Carlos Herculano Lopes (ao centro) na foto oficial com os integrantes da Academia Mineira de Letras -  (crédito: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Carlos Herculano Lopes (ao centro) na foto oficial com os integrantes da Academia Mineira de Letras

crédito: Marcos Vieira/EM/D.A Press

 

 

“Estarei, na companhia dos meus confrades, que acreditaram em mim e me estenderam as mãos, manejando o arado em uma terra firme e bem adubada, na qual iremos lançar sementes de qualidade, na esperança de poder colher uma boa safra de palavras, ideias e livros”, afirmou o jornalista e escritor Carlos Herculano Lopes, de 67 anos, ao tomar posse da cadeira nº 37 da Academia Mineira de Letras (AML), nesta sexta-feira (28/6) à noite, sucedendo a Olavo Romano (1938-2023). A casa estava lotada.

 


No discurso, o novo acadêmico relembrou seu primeiro contato com a AML, onde fora entrevistar, como repórter do Estado de Minas, o então presidente Vivaldi Moreira. Na sede da Rua dos Carijós, o imortal o recebeu com elegante terno azul-claro, gravata “perfeitamente ajustada” e nos pés um modesto par de Conga.


“Achei ótimo, uma coisa transgressora, ainda mais pelos tempos bicudos em que estávamos vivendo, em plena ditadura militar”, contou Herculano, espantado com o calçado de Vivaldi. Ao “foca inexperiente e tímido”, o presidente da AML revelou que a Conga o ajudava a subir e descer escadas. “É bem mais confortável do que sapatos de couro”, explicou.

 

 

Graciosa aldeia



Carlos Herculano enfatizou sua origem “de gente simples e trabalhadora, oriunda do Vale do Jequitinhonha”; prestou tributo à terra natal, Coluna, “minha mui doce e graciosa aldeia”; homenageou os pais, Herculano e Iracema; a mulher, a médica Adrianne Sette; e os irmãos.

 


Leide, irmã do escritor, leu o poema “O caso do vestido”, de Carlos Drummond de Andrade, inspiração para “O vestido”, romance publicado há 20 anos por Herculano e adaptado para o cinema pelo diretor Paulo Thiago.

 


O novo imortal relembrou a mudança para BH, aos 11 anos, e os estudos no Colégio Arnaldo. Conhecido pela multidão de amigos, citou o antecessor Olavo Romano, dezenas de acadêmicos, colegas escritores de sua geração, além de companheiros no jornalismo.

 


Também homenageou pessoas que o acolheram ao longo da vida, destacando as primeiras professoras em Coluna, Nilza Maria de Oliveira e Semírames Alcântara de Oliveira – esta última presente à cerimônia.

 

Carlos Herculano com o diploma da AML ao lado da escritora e acadêmica Maria Esther Maciel

Carlos Herculano Lopes recebeu o diploma da AML das mãos da escritora e acadêmica Maria Esther Maciel

Marcos Vieira/EM/D.A Press

 


O presidente da AML, Jacyntho Lins Brandão, lembrou que Carlos Herculano e os demais ocupantes da cadeira 37 vieram do interior e iniciaram carreira no jornalismo. “Você chega como filho do Vale do Rio Doce, dessa famosa e que você torna mítica cidade de Coluna. Você é representante dos vales do Mucuri e Jequitinhonha na cadeira 37 e primeiro romancista, gênero não praticado por seus antecessores”, observou Brandão.

 

O novo acadêmico foi saudado pelo confrade Luís Giffoni, ao lembrar o celeiro de escritores e intelectuais em que o Estado de Minas se transformou. Além de Herculano, trabalharam no jornal Roberto Drummond, Wander Piroli, André Carvalho, Jorge Fernando dos Santos, João Paulo Cunha, Carlos Felipe e Geraldo Magalhães, listou.


Mesa de bar

 

Ao elogiar o amigo “Carlinhos”, Giffoni destacou o número de pessoas presentes na cerimônia de hoje na sede da AML. “Também pudera, com sua simplicidade, conquista admiradores por onde anda, não importa se o ambiente é sofisticado ou não. Nos auditórios, fala de sua literatura com a mesma facilidade com que conversa numa mesa de bar.” E completou: “Esta casa é sua, Carlos”.

 


O jornalista e escritor Carlos Herculano Lopes publicou 15 livros, entre romances, crônicas e contos, vários deles premiados. Por 14 anos, assinou coluna semanal no EM, jornal em que trabalhou de 1979 a 2015.