Nos discos

Nos discos "Be$t $eller 1" e "2", Coyote Beatz gravou bases e instrumentações que chamam a atenção para o rap criado em BH

crédito: Iulle/divulgação

 

 

Paulo Alexandre Almeida Santos, o Coyote Beatz, é um dos arquitetos da música mineira que vem chamando a atenção do Brasil. Batidas criativas, samples vindos das raridades de seu baú de LPs e suas instrumentações inspiradas remetem ao famoso gosto de Minas pela melodia.



O rap do aclamado Djonga leva a assinatura do beatmaker Coyote – parceria de uma década. FBC, outro destaque do hip hop nacional, é velho companheiro, assim como a dupla Hot & Oreia e a MC Clara Lima. Fora de Minas, Emicida, Baco Exu do Blues, Tropkillaz e Rashid trabalharam com ele.

 


Fiel ao mandamento da cultura hip hop de compartilhar conhecimento, Coyote acaba de lançar “Be$t $eller 2” (ONErpm), álbum com instrumentais e batidas criados para Djonga, presentes nos discos dele desde o inaugural “Fechando o corpo” (2015).

 


“É uma forma legal de ajudar a galera que está começando”, diz Coyote, oferecendo material prontinho para ser usado por quem deseja ensaiar métrica, treinar free style (versos improvisados na hora) ou testar scratchs (sonoridade obtida por meio da fricção da agulha no vinil).

 

 

O desejo do experiente produtor de BH, de 35 anos, que fez seu primeiro beat aos 17, é estimular jovens criadores. “Be$t $eller 2” está aberto a qualquer tipo de experiência. “Pode usar à vontade”, convida Coyote.


Hits e lado B

 

Em 2020, o primeiro “Be$t $eller” – presente de aniversário para Djonga – trouxe bases de “Esquimó”, “Junho de 94”, “Leal” e “Hat-trick”, entre outros hits. O volume 2 destaca o repertório “lado B” do rapper. É outro presente para o geminiano, que virou trintão no último 4 de junho.


Os dois rodam o mundo: DJ Coyote é o fidelíssimo escudeiro do rapper nos palcos. Foi-se o tempo da “ralação”, dos perrengues com promotores de shows relutantes em pagar cachê. A dupla tocou em praticamente todos os festivais importantes do país em 2023, vai se apresentar no Rock in Rio em setembro, fez turnê europeia no ano passado e prepara as malas para temporada nos EUA, com direito a gravação de clipe em Nova York.

 

Veja Coyote e Djonga em "Hoje não":

 

 


“Sem Coyote, não tem Djonga”, resume o rapper, afirmando que o “irmão e companheiro” o acompanha desde 2014 e gravou seu primeiro EP recebendo apenas camaradagem em troca. A relação dos dois é baseada na colaboração, “sem o me paga, me dá”, diz Djonga.

 

“É o cara que acreditou em mim e em outros artistas”, ressalta, observando que o beatmaker, produtor e DJ “é um dos artistas mais importantes da cena da música brasileira – não só do rap”.

 

 

 


“Hip hop raiz”, Coyote é defensor apaixonado do vinil. “A música está ali, desde ver a capa do disco, de botar a agulha até achar o ponto da faixa. É muito diferente de apertar o play diante de uma tela”, compara. E também destaca outro forte componente visual da cultura: os grafites. Vide a capa do novo álbum dele. A ilustração de Benson mostra Djonga na sala da casa de Coyote, em BH, os dois trabalhando.

 

Confira a DV Tribo em ação:

 

 

 

Tribo de talentos

 

Esta história passa pelo coletivo DV Tribo, que atraiu o radar nacional para BH. Formado em 2015 por Coyote, Djonga, Clara Lima, FBC, Hot e Oreia, o grupo reuniu a moçada disposta a se superar compartilhando rimas, poesia, beats e flows. Durante três anos, o DV provou ao Brasil que rap não é monopólio do eixo Rio-SP.

 


“Ele é o nosso grande professor”, diz FBC. “Coyote é uma enciclopédia, a nossa discopédia”, afirma, observando que ele sabe tudo de equipamentos e discos antigos, assim como das novidades tecnológicas e musicais.

 

 

 


Para Coyote, o diferencial do rap de BH vem da “cena original da cidade”, onde se conectam de maneira especial DJs, dançarinos, grafiteiros, instrumental. “Isso aparece muito no som que a gente faz.”

 


O “segredo” dos samples e de suas famosas instrumentações ele não conta. Mas dá spoiler: trilhas de antigas novelas e de filmes, música brasileira dos 70 e “coisas de Minas”, além de “muito lado B”. Guarda 3 mil discos em casa e no estúdio.

 

Confira a parceria de Coyote Beatz com Baco Exu do Blues:

 


Em família

 

Criado no Bairro Santa Tereza, Paulo Alexandre é filho de Alexandre Dota, que tinha a banda de punk rock Os Contras. Pequenininho, já tocava bateria. Estudante do Instituto de Educação, certa vez levou para a escola as panelas da mãe e deu show para os colegas. Tem skate no sangue, como o pai e os irmãos, os atletas profissionais Jefferson Bill e Hugo Blender. Dota é um dos pioneiros do esporte em BH.

 


Atualmente, além de se apresentar com Djonga e produzir as próximas inéditas do rapper, Coyote trabalha nos novos álbuns de FBC, Hot & Oreia e Clara Lima. Recebeu em BH o americano Shadow, para outro disco. Planeja rodar um curta em parceria com Túlio Cipó e o álbum autoral “Trilha”.

 


Casado com Iulle, tem duas filhas: Brisa, de 10 anos, e Ísis, de 2. A caçula, pelo jeito, tem rap no sangue. Pois não é que a baixinha já faz seus beats na MPC do pai?

 

Desenho de Benson mostra Coyote Beatz e Djonga trabalhando na sala de um apartamento

Benson desenhou Coyote Beatz e Djonga trabalhando na sala do beatmaker, em BH

Benson/reprodução

 


“BE$T $ELLER II”
• De Coyote Beatz
• OneRPM
• 10 faixas
• Disponível nas plataformas digitais