Nem monumentos, nem construções e muito menos sítios arqueológicos. O maior patrimônio de uma cidade é a relação de seus habitantes com o local onde vivem. A Fundação Municipal de Cultura (FMC) decidiu encerrar as comemorações dos 80 anos do Conjunto Moderno da Pampulha, iniciadas no ano passado, com o lançamento, nesta quarta (26/6), do Projeto Moradores dedicado a esta região de Belo Horizonte.

 


Encabeçado pelo documentário no qual moradores contam a história da Regional da Pampulha, o projeto se divide ainda em exposição de fotos de quem colaborou com o filme, seminário sobre o conjunto arquitetônico de Oscar Niemeyer e o show “Baile da Black Josie”, com vertentes da black music.

 



 


A exibição do filme ocorrerá na noite de hoje, na Praça Dino Barbieri. Na tela, moradores e frequentadores da região revelam experiências pessoais, traçando paralelos entre a própria existência e a história da Pampulha.

 


Há algumas curiosidades. Como o caso da família que tem o Parque Guanabara como sua principal referência na região – e não a lagoa ou a igrejinha de São Francisco. O parque de diversões foi frequentado por três gerações e, à medida que nascerem novas crianças, a tradição continuará viva naquela família.

 


Outra figura peculiar do filme é o senhor que sai de casa, na região Centro-sul de Belo Horizonte, para caminhar na orla da lagoa nas manhãs de domingo. O passeio é repetido há décadas, pois aquele homem não vê outro lugar para poder se exercitar, a não ser a Pampulha.

 

Vendedora de algodão-doce dá entrevista para o Projeto Moradores Conjunto Moderno da Pampulha

Marcus Desimoni/divulgação

 


“Muita gente tem a percepção de que a Pampulha, com todo aquele complexo arquitetônico e poucas casas na região da igrejinha, é só ponto turístico. Mas, na verdade, vários bairros e pessoas de diferentes classes sociais fazem parte daquele lugar e se orgulham disso”, destaca Gustavo Nolasco, um dos diretores do documentário.

 


“O Conjunto Moderno da Pampulha é o símbolo de uma região pulsante ali em volta”, reforça o fotógrafo e cineasta.


Tendas

 

O documentário faz parte do Projeto Moradores, criado pela Nitro Histórias Visuais. Nos últimos 22 anos, profissionais da produtora rodaram por 19 cidades de cinco estados, montando tendas em locais estratégicos e deixando a câmera ligada para que as pessoas dessem depoimentos por iniciativa própria. “No começo, elas ficam meio reticentes, mas depois vão se abrindo”, garante Nolasco.

 


Tiradentes, São João del-Rei, Mariana, Ouro Preto e Paraty (RJ) receberam o projeto, assim como locais menores, como Joaquim Egídio, distrito de Campinas (SP), que tem 65 anos e pouco mais de 2 mil habitantes.

 

Tenda para ouvir e fotografar moradores foi instalada na Casa do Baile

Marcus Desimoni/divulgação

 


Desta vez, o “Projeto Moradores Conjunto Moderno da Pampulha” foi encomenda da FMC. Nos últimos dois meses, uma tenda foi montada nas proximidades da Casa do Baile e outra na praça da igrejinha, onde Nolasco entrevistou cerca de 150 pessoas. Além de gravarem vídeos, elas foram fotografadas. As imagens estarão expostas até 5 de julho.

 


“Entendemos que é importante mostrar quem são essas pessoas e a relação delas com o conjunto moderno da Pampulha”, diz Paula Senna, diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura.

 


“Nossa ideia é resgatar memórias afetivas, entendendo o patrimônio cultural na sua totalidade, composto pela paisagem e pela edificação – que é muito importante, claro –, mas também pelas manifestações culturais que acontecem ali, pelos mestres detentores dos saberes e pelas pessoas autônomas”, diz Paula Senna.

 


Nascido em Mariana, Nolasco ressalta: “Lá na minha cidade, tem uma igreja de 300 anos de pé até hoje. Fico me perguntando: será que ela se mantém por tanto tempo porque foi construída para ficar séculos ali? Ou porque as pessoas não deixaram que fosse destruída? Quero mostrar para as pessoas que a cidade ou o bairro onde elas vivem só vai se manter se elas lutarem para que a história dali não morra”.

 

Exposição na Casa Kubitschek

 

Em comemoração a seus 10 anos, o Museu Casa Kubitschek abre, nesta quinta-feira (27/6), a exposição “Traçar moderno: Construindo formas e trajetórias”.

 

Com curadoria de Ana Karina Ribeiro Bernardes, Claudia Vianna Lima e Isabela Tavares Guerra, a mostra reúne peças do acervo do museu. Às 19h, será lançada a publicação “Museus, educação e território: experiências educativas na Pampulha”. A Casa está aberta de quarta a domingo, das 10h às 18h, com entrada franca.

 

NA PAMPULHA

 

Quarta-feira (26/6)

• 9h30: “Seminário Pampulha(s): paisagens e outros horizontes”, na Casa do Baile (Avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha)


• 19h: Exibição do documentário “Projeto Moradores – Conjunto Moderno da Pampulha”, seguida da abertura de exposição na Praça Dino Barbieri (praça da igrejinha da Pampulha)


• 20h: “Baile da Black Josie”, na Praça Dino Barbieri

 

Quinta-feira (27/6)

• Abertura da exposição “Traçar moderno: Construindo formas e trajetórias”, no Museu Casa Kubitschek (Av. Otacílio Negrão de Lima, 4.188, Pampulha). Às 19h, lançamento da publicação “Museus, educação e território: experiências educativas na Pampulha”

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