MetáMetá em BH, Autêntica 06/07/2024 -  (crédito: Otávio Rangel)

MetáMetá em BH, Autêntica 06/07/2024

crédito: Otávio Rangel

Quando as primeiras notas de saxofone começaram a ecoar na noite desse sábado (6/7) na Autêntica, casa de shows localizada na Região Centro-Sul da capital mineira, a ansiedade tomou conta do público como se algo grandioso estivesse para acontecer. Thiago França, mineiro de Belo Horizonte, radicado em São Paulo há mais de uma década, surgiu soltando suas primeiras notas no sax e, ao seu lado, ninguém menos que Juçara Marçal, com sua presença firme e marcante. Ao lado dos dois, Kiko Dinucci sentado e, como sempre, segurando firme o violão.

 


"A última vez que toquei aqui tem uns 22 anos", disse Thiago França, citando o antigo Lapa Multishow. O último show do Metá Metá em Belo Horizonte foi em 2018, e mesmo não sendo 22 anos, pareceu tempo demais.

 


A apresentação começou com a dupla de canções que abrem o álbum Metal Metal, de 2012. "Exu" e "Oya", tocado por Kiko Dinucci e Thiago França que, já de cara, transformaram seus instrumentos, violão e sax, em percussão que, a um ouvido desavisado, poderia parecer som de tambores. Quando a voz de Juçara Marçal surge, mais parece o canto de uma entidade, deixando a plateia arrepiada e ao mesmo tempo com vontade de balançar.

 


Este é o Metá Metá, banda formada em São Paulo por uma carioca, um mineiro e um paulista. A mistura de ritmos e a experimentação sonora e poética do grupo vão na linha de uma espécie de "escola paulista", uma turma que bebe muito na fonte do cantor e compositor Itamar Assumpção.

 

A mistura de ritmos e a experimentação sonora e poética do grupo vão na linha de uma espécie de 'escola paulista'

A mistura de ritmos e a experimentação sonora e poética do grupo vão na linha de uma espécie de escola paulista

Ot�¡vio Rangel

 


O nome Metá Metá no idioma iorubá significa "Três ao mesmo tempo". Remetendo a cultos afro-brasileiros que sempre buscaram inserir essa ancestralidade negra nas músicas, percebidas mais diretamente nas letras ou somente na simulação de tambor no violão criativo doe Kiko Dinucci, sem deixar elementos de rock inseridos no meio desse caldeirão de samba jazz afro super experimental.

 


O trio toca junto desde 2008 e já contou com diversos músicos em seus shows e discos, como, por exemplo, o baixista Marcelo Cabral, o baterista Sérgio Machado e os músicos Rômulo Fróes, Rodrigo Campos, Marcelo Cabral e, mais recentemente, com a baterista Alana Ananias. Porém, no show desse sábado a banda se apresentou em seu "power-trio" tradicional.


Algumas músicas não poderiam ficar de fora. Umas delas, Obá Iná, que traz o "Abram caminho para o rei", música extremamente potente que traz versos como "não há justiça se há sofrer" e "e se a gente nunca se entregar". Na pegada da resistência, França citou o ex-presidente da República e a destruição das políticas culturais durante seu mandato.


Outros hinos vieram nessa linha, como "Vale do Jucá", ou "São Jorge", em versos como "A guimba e a fumaça do meu cigarro, Cega o olho do soldado que pensou em me ferir". Em outros momentos, músicas mais calmas, mas não menos impactantes. Com isso, o trio levou o público da Autêntica a uma viagem profunda de ancestralidade e experimentação virtuose instrumental.