O compositor carioca João Guilherme Ripper conta que desenvolve também um projeto com a Orquestra Ouro Preto, previsto para o ano que vem -  (crédito: Renato Mangolin/Divulgação)

O compositor carioca João Guilherme Ripper conta que desenvolve também um projeto com a Orquestra Ouro Preto, previsto para o ano que vem

crédito: Renato Mangolin/Divulgação

Ao longo de 2023, o compositor e regente carioca João Guilherme Ripper encerrou sua segunda passagem pela direção da Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro; assumiu a coordenação do projeto de reconstrução do Teatro Villa-Lobos, em São Paulo; e viu cinco óperas suas serem montadas no Brasil e no exterior.

 


No finalzinho do ano, ainda teve tempo de estrear o concerto “Abertura Cartagena”, na Sala São Paulo. “Mas vou falar uma coisa, este 2024 está muito mais intenso do que o ano passado”, afirma o maestro ao Estado de Minas.

 


Prestes a completar 65 anos, Ripper está com duas estreias de óperas no Brasil e uma na Colômbia: “Devoção”, encomenda da Fundação Clóvis Salgado,cuja pré-estreia será neste sábado (13/7), em Congonhas; “Candinho”, que entrará em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo; e “La vorágine”, baseada no romance do autor colombiano José Eustasio Rivera, que será montada em Bogotá.

 


“Além dessas três óperas, neste ano já escrevi um concerto encomendado pelo Ministério das Relações Exteriores em homenagem aos 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal e, na semana que vem, vou estrear um concerto para piano e cordas chamado ‘Abaporu’”, diz.

 


Não é tudo. “Em outubro estarei em projeto com a Neojiba, que é uma orquestra da Bahia, e logo depois em outro projeto no Teatro São Pedro, em Porto Alegre. Também estou desenvolvendo um trabalho com a Orquestra Ouro Preto que deve sair ano que vem”, cita.

 


Ajustes na partitura

Ainda que Ripper não assine a direção artística nem a musical desses espetáculos, ele acompanha tudo de perto para fazer os últimos ajustes. São mudanças na partitura, com inclusão de harmonias ou o corte de trechos desnecessários.


O interesse inicial do compositor não era a música, e sim a poesia. Até 15 anos, Ripper acreditava que seguiria a carreira literária. Começou a escrever versos ainda bem criança. “Depois, quando comecei a aprender a tocar instrumentos, passei a querer musicar os meus poemas. E, assim, fui criando minhas primeiras músicas”, diz ele.

 

 

Na graduação, Ripper cursou composição. Ao longo dos estudos, começou a se interessar por música de câmara e, depois, por ópera. De suas 114 composições, 11 são óperas. A primeira foi “Domitila” (2000), encomendada pelo CCBB-RJ. A obra é baseada nas correspondências entre D. Pedro I e Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.

 


Ripper também se dedicou à gestão cultural. Foi diretor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especializou-se em economia e financiamento da cultura na francesa Université Paris-Dauphine e, por duas vezes, assumiu a direção da Sala Cecília Meireles, de 2004 a 2015 e de 2019 a 2023.

 


A troca dele por Aldo Mussi, no ano passado, repercutiu mal entre os músicos da instituição. Rumores diziam que a mudança ocorreu por pressão sobre a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro para atender a grupo político do município de Macaé; onde a família Mussi ocupou a prefeitura por vários mandatos e o próprio Aldo já foi secretário municipal de Cultura e Turismo. A pasta nega.

 


“A pandemia foi meu maior desafio (trabalhando com gestão cultural)”, diz Ripper, que, na época, ainda estava à frente da Sala Cecília Meireles. “O meio musical parou. Os músicos ficaram sem trabalho. Então, tínhamos que encontrar alguma solução para isso. E, pela primeira vez, os teatros se reuniram e criaram o Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de Concerto”, lembra ele.

 


Uma das principais realizações do fórum foi a aprovação pelo poder público nacional de protocolos para a abertura dos teatros sem plateia.

 


Ripper agora está focado na estreia de “Devoção”. Com texto de André Cardoso, a ópera inédita trata da influência da fé na vida das pessoas. Ambientada na Congonhas do século 18, “Devoção” conta a história da construção do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Reza a lenda que a igreja foi construída como pagamento de uma promessa feita por um morador local.

 


A ópera será encenada no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes entre os próximos dias 19 e 23. Os ingressos estão à venda via site.

 

“DEVOÇÃO”


Ópera inédita da Fundação Clóvis Salgado. Pré-estreia neste sábado (13/7), às 17h30, em frente ao Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (Praça Bom Jesus, Centro de Congonhas). Entrada franca. Dias 19, 20, 22 e 23 de julho, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos à venda por R$ 50 (inteira / primeiro lote) e R$ 60 (inteira / segundo lote), na bilheteria do teatro e pelo site Eventim. Meia-entrada na forma da lei. Mais informações: (31) 3236-7400.