Cartunista, chargista, pintor, escritor, dramaturgo, cartazista, caricaturista, poeta, cronista, desenhista, apresentador, humorista e jornalista. Ao longo de quase sete décadas, Ziraldo (1932-2024) produziu intensamente, deixando obra que atravessa gerações. Com a expectativa de atingir corações e mentes, o CCBB-BH abre nesta quarta-feira (26/6) a exposição “Mundo Zira – Ziraldo interativo”, que ficará em cartaz até 9 de setembro.

 


A mostra – tátil e sensorial – se propõe a tirar a obra do mineiro do papel, tornando-a imersiva e interativa, por meio da tecnologia. Curadoria e direção artística são assinadas por Daniela Thomas e Adriana Lins, respectivamente, filha e sobrinha do homenageado. Áreas temáticas são dedicadas a clássicos do artista, como “Flicts”, “O menino quadradinho” e “A turma do Pererê”.

 

 



 


Adriana Lins explica que oito obras do tio embasam a exposição: “Os meninos dos planetas”, “O planeta lilás”, “O bichinho da maçã”, “Uma professora muito maluquinha” e “O menino maluquinho”, além das já citadas. Optou-se pelo recorte literário, com seleção de livros orientada pela possibilidade de adaptar conteúdos ao caráter imersivo da mostra.

 


“Pegamos oito títulos que consideramos icônicos, imaginando como eles se desdobrariam em ações. Trabalhamos com forma e conteúdo ao mesmo tempo, considerando o que era moldável à proposta interativa”, afirma. Logo na primeira das quatro galerias, o visitante é convidado a colorir digitalmente personagens de Ziraldo, que são imediatamente projetados na parede, virando cenografia.

 

 

"Mundo Zira" não é só para olhar. Tem que participar

Leandro Couri/EM/D.A Press

 

 

Esconde-esconde na Mata do Fundão

 

Na seção “Flicts”, as cores são exibidas como uma dança, regidas por quem se posiciona diante da imagem. Na galeria “Turma do Pererê”, personagens brincam de pique-esconde entre as árvores da Mata do Fundão e o visitante pode tentar pegá-los. Na seção “Menino Maluquinho”, dá para mudar cabeça, tronco e membros do personagem, criando híbridos.

 


Adriana destaca que “Mundo Zira” não é uma exposição clássica, com originais nas vitrines. Aliás, alguns deles estão lá, reproduzidos em grandes dimensões no térreo do CCBB. Também não se trata da retrospectiva do artista. A curadora lembra que o tio, que morreu em 6 de abril, estava “fora de circulação” desde 2018, quando sofreu AVC, mas considera importante nos referirmos a ele no presente. Ou seja, Ziraldo “é” – e não Ziraldo “foi”, diz.

 


“Criador atemporal, ele não trabalhou durante 70 anos, mas durante 140. É uma quantidade impressionante de material dele que a gente preserva”, conta, referindo-se ao Instituto Ziraldo, responsável pela realização da mostra em parceria com a Lumen Produções.

 

Menino Maluquinho ganhou uma seção só para ele. O visitante pode reinventá-lo da maneira que quiser

Leandro Couri/EM/D.A Press

 


A instituição reuniu, até agora, 19 mil ilustrações digitalizadas, objetos e vasta coleção de coletes, marca registrada do cartunista, além de pincéis, tintas, canetas-tinteiro e lápis de cor com os quais ele trabalhava. Há exemplares da Revista Pererê e edições do livro “O menino maluquinho” em vários idiomas. A meta é buscar sede fixa que possa receber o público.

 

Leia também: Os primeiros traços de Ziraldo

 


“Mundo Zira” estreou em Brasília em 2022, atraindo 65 mil visitantes, e depois passou pelo CCBB-Rio, onde foi vista por 185 mil pessoas. Adriana diz que o apelo de público se justifica pelo fato de a obra de Ziraldo ser um retrato da sociedade. De acordo com ela, a mostra é experiência educativa, unindo arte, tecnologia, mensagens sociais e ambientais, temas tratados pioneiramente pelo artista desde os anos 1960.

 


“O acervo traz a memória de gerações e gerações de brasileiros, tendo a literatura como carro-chefe. Ziraldo sempre falou que ler é mais importante do que estudar. Agora, o Instituto Ziraldo vem trabalhando com a ideia de ler para ir além da leitura, ou seja, uma leitura de mundo, de emoções, de relacionamentos”, ressalta.


Afeto e crítica

 

Adriana destaca a dimensão afetuosa da obra do tio, presente mesmo nas charges políticas e naquelas feitas com o intuito de “cutucar o cidadão” e fazê-lo pensar.

 


“Nesta exposição, a gente traz tudo isso de forma lúdica, sedutora, brincalhona, na linguagem das gerações de hoje, que não largam as telas e são vidradas nas luzes. É o jeitinho disfarçado de trazer a literatura, o tradicional, o objeto livro, porque a curadoria foi pautada por isso. O importante é o mergulho no universo Ziraldo”, afirma.

 

"Mundo Zira" convida crianças e adultos a brincar com Ziraldo e suas cores

Leandro Couri/EM/D.A Press

 


Responsável por transportar o Ziraldo das páginas para o ambiente interativo, Daniel Morena diz que o desafio foi fazer com que a tecnologia não apareça.

 

“A ideia é de que ela seja meio invisível, pois aquela coisa que está acontecendo ali é mais interessante do que o suporte dela. Dessa forma, você não consegue nem saber como aquilo está acontecendo. Isso me deixa feliz, porque aí vira um espaço meio mágico”, conclui.

 


“MUNDO ZIRA – ZIRALDO INTERATIVO”


Até 9 de setembro, no CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). De quarta a segunda-feira, das 10h às 22h. Entrada franca, com retirada de ingressos no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria. Às quartas, novos bilhetes serão disponibilizados para a semana seguinte. O visitante escolhe data e horário. Menores de 5 anos não precisam de ingresso. Informações: (31) 3431-9400.

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