal por lá e decidiu levar seu carrinho de pipoca para o passeio em frente ao recém-inaugurado Centro Cultural Banco do Brasil.

 

O peregrino de 10 anos

 

A vida foi difícil. De família humilde, conta que saiu da casa da mãe aos 10 anos. Morou na rua nos quatro anos seguintes. O poeta se define-se como “peregrino” ao comentar aquela época.
O poema favorito,“Samba do desabafo”, fala de superação, o mantra da vida de Silvestre: “No dia que você me vir passar/ não abaixe a cabeça/ olhe e veja que a sarjeta/ não foi feita para mim”.

 


A contracapa de “Pipocando versos” é autobiográfica. “Não fiz faculdade ou graduação, o que aprendi, aprendi na vida e pela leitura. O mundo foi meu professor e aprendi seu sentido, assim como apreciar e amar a vida um pouco tarde”, narra o autor. “Depois de muito sofrer, percebi que a vida é maravilhosa. Fui obrigado pela minha mãe a ler muito cedo. Gaguejava muito e os vizinhos e amigos orientaram meus pais a me darem sustos, jogar água e até fazer simpatias”, revela.

 


Nada disso adiantou. A mãe, então, fez o menino ler e cantar. “Assim, minha gagueira diminuiu, porque até hoje gaguejo, mas adquiri o maravilhoso hábito da leitura. Essa atitude de minha mãe nunca vou esquecer, porque foi por meio da leitura que em mim nasceu o dom de Deus e me tornei poeta”, prossegue Washington.

 

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Atualmente, ele se concentra na música. Planeja levar uma letra sua ao Rio de Janeiro para tentar emplacar o samba-enredo da Mangueira no carnaval de 2025. Está um pouco desiludido com a literatura. Diz que chegou a publicar seu livro por uma editora, mas enfrentou o descumprimento do contrato e acionou a Justiça. Autor independente, prefere vendê-lo junto às pipocas.

 


“Não bebo, não fumo, não uso droga. Tudo que quero é almejar o dom que tenho. Erros na publicação do livro me chatearam, mas vou continuar escrevendo”, garante.

 


“Pipocando versos” pode ser adquirido por R$ 50 no carrinho em frente ao CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). O próximo título, previsto para 2025, vai se chamar “Andarilho dos versos”. Quem adquirir o primeiro livro de Silvestre terá desconto no segundo. 

 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria