O Clube da Esquina foi um movimento musical, certo? Há quem concorde, há quem não. “Eles mesmos sempre rechaçaram”, afirma o músico e produtor Robertinho Brant, de 56 anos, sobrinho mais velho de Fernando Brant.

 



 

Eles, no caso, são os músicos, compositores e letristas que, com Milton Nascimento à frente (“Uma espécie de mago, um pajé”) realizaram o álbum coletivo de 1972, que ganhou o mundo e iniciou uma história que ganha novos capítulos até hoje.

 


“Sob o meu ponto de vista, foi um movimento da música de Belo Horizonte que ganhou uma característica de coletivo, pois abrigou pessoas do Rio de Janeiro e do Recife. Mas todos tinham identidade própria”, afirma Brant, que vê os quatro protagonistas, Milton, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta como os “Fab Four” do Clube.

 

 


Brant capitaneia “As cores do Clube da Esquina”, projeto ambicioso que começou a ser gestado na pandemia e terá vários braços. O primeiro deles é um concerto, nos próximos dias 26 e 27, no Palácio das Artes. As duas noites terão um registro audiovisual, que será lançado posteriormente.

 


Além disso, cantores e músicos participam de “Trem de doido – A música do Clube da Esquina”, dois álbuns duplos com edição em vinil, com 22 faixas cada um. Boa parte do material já foi gravada. A ideia é lançar o primeiro volume até o fim deste ano e o segundo em meados de 2025.

 


Dedicado a Milton Nascimento, a noite dupla de concerto, com 22 das músicas que estarão nos discos, terá a participação de integrantes do Clube: Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e Flávio Venturini. Cada qual vai defender uma seleção de canções. O time de intérpretes se completa com Seu Jorge, Mônica Salmaso, Joyce Moreno, Fernanda Takai e Céu. Brant assina arranjos, direção musical e artística do projeto.

 


Wagner Tiso fez nova orquestração para as canções, que serão executadas por um time de instrumentistas – o violonista e guitarrista Beto Lopes, o baixista Enéias Xavier, o baterista Lincoln Cheib, o pianista Rafael Vernet, o percussionista Marco Lobo e o guitarrista Pedro Martins. Os backing vocals serão de Bárbara Barcellos e Tutuca, filho do guitarrista Fredera, que foi do Som Imaginário. Haverá ainda uma orquestra sinfônica de 40 musicistas, regidos por Eliseu Barros.

 


Brant nasceu em 1967, ano de lançamento de “Travessia”, marco inicial da parceria Milton Nascimento e Fernando Brant. “O Fernando teve que mergulhar, entender o Bituca dentro do mistério dele. Todos, aliás, queriam fazer a melhor música do mundo para o Bituca ouvir. A música do Lô foi o grande ponto de transformação, pois ela mudou o Milton”, analisa ele.

 


A partir do encontro entre Milton e Lô, 10 anos mais novo, estavam formadas as bases que nortearam a produção coletiva que resultou no álbum duplo de 1972. “O artesanato musical do Clube aconteceu no estúdio”, lembra Brant, que vem gravando o álbum desde outubro de 2021.

 


“Primeiro foram as bases. Depois, eu tinha que dar conta da importância de cada compositor e ver que músicas tinham a ver com cada artista. Estes teriam que entrar na viagem, ser como um ‘novo clubista’”, comenta ele. Para o disco “Trem de doido” cada intérprete gravou (ou ainda vai gravar) cinco canções escolhidas por Brant.

 


As vozes femininas dialogam com diferentes gerações. Joyce foi muito próxima ao Clube, ainda que efetivamente não tenha feito parte dele. Mônica Salmaso gravou, com André Mehmari, “Milton” (2023), com todo o repertório dedicado à obra do músico. Fernanda Takai e Céu representariam, na opinião de Brant, um lado mais pop e contemporâneo.

 


Em 2019, Brant lançou “Vendedor de sonhos” (Biscoito Fino), tributo a Fernando Brant que ele produziu e arranjou. Foi no mesmo formato coletivo – com intérpretes de diferentes escolas e gerações – que o projeto agora dedicado ao Clube. A intenção dele é ir longe, e o concerto deste mês será apenas a porta de entrada para a iniciativa.

 


“O que fez a força do Clube foi um participando da música do outro, e o Milton à frente, claro. Só que, a partir de 1984, o Clube passou a não existir como nos anos 1970. Cada um foi para um lado”, diz Brant, que pretende, no futuro, levar o show para o exterior.

 


“Dos artistas todos, só o Milton e o Toninho que foram para fora. Mas foi o instrumental, o jazz, a world music que os abraçaram. Lô e Beto são desconhecidos (no exterior). Se os Mutantes foram para Londres, por que o Clube da Esquina não pode ir?” Brant convidou os diretores Pedro de Filippis e Luiz Pretti para filmar o show, que vai contar um grande telão em LED com imagens criadas para o espetáculo.

 


Milton é o convidado especial do concerto. Também serão chamados todos os demais integrantes do Clube que não estarão no palco, como Ronaldo Bastos, Márcio Borges e Tavinho Moura. “Queremos que todos se encontrem, pois é hora de esquecer as rusgas e consagrar a todos. O tempo do final da vida é o tempo do perdão e do amor, e há esse sentimento no ar”, afirma Brant.

 


“AS CORES DO CLUBE DA ESQUINA”
Concerto nos dias 26/6 e 27/6, às 21h, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Ingressos: Plateias 1 e 2: R$ 290 e R$ 145 (meia); Plateia superior: R$ 190 e R$ 95 (meia). À venda na bilheteria e no site Eventim.

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