Eva Longoria é a protagonista da série “Terra de mulheres”. Mas quem nos faz amar a comédia dramática que estreia nesta quarta (26/6), no Apple TV+, é Carmen Maura. Ela mesma, a musa da fase inicial de Pedro Almodóvar, estrela de sete longas do cineasta – do filme de estreia, “Folle... folle... fólleme Tim” (1978), até “Volver” (2006), realizado muitos anos depois do rompimento dos dois.

 


Ela é Julia, que está começando a sofrer de demência, mas continua a aprontar das suas. Vive sempre à sua maneira, tanto que acha melhor não olhar para trás. Vê-se obrigada a voltar para o lugarejo de origem, que abandonou há cinco décadas, por causa da filha, Gala (Longoria). História universal sobre a relação entre mãe, filha e neta, “Terra de mulheres” foi rodada na Catalunha.

 



 


Na inauguração de sua loja de vinhos em Nova York, Gala descobre que o marido, Fred (James Purefoy), deu um golpe e deve US$ 15 milhões. Como ele sumiu, a enófila é ameaçada por uma dupla de bandidos. Pega a mãe, que está na casa de repouso, e Kate, a filha estudante (papel da estreante Victoria Bazúa), e parte para La Muga (nome fictício), o local onde Julia nasceu.


Vinhedo catalão

 

O vilarejo no Norte da Espanha vive de um vinhedo capitaneado por mulheres. Nenhuma delas quer saber de Julia, inclusive sua única irmã, Mariona (Gloria Muñoz). O único aliado do trio é Amat (Santiago Cabrera), que trabalha no vinhedo e é o proprietário da antiga casa das irmãs. A química entre ele e Gala é latente, mas os dois vão brigar muito antes de se entender.

 

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Adaptação do romance homônimo de Sandra Barneda, “Terra de mulheres” é assinada pela Bambú Producciones, de Ramon Campos, criador das séries “As telefonistas” (2017-2020),“Fariña” (2018), “Grand Hotel” (2019) e “O caso Asunta” (2024). Longoria, atriz texana de ascendência mexicana que aprendeu espanhol há 15 anos, também é produtora-executiva da série – a primeira dela, aliás, na língua dos antepassados.

 


Foi Longoria quem procurou Campos. “Hoje só existem programas sobre futuro distópico em que o governo entrou em colapso, ou apocalipse zumbi em que o mundo está acabando. Isso me estressa. Queria voltar para a TV com algo leve e divertido, no tom de ‘Desperate housewives” (2004-2012), em que a comédia surge de situações improváveis. Ela foi minha escola, onde comecei a dirigir e produzir”, diz.

 


Campos começou a trabalhar na série a partir de Gala. “Tínhamos claro que seria uma história sobre identidade. Passamos a construir a personagem da filha, já que no romance a protagonista tem duas meninas. Decidimos que uma só bastava, depois buscamos a personagem da mãe. Quando você tem Eva Longoria como protagonista, quem poderia ser a mãe dela? Na Espanha, só temos uma atriz nesse nível, que é a Carmen Maura.”

 

 


Longoria admite certo receio. “Tive medo de trabalhar com a Carmen Maura, em espanhol e na Espanha. Ela é incrível, impecável, me ajudou muito no ritmo da comédia, porque em espanhol é diferente. É a personagem mais engraçada de toda a série, as melhores falas são dela.”

 


Campos acrescenta: “Gala tem problemas de relacionamento com a filha, mas também com a mãe. Então resolvemos colocar essas questões sob o ponto de vista de Kate (a neta) e de Julia (a avó). Sempre pensamos nas avós apenas como avós. Mas elas podem ter tido vidas incríveis, divertidas, sido loucas, liberadas.”

 

Humor e tarja preta

 

Carmen Maura é de Madri. Confessa que o maior estímulo para participar de “Terra de mulheres” foi a locação. “Adoro o campo, não conhecia a região da Catalunha onde filmamos. Um lugar lindo, com amanhecer e pôr do sol maravilhosos, cidades bonitas e bem conservadas.”

 


A atriz conta que tem coisas em comum com Julia. “A primeira é o humor, além do senso prático. Nos filmes, os idosos que estão na casa de repouso sofrem muito. Ela não, está feliz com seu grupo de espanhol e seu ‘negócio’ (venda ilícita de comprimidos de tarja preta), que lhe dá um pouco de dinheiro. E tem a loucura, claro. Também tenho isso, porque à medida que envelhecemos, ficamos cada vez mais loucos.”

 


São 78 anos de vida e mais de 50 de cinema e televisão, com participação em cerca de 150 produções. Já fez de tudo: rica, pobre, boa, má. Ao contrário de seus pares, que veem a oferta de papéis diminuírem com a idade, Carmen continua trabalhando – e muito.

 


“Tenho um anjo da guarda que cuida de mim. Porque aos 78 anos, se não puder mais trabalhar, não irei à academia, fazer musculação e todas essas coisas que me consertam. Sem trabalho, eu ficaria mais gorda, flácida e antipática.”

 


Ela credita à sorte a quantidade de papéis que lhe oferecem. “Com a idade, costumam chegar personagens doentes ou que estejam preparando o testamento. Mas no meu próximo filme, vou me apaixonar. E faz tempo que não me apaixono em um filme.”

 


Carmen diz que faz só metade do trabalho. O resto é a câmera. “Para mim, é muito mais do que uma máquina, tanto que a respeito muito.”

 


A atriz se lembra de quando interpretou Glória, protagonista de “O que eu fiz para merecer isto?” (1984), de Almodóvar.

 

“Eu estava horrível no filme, com raízes do cabelo precisando pintar, roupa de baixo apertada, mal-vestida. E o New York Times me chamou de dona de casa sexy. Isso me deu a sensação de que o que realmente importa é a câmera. É um jogo que adoro, e que quero continuar jogando, pois conheço as regras muito bem”, finaliza.

 

Veja Carmen Maura em "O que eu fiz para merecer isto?":

 

 

 

 

“TERRA DE MULHERES”


• A série estreia nesta quarta-feira (26/5), na Apple TV+, com os dois primeiros episódios. Os demais vão estrear semanalmente, às quartas.

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