Uma edição singular. Assim deverá ser a 19ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), que começa nesta quarta-feira (19/6) e segue até o próximo dia 24, na cidade histórica mineira, com exibição de filmes, realização de debates e shows de Paulinho Moska, Orquestra Mineira de Brega e DJ Fê Linz.

 
Com foco no cinema de animação brasileiro, a principal mostra do evento, denominada Histórica, exibirá 45 filmes do gênero e homenageará o diretor Alê Abreu, indicado ao Oscar em 2016 na categoria de melhor longa de animação por “O menino e o mundo” (2014). Em paralelo, filmes de live-action integram a programação nas mostras Contemporânea, Educação e Preservação.

 




“A animação é um segmento do audiovisual que atualmente está com uma lacuna de encontros, debates e trocas de experiências no Brasil”, afirma a diretora da CineOP, Raquel Hallak. “Quando trazemos a animação para o centro da mostra é como se colocássemos um holofote em cima desse gênero, que também representa resistência”, diz ela.

 
Ela observa que “temos uma maioria esmagadora de curtas-metragens e poucos longas, porque um longa de animação costuma levar vários anos para ser produzido e os animadores passam por grandes dificuldades devido à falta de continuidade de financiamento no Brasil para a área da animação”.

 


Ela cita que o festival Anima Mundi, dedicado ao gênero, não é realizado desde 2019, por falta de patrocínio. Os cineastas, no entanto, não desanimam e seguem produzindo seus filmes com diferentes maneiras e meios de contar histórias. Com essa inventividade, imprimiram sua marca nas produções, seja no traçado, no perfil dos personagens ou na maneira de usar as cores nas ilustrações.

 

Retrospectiva

São essas características que a edição deste ano da CineOP pretende destacar, sobretudo com a mostra Histórica, que abrange um arco temporal que vai de 1929 a 2023. Dos 45 filmes que serão exibidos, 42 são curtas-metragens.

 

A soma dos filmes da mostra, segundo Hallak, é um pequeno recorte que permite visualizar a variedade de técnicas, estilos, universos, tonalidades, personagens e narrativas dos animadores brasileiros. As poucas semelhanças estão na narrativa com ênfase no humor ou na tristeza.

 

Reflexo disso é a primeira exibição da mostra, na quinta-feira (20/6). A sessão contará com os curtas "A saga da Asa Branca" (1979), de Lula Gonzaga; "Respeitável público" (1987), dos Irmãos Wagner; "Novela" (1992), de Otto Guerra; "Passo" (2007), de Alê Abreu; e "Até a China" (2015), de Marão.

 


“A animação mudou muito ao longo dos últimos 30 anos, mas o que continua igual é o desejo que os animadores brasileiros têm de fazer experimentações”, afirma Alê Abreu. “Quando comecei, há 30 anos, era outro cenário. Cada desenho da sequência tinha que ser passado para o acetato (e eram acetatos caríssimos), tínhamos que produzir sem o auxílio do computador e filmávamos em 35 milímetros, usando uma ‘table top’, que é a mesa de animação”, diz.

 
Ele comenta que, na década de 1990, os animadores eram majoritariamente publicitários e faziam muito mais campanhas do que projetos autorais. “Esse cenário mudou, principalmente, a partir das políticas (de fomento à cultura e ao audiovisual). Acho que a animação foi beneficiada também pelas políticas do audiovisual e pegou carona na retomada do cinema brasileiro”, avalia o diretor.

 


Preservação

Criada em 2005, com o intuito de discutir meios de preservação e conservação dos filmes nacionais, a CineOP deste ano vai contar com os tradicionais grupos de debate. Serão discutidas medidas a serem sugeridas ao poder público com o propósito de se tornarem leis.

 


“Em 2014, foi promulgada uma lei (Lei Federal 13.006), que ainda não foi sancionada, determinando a exibição de duas horas de cinema brasileiro por mês nas escolas de educação básica, como carga curricular complementar. Isso é ótimo, mas é preciso pensar em algumas questões: quem vai escolher os filmes? Os professores estão preparados para exibir os filmes e discutirem a respeito? Quais são as condições técnicas de exibição nas escolas? Existe equipamento? Como é? Ou seja, temos que tratar de coisas que vão muito além da lei”, afirma Hallak.


Outro ponto de discussão do festival é a preservação dos filmes nacionais. “Antes, a preservação era o ‘patinho feio’, hoje ela já está na ponta de lança. E temos um grande problema no Brasil em relação a isso. Tantos filmes se perderam, alguns queimaram e outros a gente nem sabe onde estão. A proposta da CineOP, portanto, é exatamente fazer esse alerta”, diz.

 

19ª MOSTRA DE CINEMA DE OURO PRETO
Desta quarta-feira (19/6) a 24 de junho, em Ouro Preto.
Programação gratuita, disponível no site da mostra.

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