Pimpa e o dono, Armando, guiam o visitante pela Itália na exposição em cartaz em BH -  (crédito: Raquel Braga/divulgação)

Pimpa e o dono, Armando, guiam o visitante pela Itália na exposição em cartaz em BH

crédito: Raquel Braga/divulgação

 

 

Pimpa, a simpática cadelinha branca com bolinhas vermelhas, encanta os italianos há 50 anos. Protagonista de vários livros infantis e gibis, a personagem já viveu todo tipo de aventura. Encontrou Galileu Galilei na Torre de Pisa, o Pinóquio no carnaval de Veneza, conheceu o tataraneto do grande Spartacus em frente ao Coliseu e visitou Leonardo da Vinci na casa do gênio renascentista, onde comeu macarronada feita pelo próprio pai da Mona Lisa.

 


Criação do cartunista Francesco Tullio Altan, Pimpa está para a Itália assim como a Turma da Mônica está para o Brasil. É essa popularidade que a exposição em cartaz na Casa Fiat, a partir desta terça-feira (9/7), pretende mostrar.

 

 

 


Ao longo do terceiro piso, Pimpa guiará o visitante por ambientes lúdicos e interativos. O trajeto é uma breve viagem pela Itália. Passa por fazendas e plantações de maçã de Trentino Alto Ádige, pelas queijarias de Parma, pelo futebol em Milão. Mostra danças típicas da Puglia e as fábricas da Ferrari e Lamborghini em Módena.


Máscaras e quiz

 

Pode-se interagir com a exposição por meio de objetos relacionados com a narrativa – entre eles, varas de pescar e máscaras do carnaval veneziano. Para os pequenos, há jogos de quiz que avaliam o quanto o conteúdo da mostra foi absorvido.

 


“Faço desenhos, histórias em quadrinhos e ilustrações desde que nasci. Mas nunca tinha desenhado coisa para criança antes da Pimpa”, conta o italiano Altan, de 81 anos.

 


O cartunista iniciou a carreira em 1976, publicando charges em jornais. Zombando dos poderosos – de políticos influentes à imprensa –, Altan foi considerado um dos mestres da sátira em seu país. O principal alvo dele foi o ex- primeiro-ministro Silvio Berlusconi, morto no ano passado.

 


“Vinha de um universo que era do mundo adulto. Escrevia histórias que – como poderíamos dizer? – eram um pouco brutais. Sempre foi assim. Não eram histórias para crianças”, lembra ele.
Altan só criou Pimpa para distrair a filha pequena. Certa vez, estava com a menina no colo e, para entretê-la, começou a desenhar quadrinhos sobre a cadelinha malhada.

 


“Quando meu agente (literário) viu o desenho, me convenceu a mostrar para algum editor para a gente tentar publicar. O editor para quem mostrei a Pimpa aceitou publicá-la, e há 50 anos venho desenhando bolinhas vermelhas atrás de bolinhas vermelhas”, brinca.

 

Leia também: Exposição sobre Ziraldo em BH encanta adultos e crianças

 


Altan não tem a menor dificuldade para falar português. Aos 25 anos, atravessou o Atlântico a convite de um amigo cineasta que filmaria no Brasil. Chegou no auge do Cinema Novo, fez amizade com os diretores Gustavo Dahl e Glauber Rocha.

 


Também ficou amigo de Ziraldo, Miguel Paiva e “toda a turma do Pasquim”, afirma, referindo-se a Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral. No Brasil, conheceu Mara, com quem está casado há quase 60 anos.

 


Desenho da cachorrinha Pimpa com astronauta na exposição Pimpa

Pimpa apresenta Samantha Cristoforetti, astronauta italiana, aos brasileiros

Raquel Braga/divulgação

 

Lançada na década de 1970 como símbolo de imaginação, descoberta e liberdade, Pimpa ganha novos significados nos dias de hoje, sobretudo no contexto sociopolítico em que ideias autoritárias e preconceituosas contaminam a sociedade.

 


Em abril do ano passado, o ministro da Agricultura e Segurança Alimentar da Itália, Francesco Lollobrigida, declarou sobre os imigrantes: “Devemos apoiar mais nascimentos, não a substituição étnica”. A fala repercutiu mal, foi considerada racista e xenofóbica.

 


No entanto, Altan diz que a ressignificação de Pimpa não é intencional por parte dele.

 


“A Pimpa nasceu assim, relacionando-se com personagens e situações que ocorrem ao seu redor. Sua relação com as outras personagens e com tudo o que vive no mundo dela ganhou sentido maior por haver problemas que ficaram muito maiores ultimamente”, analisa.

 


“São questões como a diversidade, reconhecer a pessoa que é diferente de você. Que tem outra cor de pele, tem outras ideias na cabeça. Que tem tendências sexuais diferentes”, prossegue. “Isso deu novo significado às coisas da Pimpa. Foi sem querer, uma coincidência de tempos”, conclui.

 


“PIMPA NA CASA FIAT DE CULTURA”

Desenhos de Francesco Tullio Altan. Abertura nesta terça-feira (9/7), às 19h. Em cartaz até 18 de agosto. Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10, Funcionários). Funciona de terça a sexta, das 10h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h. Entrada franca. No próximo domingo (14/7), às 10h30, será realizada a contação de história “A maleta de Pimpa”. Atividade gratuita, mediante retirada de ingressos na plataforma Sympla. Informações: (31) 3289-8900.