Ítalo Laureano, Rejane Faria, Assis Benevenuto e Marcos Coletta contracenam em

Ítalo Laureano, Rejane Faria, Assis Benevenuto e Marcos Coletta contracenam em "Luz e neblina", inspirado no longa "Noites de Cabíria"

crédito: Paulo Lacerda/divulgação

 

Criado pelo grupo Quatroloscinco, o espetáculo “Luz e neblina”, livremente inspirado no filme “Noites de Cabíria”, de Federico Fellini, e inserido no contexto da mostra retrospectiva do diretor italiano realizada ao longo do último mês no Cine Humberto Mauro, ganha o palco do Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes, em única apresentação, nesta quarta-feira (3/7). Com dramaturgia de Germano Melo e direção de Ricardo Alves Jr., a peça é protagonizada por Rejane Faria.

 

 


A atriz, estrela do premiado “Marte um” (2022), de Gabriel Martins, divide a cena com seus colegas de grupo Ítalo Laureano, Assis Benevenuto e Marcos Coletta. A apresentação de “Luz e neblina” marca o encerramento da “Retrospectiva Fellini”, com proposta que mescla teatro e cinema – interseção em que tanto o dramaturgo quanto o diretor do espetáculo já vêm trabalhando há algum tempo.


Germano Melo destaca que o conjunto da obra de Fellini marcou sua formação como ator e dramaturgo. Para ele, “Noites de Cabíria” ocupa um lugar especial nesse processo. Diz que se inspirou nas linhas gerais do roteiro do filme para criar o texto de “Luz e neblina”. A intenção, ele aponta, era transportar a personagem interpretada por Giulietta Masina no longa de 1957 para um universo que permitisse o trânsito entre teatro e cinema.

 

Narrativa acessível 


“Criei uma Cabíria especialmente para a Rejane Faria, pensando na atualização para os dias de hoje de uma certa problemática, de como Fellini traz a humanidade dessa personagem como reflexo ou contraposição de um mal-estar da sociedade daquela época.” Ele destaca que teve a preocupação em construir uma narrativa acessível e compreensível, mesmo para quem nunca tenha assistido ao filme. Melo ressalta, ainda, o caráter metalinguístico da dramaturgia.

 

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 “A nossa Cabíria se torna uma atriz de cinema que é desafiada por seu diretor a uma busca, que ela empreende durante uma madrugada. A Cabíria do filme buscava o amor; a nossa, a bondade humana. Tem essa provocação: ainda existe a bondade entre nós? O filme coloca a personagem num labirinto de perdas para que ela resgate a esperança no final. A peça também trabalha um pouco com essa ideia”, revela.


Exploração poética

 

“Noites de Cabíria” foi realizado na reta final da fase neorrealista do diretor italiano – quando ele retratava a vida da classe trabalhadora no pós-guerra com sensibilidade e humanismo. Na contramão dessa linhagem, Melo diz que gosta de se expressar dramaturgicamente com a liberdade de poder se descolar do realismo. “Como diretor de cinema, experimento a verossimilhança; já o teatro é o território da exploração poética”, destaca.


Além de “Noites de Cabíria”, ele diz ter se conectado com imagens de outros filmes de Fellini, como “8 12?”, “E la nave va” e “La strada”, para escrever “Luz e neblina”. Outra fonte de inspiração, de onde, inclusive, é extraído o título do espetáculo, é a música “Giulietta Masina”, de Caetano Veloso, registrada no álbum que lançou em 1987. “Na letra, Caetano diz que o rosto de Giulietta interpretando Cabíria no final do filme é o coração de Jesus, numa representação da bondade”, pontua Melo.

 

Olhar para a vida


Para Rejane Faria, o que mais chama a atenção no texto de “Luz e neblina” é a forma como ele aborda a questão da esperança – motor do longa de Fellini. “Estamos falando, hoje, de um mundo completamente outro, de velocidade, de repressão, de cancelamento, e aí chega essa mulher com um ritmo muito próprio, um olhar para a vida, tentando descobrir se tem mais alguém que compactua com ela nesse movimento. É um chamado para pensarmos o que estamos vivendo e como nos relacionamos”, afirma.


Rejane diz que, no processo de construção da protagonista de “Luz e neblina”, buscou alguns elementos que considera basilares na Cabíria de Giulietta Masina. “Ela tem a dimensão da inocência, mas é uma inocência atravessada por um desejo de querer conquistar as coisas, encontrar um grande amor, mesmo vivendo naquele submundo, um lugar ordinário, do qual, no entanto, ela pode sair vitoriosa. É uma mistura de inocência e força. Estou tentando encontrar um estado que me leve para esse lugar.” 

 

”LUZ E NEBLINA”


Espetáculo com o grupo Quatroloscinco, nesta quarta-feira (3/7), às 20h, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro). Entrada franca, com retirada de ingressos a partir de 12h do dia do evento, exclusivamente na bilheteria local. Será disponibilizado apenas um par de ingressos por pessoa, sem lugar marcado. Informações: (31) 3236-7400.