O sambista carioca é atração deste sábado do Jardim Sonoro, festival produzido pelo Instituto de Arte Contemporânea Inhotim -  (crédito: Tulio Santos - 1/7/2023 - EM/D.A.Press)

O sambista carioca é atração deste sábado do Jardim Sonoro, festival produzido pelo Instituto de Arte Contemporânea Inhotim

crédito: Tulio Santos - 1/7/2023 - EM/D.A.Press


Foi em 1º de julho de 2023 que Paulinho da Viola trouxe a Belo Horizonte a turnê em que celebrou suas oito décadas de vida. O ano passado, desde então, foi de muitos acontecimentos: ainda no final de julho, passou por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino delgado, o que o obrigou a cancelar alguns shows.

 


Recuperado, já em setembro retomou a agenda, que culminou com um show gravado em 25 de maio último, no Rio de Janeiro. Encerrou ali a temporada comemorativa, cujo registro deverá ser lançado em um DVD, neste ano, pela Som Livre, gravadora com que assinou recentemente. Suas duas próximas apresentações serão em Minas Gerais.

 


A primeira, neste sábado (13/7), será como principal atração do Jardim Sonoro, festival de música produzido por Inhotim. O evento, em Brumadinho, vai de sexta (12/7) a domingo (14/7), com atrações nacionais e internacionais dialogando com a produção artística do Instituto de Arte Contemporânea. Já em 10 de agosto ele se apresenta no Palácio das Artes (os ingressos estão quase esgotados).

 


Paulinho da Viola vai conhecer Inhotim justamente no festival. Preparou um repertório para esta estreia – sua filha, a cantora Beatriz Rabello, vai dividir com ele quatro canções. Viaja para BH na noite desta quinta (11/7). Com a idade, diz (chega aos 82 em 12 de novembro), sempre reserva um dia para descansar. Com a tranquilidade e a elegância de sempre, ele falou ontem com o Estado de Minas: “Não posso reclamar de nada”.

 


Pouco depois do show de BH, você passou mal e fez uma cirurgia. Como foi esse período?
Antes, eu tinha feito exames, e o próprio médico me advertiu: ‘Olha, é preciso a gente examinar com cuidado uma coisa que eu observei.’ O médico é um amigo, muito ligado à gente, então expliquei: ‘Eu tenho três shows que vou fazer agora e, assim que terminar, a gente aprofunda esses exames’. Só que logo no primeiro show, em Três Rios, no interior do estado (do Rio de Janeiro), no momento em que ia fazer a passagem de som, não me senti bem.

 

Ligaram para o médico, providenciaram transporte e fui para o Rio direto para o hospital. Fizeram o procedimento e, felizmente, não era nada demais. Não sabem nem classificar muito, mas não era nada sério. Às vezes acontece, né? A gente continua fazendo exames. Não tem nem uma semana que fiz e os resultados foram, segundo eles, excelentes.


Repensou a vida durante seu restabelecimento?
Acho que fazer esse autoexame é sempre muito difícil. Por mais que a gente diga que não, a gente sempre muda e, muitas vezes, não percebe.

 

A vida é assim mesmo: idade, novos desafios, vitórias e derrotas, para todo mundo. Depois de certo tempo, você faz um balanço, né? Sempre penso que não posso reclamar de nada. E aí sigo tocando, até quando for possível.


E compondo? Tem trabalhado em novas músicas?
Quando teve a pandemia, comecei a tocar mais violão. Notei que, nos shows, vinha tocando pouco violão, era mais cavaquinho, porque o grupo tem meu filho (João Rabello), que é violonista, então eu estava dando prioridade a músicas em que o cavaquinho era mais utilizado.

 

Então foi um período em peguei o instrumento e comecei a tocar. Por incrível que pareça, ideias vieram para o instrumento, tanto que acabei fazendo músicas para ele. Duas foram gravadas por um solista (João Camarero).

 

Tem outras que ainda não pensei em letra. Eu levei um susto (quando vieram as composições), mas isto é coisa que a gente não controla. Acho que vem de uma memória de outros tempos, de quando estava mais envolvido com o choro, com o instrumental.

 


Acredito que vai haver um público jovem no Jardim Sonoro, gente que foi apresentada recentemente à sua obra. Como você vê a sua relação – e a de seus contemporâneos – com uma nova plateia, que só foi conhecê-los na maturidade?
É um bom sinal, no sentido de que música e arte são coisas de todos os tempos, felizmente. A música brasileira é muito rica, mas é muito nova. Se você pensar, há só um século desde quando o rádio chegou, então é pouca coisa. Quanta coisa não aconteceu na música brasileira e continua acontecendo?

 

(O que acontece hoje) Aconteceu com a minha geração, quando nós estávamos começando, no início da década de 1960, você procurava saber o que foi feito antes. A nossa música tem essas possibilidades, você tem ideias muito novas, gente fazendo trabalhos experimentais.

 

O que muda mesmo nessa relação é que hoje as pessoas ficam com o celular na mão acessando quase tudo. Isso parece que vai ser sempre assim, mas acho que tem alternativas que são parte do mundo analógico.


No seu mundo analógico, o que tem ouvido?
Não tenho ouvido tanta coisa não. Às vezes busco uma coisa brasileira de um disco que tenho mas ainda não conheço, ou algum estrangeiro. Mas o que não deixo mesmo é de ouvir Pixinguinha.

JARDIM SONORO
Desta sexta (12/7) a domingo (14/7), em Inhotim. Ingressos (por dia): R$ 50 e R$ 25 (meia). À venda no Sympla.


Programação

Sexta (12/7)

9h30, 10h30, 11h30 e 12h30: Visitas mediadas à Forty Part Motet, de Janet Cardiff (Galeria Praça) e ao Sonic Pavillion, de Doug Atkin


13h: Bate-papo com o músico e escritor Kalaf Epalanga (espaço Igrejinha)


15h: Zoh Amba (sax solo, palco True Rouge)

Sábado (13/7)

11h: Ballaké Sissoko & Vincent Segal (violoncelo, palco True Rouge)


13h: Joshua Abrams & Natural Information Society (palco Tamboril)


15h: Paulinho da Viola (palco Magic Square)


16h30: Kalaf Epalanga (palco Magic Square)

Domingo (14/7)

11h: Kham Meslien (contrabaixo solo, palco True Rouge)


13h: Sambas do Absurdo, com Juçara Marçal, Gui Amabis, Rodrigo Campos e Regis Damasceno (palco Tamboril)


15h: Aguidavi do Jêje (palco Magic Square)