Sempre perto da natureza e dos animais, Rita Lee visitou o Parque Municipal em sua passagem por Belo Horizonte -  (crédito: Evandro Santiago/EM/DA Press – 9/9/1975)

Sempre perto da natureza e dos animais, Rita Lee visitou o Parque Municipal em sua passagem por Belo Horizonte

crédito: Evandro Santiago/EM/DA Press – 9/9/1975

Em março e abril de 1974, Alice Cooper marcou história no Brasil. Os shows em São Paulo e no Rio de Janeiro são considerados os primeiros de um grande artista internacional de rock no país, mesmo em meio à ditadura militar.

 

“Só liberaram nossa permissão de trabalho quando ficaram convencidos de que não haveria qualquer tipo de manifestação política contra o regime nas apresentações. Ainda assim, grupos religiosos tentaram proibir minha vinda ao país”, relembrou o norte-americano à Rolling Stone Brasil em 2017. Sob outro viés, o artista se tornou persona non grata também para uma de suas ilustres fãs, a subversiva Rita Lee (1947-2023). O motivo: uma cobra.

 

 


Presente em um dos concertos da “Tia Alice”, a ex-Mutantes vivia a expectativa de ver e ouvir in loco músicas de discos como “Killer” (1971) e “School’s out” (1972). O que ela não imaginava era se deparar com Alice maltratando uma jiboia, como destacou em seu livro “Rita Lee: uma autobiografia” (2016, Globo Livros)

 

 

“Ele entra no palco chacoalhando violentamente uma cobra e, depois de fazer seu número de fodão, atira a bichinha no chão e a pisoteia. (...) A sentença de morte na minha cabeça já estava escrita: ‘Alice Cooper filho-da-p***-do-cara***-da-porra-motherfucker-fucking-bitch!”, recorda, se autoproclamando “futura assassina”.


No backstage

 

Mas para se certificar de que não se tratava de nenhuma ilusão de ótica, Rita, diz, deu uma de penetra no backstage do show. “Nessas, avistei o contrarregra com a cobra enrolada no pescoço, tipo acalmando a pobre. (...) Perguntei se Cooper demonstrava algum sentimento nobre pela criatura depois de usá-la daquela maneira estúpida, e ele confirmou minha suspeita”, relatou.


Para se vingar de Alice e ainda proteger a cobra pisoteada, a artista paulista, ajudada por “um inglês chamado Andy Mills”, levou com ela duas jiboias, a agredida e um filhote. Batizadas de Mouche e Angel, elas morreram enquanto Rita estava em turnê.


A roqueira pediu à vizinha que cuidasse das cobras enquanto estivesse fora. Não poderia imaginar que a vizinha sofreria um acidente e ficaria internada. As serpentes, sem aquecedor no aquário onde moravam (que deveria ser ligado e desligado de tempos em tempos), morreram.

 


Casos como os das cobras de Alice Cooper são apenas um exemplo do amor de Rita Lee pelos animais. Ao longo de seus 75 anos de vida, teve gatos, cães, pássaros e peixes e sonhou em ser veterinária, mas se tornou mesmo ativista. Vegana, lutou arduamente contra a realização de rodeios no Brasil. Em 2005, foi lançada a música “Eu odeio rodeio”, parceria dela com Chico César.


Ursa triste


Em 2019, Rita Lee publicou “Amiga ursa — Uma história triste, mas com final feliz”, livro infantil inspirado na história de Rowena, conhecida como “a ursa mais triste do mundo”.


No ano anterior, a roqueira conheceu o animal no Santuário Rancho dos Gnomos, ONG em Joanópolis, no interior de São Paulo. “Entrei no espaço dela e fiquei com vontade de beijá-la, abraçá-la”, disse à revista Quem. “A causa animal é parte de mim desde sempre. E me envolvo como posso para dar voz aos bichos.

 

ENTRE ACORDES
Série do Estado de Minas conta histórias e curiosidades do mundo da música e seu impacto na cultura pop. Oito reportagens são focadas em grandes nomes do rock mundial.