“Esta é uma história verídica. A pedido dos sobreviventes, os nomes foram alterados. Por respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu.” Entendedores entenderão. Este é o aviso de abertura de todos os episódios da série “Fargo”, “emprestado” do filme homônimo (1996), a genial comédia dos irmãos Coen.
Mas não tem nada de verídico na série de antologia de Noah Hawley. Há uma década ele mantém a virulência para retratar a sociedade americana, de ontem e de hoje. “Fargo” é irônica, violenta, inteligente, subversiva – e a cada nova temporada, elege grandes atores. A quinta foi lançada nos EUA no final de 2023, mas só recentemente chegou ao catálogo do Prime Video.
É a mais atual das histórias, ambientada em 2019 em um rincão de Minnesota durante a gestão Donald Trump (que aparece na televisão em uma sequência). A América xenófoba, misógina e que quer ser grande de novo é o cenário – mais atual impossível, neste novo ano eleitoral.
Caos na escola
A nova trama começa de forma espetacular. A reunião do conselho escolar local virou completo caos. Pais e mães histéricos se agredindo física e verbalmente. De mãos dadas com a filha, a dona de casa Dot Lyon (Juno Temple) só quer sair ilesa. Mas ela comete um erro: acaba agredindo, sem querer, um policial. Resultado: vai para a cadeia.
Dot é liberada, depois de ser devidamente fichada. Reencontra o marido, o doce e frágil Wayne Lyon (David Rysdahl), e vai para a casa da sogra, a multimilionária cobradora de dívidas Lorraine Lyon (Jennifer Jason Leigh). As duas não se suportam, está claro. A vida segue até que o inesperado chega ao lar de Dot.
Dois mascarados invadem sua residência. Dot não tem nada de boba, ainda que pareça à primeira vista. Consegue fazer um lança-chamas com spray para cabelo. Sequestrada, foge para um posto de gasolina. Mata um dos capangas e salva a vida do delegado Will Farr (Lamorne Morris). Ele não vai ficar apenas imensamente grato, mas preocupado com ela. Começa sua investigação ao lado da policial Indira Olmstead (Richa Moorjani).
Na volta para casa, Dot mente para a polícia. Não houve sequestro nenhum, é melhor lhe deixarem em paz porque tem de preparar o café da manhã da família (ela faz panquecas com os pés descalços e ensanguentados). O que está claro sobre a personagem é que a aparente fragilidade é apenas fachada – ela viveu muito mais do que parece.
Longe dali, as respostas começam a surgir na figura do xerife Roy Tillman (Jon Hamm), fundamentalista libertário da Dakota do Norte que atua com as próprias regras. O esquema é o típico Deus, Pátria, Família. E os policiais são praticamente uma milícia. Seu braço direito é o filho Gator (Joe Keery), que contratou o bizarro estrangeiro Ole Munch (Sam Spruell) para perseguir Dot.
Mulher, seja quem for, está em segundo plano. A violência é mais que permitida, caso ela não faça o que deve. Tillman se torna, ao longo dos episódios, cada vez mais agressivo, a ponto de agentes federais entenderem que é preciso manter distância dele.
O passado de Dot está ligado ao do xerife. Tillman. Mesmo que os 10 episódios tenham subtramas e bons personagens, o acerto de contas de dupla acaba se tornando o cerne na metade final. Depois de quase 30 anos do filme de origem, “Fargo” continua mantendo as referências dos irmãos Coen e dialogando com o mundo de hoje.
“FARGO”
Cinco temporadas disponíveis no Prime Video.