Em meio à sua 16ª temporada, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais pode contar nos dedos (de uma só mão) as óperas integrais que já executou: “Così fan tutte”, de Mozart (2016), “Trouble in Tahiti”, de Bernstein (2018), “Cartas portuguesas”, de Ripper (2021, com transmissão on-line, sem público), e “O mestre de capela”, de Cimarosa (em maio).

 


Diante disto, a importância de uma montagem de “Madama Butterfly” na Sala Minas Gerais só faz crescer – as duas apresentações, nesta quinta (13/6) e sexta (14), estão com ingressos esgotados. A tragédia, uma das óperas mais conhecidas do repertório lírico, celebra o compositor italiano Giacomo Puccini (1858-1924) em seu centenário de morte. Sob a regência de Fabio Mechetti, a sala vai receber oito solistas, 72 vozes no coro e 90 musicistas.

 



 


Além da Filarmônica e do Coral Lírico de Minas Gerais, comandado pelo maestro Hernán Sánchez, estará em cena o seguinte time: a soprano Camila Provenzale (Cio-Cio-San), o tenor Matheus Pompeu (Pinkerton), o barítono Alfonso Mujica (Sharpless), a mezzo-soprano Luisa Francesconi (Suzuki), o baixo Savio Sperandio (Zio Bonzo), o tenor Daniel Umbelino (Goro), o barítono Johnny França (Yamadori e comissário) e a soprano Thayana Roverso (Kate Pinkerton).

 

Sem figurinos e cenários

 

Será uma versão de concerto, sem figurinos e cenários, diante da impossibilidade de tal se realizar na sala. Mas a música é integral. Mechetti explica a diferença entre realizar uma ópera num teatro e numa sala de concertos, como a Minas Gerais.

 


“Uma orquestra acostumada com ópera toca no fosso. A projeção do som é controlada pelo fosso”, diz. “Quando você leva a orquestra para o palco, isso não acontece. A segunda questão é que, no fosso, o maestro consegue ver o que está acontecendo. Com a ópera em concerto, a interação com os cantores fica no ouvido, pois não consigo vê-los (já que os solistas ficam na frente do palco).”

 

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Puccini é um representante do estilo realista, que veio à tona no final do século 19, com personagens de carne e osso fazendo contraponto aos deuses e grandes heróis que permeavam a produção até então.

 


“Puccini embarcou nesta com ‘La bohème’ (1896), que contava a história de artistas boêmios”, continua o maestro Mechetti. “Madama Butterfly” estreou em 1904.

 

Traição e suicídio

 

A Exposição Universal de 1889, realizada em Paris (aquela que lançou a Torre Eiffel), apresentou a cultura oriental, até então pouco conhecida no Ocidente. Foi um divisor de águas para muitos compositores, Debussy e Ravel entre eles.

 


Puccini, conta Mechetti, associou a ideia de utilizar personagens da vida real com a influência japonesa. Na história ambientada em Nagasaki no início do século 20, Butterfly, apelido de Cio-Cio-San, é uma gueixa empobrecida que se casa com o oficial norte-americano B. F. Pinkerton. Só que ele não queria nada sério. O desencontro de intenções desencadeia a tragédia que mistura paixão, traição e suicídio.

 


As apresentações na Sala Minas Gerais terão alguns estreantes. A começar pela soprano Camila Provenzale, que interpreta Butterfly pela primeira vez.

 

“É uma ópera extremamente importante que traz vários desafios técnicos e dramáticos. É um passo adiante na minha carreira no sentido de repertório, pois me denomino um soprano lírico. Sou uma Butterfly jovem”, afirma Camila, que em sua preparação se inspirou muito nas gravações da italiana Mirella Freni.

 


A cantora compara interpretar Cio-Cio-San com correr uma maratona. “O tempo total da ópera é de cerca de duas horas e 30 minutos. Devo cantar duas horas, duas horas e 10 minutos. É muito tempo. Mas a ópera é muito inteligente, tem equilíbrio. Há partes mais recitadas, outras em que posso fazer voz mais caricata, como uma brincadeira. Então, há um descanso vocal.”

 


Outro estreante na obra-prima de Puccini é André Heller-Lopes, diretor de cena. “Em uma ópera em concerto, com a orquestra em cena, você vê a música. Numa ópera da escola realista, como é ‘Butterfly’, há o entra e sai de detalhes que Puccini imaginou. Então, você cria uma espécie de clima. Como não tem uma encenação total, é como se a ópera ficasse mais universal.” Para criar ambientações, serão exibidas pinturas de artistas japoneses do século 19, como Hokusai e Hiroshige.

 

Filarmônica e Grupo Corpo em julho

 

Começam a ser vendidos nesta quinta (13/6) os ingressos para a nova temporada que a Filarmônica e o Grupo Corpo fazem na Sala Minas Gerais. De 4 a 6 de julho, a orquestra e a companhia voltam a apresentar o balé “Estância”, de Alberto Ginastera.

 

O programa terá “Dança sinfônica”, de Marco Antônio Guimarães, e “Danzón nº 2”, de Arturo Márquez, esta executada somente pela orquestra. A venda tem início às 10h no site www.filarmonica.art.br e às 12h na bilheteria local (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto).

 

Plateia central, balcão principal, balcões laterais e mezanino: R$ 280 e R$ 140 (meia); terraço: R$ 100 e R$ 50 (meia); e Balcão palco e coro: R$ 39,60 (inteira). Informações: (31) 3219-9000.

 


“MADAMA BUTTERFLY”


Ópera com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Nesta quinta (13/6) e sexta (14/6), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090 , Barro Preto). Ingressos esgotados.

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