Após mais de 30 anos de trabalho, o cineasta inglês Christopher Nolan finalmente ganhou seu primeiro Oscar. Com o filme “Oppenheimer”, conquistou a estatueta de melhor direção na cerimônia realizada em março passado. Você sabia que essa história começou há pouco mais de duas décadas ao som do My Chemical Romance, uma das bandas mais famosas do movimento emo?
Antes de se tornar vocalista do grupo norte-americano, Gerard Way era quadrinista na Cartoon Network, em Nova York. Em 11 de setembro de 2001, ele se dirigia ao trabalho quando viu o ataque ao World Trade Center, que matou quase 3 mil pessoas.
“Uma das maiores razões para começar o My Chemical Romance foi porque fui uma das pessoas a testemunhar o 11 de Setembro em Nova York. Aquilo parecia o fim do mundo. Parecia o apocalipse”, declarou Way, em entrevista em 2019.
Junto do irmão Mickey e dos amigos Ray Toro e Frank Iero, Gerard criou o My Chemical Romance. O primeiro álbum, “I brought you my bullets, you brought me your love” (2002), inclui “Skylines and turnstiles”, faixa que traz a visão do cantor sobre o atentado.
Em 2004, a banda estreou no mainstream com “Three cheers for the sweet revenge”. Com segundo álbum, ela marcou a história do emo com os hits “Helena” e “I’m not okay (I promise)” – canções que falam sobre morte, guerra e vampirismo.
Entre os fãs do grupo estava a escritora Stephanie Meyer, que trabalhava no livro “Crepúsculo”. Lançado em 2005, o romance sobre o amor entre uma garota e um vampiro foi um sucesso.
Stephanie revelou ter se inspirado no My Chemical Romance para a criação do personagem Jacob (Taylor Lautner), “com sua emoção realmente crua e descontrolada”, segundo ela.
“Não se trata de uma pessoa que cresceu, ficou calejada e aprendeu a controlar as coisas. É alguém que está sentindo isso pela primeira vez, só quer sair e explodir as coisas. A música 'Famous last words' é a versão muito romântica de Jacob dizendo: 'Ok, estou me expondo e você provavelmente vai me quebrar, mas isso não muda o fato de que ainda estou fazendo a oferta’”, declarou a escritora, em 2012.
Estrelado pelo ator Robert Pattinson, “Crepúsculo” chegou aos cinemas. “Voei para Los Angeles para fazer teste para outra coisa, algo (papel) que me disseram que já era meu. Mas arruinei completamente a audição. No dia seguinte, fui à audição de 'Crepúsculo'. Estava naquele estado 'nada a perder', foi muito fácil fazer o teste”, contou Pattinson.
Lançada em 2008, a saga contou com cinco filmes, que bateram US$ 5,28 bilhões. Kristen Stewart formava a dupla com Pattinson. “Crepúsculo” foi a porta de entrada do então casal de atores para o estrelato.
Com o passar dos anos, a dupla tentou se desvincular da franquia – especialmente Pattinson, que fez inúmeras críticas ao papel e à história. Ele passou a se dedicar a filmes dramáticos, que exigiam mais de sua atuação.
Presente para Nolan
Em 2020, estrelou “Tenet”, com direção de Christopher Nolan. Deu vida a Neil, homem misterioso e manipulador que cruza o caminho d’O Protagonista (John David Washington), recrutado pela organização Tenet para participar de uma missão de escala global.
Depois das filmagens, Pattinson presenteou o diretor com um livro de discursos que o cientista J. Robert Oppenheimer fez depois da Segunda Guerra Mundial. Nolan contou que foi “fisgado” pelo tema ao ler ali sobre as “consequências massivas” da bomba atômica.
“Quando você lê as palavras das pessoas que falaram naquela época, as vê lutando com as implicações e consequências do que aconteceu e do que elas fizeram. (...) Comecei a ficar muito empolgado. Em vez de usar isso como analogia no sentido de ficção científica, contar a realidade real da história, realmente tentando estar lá, para dar às pessoas a experiência de como seria ser Oppenheimer nesses momentos”, disse o cineasta.
Nolan chegou a pensar em Pattinson para o papel principal, mas não deu certo. “Ele é muito requisitado atualmente”, explicou. O longa acabou protagonizado por Cillian Murphy. O resto você já sabe: Christopher Nolan recebeu seu primeiro Oscar e o irlandês conquistou a estatueta de melhor ator, em março deste ano.
Murphy vive o físico J. Robert Oppenheimer, um dos responsáveis pela terrível explosão da bomba atômica. O verso da canção do My Chemical Romance que inspirou “Crepúsculo” parece ecoar nesta história de morte e guerra. “Essas luzes brilhantes sempre me cegaram”, canta Gerard Way, a testemunha do apocalipse de 11 de Setembro de 2001.