Em março de 2016, o grupo de dança contemporânea Primeiro Ato vinha em uma sequência de estreias. Em seis meses, montou três espetáculos inéditos: “Três luas”, “Passagem” e “Terreiro”. Esse último, no entanto, contava com certas singularidades. A coreografia misturava referências da dança de rua e rituais ligados à religiosidade mineira (principalmente, o congado e o reinado), e os bailarinos, além de dançar, também cantavam.

 
Não houve registros em vídeo da performance na íntegra, de modo que “Terreiro” seria lembrado apenas pelos registros jornalísticos e eventuais fotos capturadas na ocasião. Contudo, em 2023, com recursos viabilizados pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, a companhia de dança voltou ao espetáculo com a finalidade de gravar a apresentação. Dessa vez, a montagem foi no espaço da Romaria, em Congonhas.

 




O filme da performance será lançado e exibido na Terça da Dança, hoje (4/6), no Teatro Marília. Na ocasião, a diretora do Primeiro Ato, Suely Machado, e bailarinos da companhia participarão de conversa sobre o espetáculo.


“Uma performance que traz essa força ancestral, como é 'Terreiro', não poderia se perder, ficar à disposição somente das pessoas que estiveram conosco na estreia do espetáculo”, diz Suely. Por isso, a decisão de gravá-la, justifica a diretora do grupo. “É uma forma de deixar um registro documental. Afinal, temos tão poucos registros no campo das artes”, acrescenta.


Com coreografia assinada por Suely Machado em parceria com João Paulo Gross e Titane, “Terreiro” faz um pas-de-deux entre a dança contemporânea e as manifestações afro-religiosas que Minas Gerais herdou dos povos africanos. O figurino dos bailarinos, carregado nas cores, sugere a ideia de que o público vê no palco um retrato do Brasil, com seu povo diversificado, cujas crenças e devoções variadas desaguam numa ampla e única sociedade.


Em “Terreiro”, no entanto, congado e reinado não podem ser vistos a partir da perspectiva religiosa. O espetáculo procede do aspecto cultural de tais manifestações englobando sagrado e profano, práticas que chegam a ser típicas dessas festas.


Devoção e festejos

 

“Por isso o nome ‘Terreiro’. Porque remete a esse lugar que é o quintal de casa, lugar em que se coloca o pé no chão, lugar de devoção e festejos. E também lugar da sexualidade, porque a gente sabe que, nessas festas, sempre tem um casal que se afasta do grupo, vai para um cantinho atrás da casa para fazer aquilo que a gente sabe”, ressalta Suely.


A trilha sonora, assinada por Titane, também exprime essa ideia. Melodias de Ivan Vilela, Pereira da Viola e Juçara Marçal se misturam ao improviso vocal da própria Titane remetendo à ideia de ancestralidade.


“Ivan, Pereira da Viola e Juçara são músicos que têm um vigor e uma potência muito fortes”, destaca Titane. “Aliado ao movimento dos bailarinos, essa sonoridade remete não só a ideia de ancestralidade, do início do mundo, mas também do fim do mundo. Porque, quando mexemos com ancestralidade, não estamos falando só do início, mas também de todo o caminho percorrido e que ainda vamos percorrer”, emenda.


“Terreiro” não segue uma narrativa linear, com começo, meio e fim previsíveis e bem estabelecidos, cumpre dizer. “Nada disso, é uma abstração para despertar sensações em quem está vendo”, afirma Suely. “Então, quando você for assistir, não se preocupe em entender, porque não é para entender, e sim para o seu corpo reagir.”

 

“TERREIRO” – TERÇA DA DANÇA
Lançamento do vídeo-espetáculo nesta terça-feira (04/6), às 19h, no Teatro Marília (Av. Prof. Alfredo Balena, 586 – Santa Efigênia). Depois da exibição, haverá roda de conversa com a diretora do Primeiro Ato, Suely Machado, e bailarinos do grupo. Entrada franca, mediante retirada de ingressos no site do Sympla ou na bilheteria local duas horas antes da exibição.

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