A benzeção e as ervas medicinais estão entre os temas da exposição "Vivências: um encontro com a nossa essência", destaque da mostra
 -  (crédito:  Kika Antunes/divulgação)

A benzeção e as ervas medicinais estão entre os temas da exposição

crédito: Kika Antunes/divulgação

Ao longo de quase dois anos, a partir de setembro de 2022, a organização social Grupo Cultural Meninas de Sinhá desenvolveu o projeto Semeando Saberes Ancestrais, voltado para mulheres com mais de 50 anos, de localidades como Jequitinhonha, Serra das Araras, Jequitibá, Carapicuíba, Sabará e também de Belo Horizonte. A iniciativa consistiu na realização de oficinas e vivências conectando o rural e o urbano a partir de tradições, costumes e fazeres que atravessam gerações.

 
Os resultados desse projeto serão apresentados ao público neste sábado (29/6), por meio da Mostra Saberes Ancestrais, cuja programação inclui show, cortejo, barraquinhas, espaço para crianças, lançamento de livro e outras atividades na Rua Fernão Dias, em frente à sede do Grupo Meninas de Sinhá, no Alto Vera Cruz. Um dos destaques é a exposição "Vivências: um encontro com a nossa essência", que reúne os trabalhos resultantes das atividades que envolveram as mulheres participantes.

 

 

Outro é o show que as próprias Meninas de Sinhá apresentam em companhia das mulheres vindas de cidades do interior, com repertório composto por músicas do cancioneiro popular de cada uma das regiões. O grupo Meninas de Sinhá, que tem 27 anos de atuação e reúne moradoras do Alto Vera Cruz e do Taquaril na faixa etária entre 61 e 88 anos, também vai apresentar temas compostos por suas integrantes que se relacionam com a ancestralidade.


Cantigas populares

 

 

Diretora de criação das vivências promovidas no âmbito do projeto, Viviane Fortes explica que as atividades, conectadas por vários temas, foram permeadas por cantorias. "Tivemos as Cantadeiras do Souza, as Mulheres do Jequitinhonha, as Rendeiras da Aldeia e outras participantes vindas de diferentes regiões do estado. Essas mulheres trazem em sua formação as cantigas de jogar verso, as cantigas da terra e as danças. Escolhemos um repertório que elas gostariam de compartilhar com o público", diz.

 

 

Viviane destaca que são canções que também se relacionam com a ancestralidade. "Pretinha, que é uma das integrantes das Meninas de Sinhá, trouxe a música que ela fez quando era criança para Iemanjá. As outras mulheres se abriram para acolher esse lugar, que é de respeito às diferentes crenças. Virgínia, que veio de Januária, fez uma cantiga para São Gonçalo, que é tradicionalmente celebrado na terra dela", exemplifica. "Esse show, é como se fosse uma síntese do que a gente viveu pela perspectiva da música", acrescenta.

 

 

Sobre a exposição, ela diz que temas como parto, benzeção, ervas medicinais, fé, reinado, algodão, terra, bordado e bonecas de pano, entre outros, foram o ponto de partida para a realização dos trabalhos que a compõem. Viviane observa que, assim como a música, essa produção também é uma síntese das vivências. Ela destaca que 13 diferentes núcleos, relacionados aos temas propostos, integram a mostra.

 

mulheres bordando com a foto do grupo meninas de sinhá ao fundo

O Projeto Semeando Saberes Ancestrais trabalhou com mulheres que têm mais de 50 anos. Uma das atividades é a arte do bordado

Kika Antunes/divulgação

 

Terra e algodão

 

"Foram temas trazidos pelas próprias mulheres. A terra, por exemplo, é algo muito forte na vida delas, então fizemos tinta com diferentes tonalidades terrosas, pintamos a sede do grupo, pintamos tecidos e fizemos um forno de barro. Esse é um dos núcleos", diz. Outro é organizado em torno do algodão, conforme aponta. Ela explica que o algodão é uma "semente fêmea" e que o chá feito a partir dela é anti-inflamatório e bom para gestantes e para banho de assento. "O algodão também se presta para a fiação", diz.

 

Ela chama a atenção, ainda, para o núcleo que conjuga o bordado e as bonecas de pano. Viviane diz que essa seção da mostra expõe todo o percurso, desde os desenhos feitos com carvão, passando pela pintura, o colorismo, até chegar aos bordados que enfeitam os vestidos das bonecas de pano feitas pelas participantes do projeto. "Foi uma experiência linda, teve um batizado das bonecas, que representam suas próprias criadoras. Elas se divertiram muito."

 

Registro em livro

 

Outro produto cultural gerado a partir da troca de conhecimentos ancestrais do projeto foi o livro "Vivências – Semeando saberes ancestrais", que traz registros e relatos de cada encontro, com texto de Letícia Bertelli e fotos de Kika Antunes, Beto Eterovick e Guto Muniz.

 

Diretora de criação das vivências promovidas no âmbito do projeto, Viviane Fortes diz que ele foi construído ao longo do processo e será lançado durante a mostra, neste sábado (29/6), além de ser disponibilizado no site do projeto Semeando Saberes Ancestrais

 

MOSTRA SABERES ANCESTRAIS


Com Meninas de Sinhá e outros grupos, neste sábado (29/6), das 13h30 às 18h, na Rua Fernão Dias, 3.313, Alto Vera Cruz. A exposição "Vivências: um encontro com a nossa essência" fica em cartaz na sede do grupo até 27 de julho. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 16h, e aos sábados, das 9h às 12h. Agendamento para grupos: (31) 3191- 1901. Entrada gratuita.