Chico César, Maria Rojobarcelo e Esteban Blanca foram surpreendidos pela 
pandemia no Uruguai e ficaram impossibilitados de retornar a seus países -  (crédito: josé de holanda/divulgação)

Chico César, Maria Rojobarcelo e Esteban Blanca foram surpreendidos pela pandemia no Uruguai e ficaram impossibilitados de retornar a seus países

crédito: josé de holanda/divulgação

Quando a pandemia alcançou a América do Sul, o cantor e compositor Chico César estava no Uruguai. Participava de evento de música em prol de uma casa de shows local que pegou fogo e, na ocasião, conheceu os músicos argentinos Maria Rojobarcelo e Esteban Blanca. Com a impossibilidade de os três voltarem para seus respectivos países em meio à crise sanitária, acabaram se aproximando e travando amizade.

 
Chico, Blanca e Rojobarcelo dividiram o mesmo teto durante quatro meses. E, desse período de convivência, nasceu o disco “Belezas para nós”, que chega agora às plataformas digitais.
“Não foi nada muito pensado”, diz Rojobarcelo.

 

 

 

“Foi como um lindo acidente. A gente se juntava e brincava ali com os instrumentos e, de repente, tínhamos uma canção”, conta sobre o processo de composição das 11 faixas inéditas que integram o álbum – o disco traz ainda a versão em espanhol de “Estado de poesia”, de Chico César.

 

“O contrário da morte é a dança. É a alegria. Nós três nos encontramos durante aquele período (do início da pandemia) e celebramos a alegria de estarmos vivos, num lugar (o Uruguai) onde a pandemia não estava tão acentuada e que tinha um governo que cuidava de quem adoecia”

Chico César, antor e compositor


São músicas gravadas em português, espanhol e inglês, que transitam por diferentes sonoridades. Tem desde o pop setentista, passando pelo baião brasileiro, o canto ruminado dos Pampas, até o indie rock norte-americano.

 


“É preciso navegar” abre o disco com um quê de salsa, enquanto “I don’t say goodbye” é uma balada romântica e “Vive livre” está mais próximo de baião estilizado. “I'm the wolf”, por sua vez, é um folk e “Tamo la juanita” traz o canto ruminado para o repertório.

 

Nascimento espontâneo

“Como a Maria disse, nada foi muito planejado. Fomos fazendo as músicas de maneira descompromissada até que, já com tudo nas mãos, fui percebendo que cada canção tinha suas características, mas meio com uma vibe anos 1970. Então procurei misturar isso com elementos de hoje para trazer a modernidade”, conta Blanca, que assina a produção de todas as faixas.

 

O projeto inicialmente se chamaria “El reino de Urón”. O nome é o mesmo da última faixa, que, num compasso simples, mas que reflete todo o colorido do continente, sugere um mundo lúdico onde os homens convivem em harmonia com os animais. Como diz a canção, “quando Urón reinar, todo mundo vai poder balir, miar, latir e até silenciar”, coexistindo junto dos “porcos invisíveis e as galinhas tagarelas, com as portas sem tramela ninguém não tá nem aí”.

 


Urón existe na vida real, garantem os músicos. Ele é um uruguaio humilde, funcionário de um supermercado em José Ignacio. Sua função é descarregar caminhões e levar as compras até os carros dos clientes.

 

“José Ignacio é como se fosse Trancoso do Uruguai”, compara Chico. “É onde os ricos têm suas casas e vão se divertir. O Urón é um homem simples que trabalha nessa cidade e que nós conhecemos. O que imaginamos, então, foi um lugar mítico que existe paralelo àquele mundo dos ricos. Esse lugar é justamente o Reino de Urón e é muito mais legal do que o mundo real, às vezes aborrecido e subreptício.”

 

 

Quando o Urón da vida real soube da música, não se conteve. “Ele dava saltos, dizendo: ‘Poxa, nunca olharam para mim, nunca ninguém percebeu que eu existia e vocês fizeram uma música para mim'”, lembra Chico.

 

Ode à alegria

Mesmo que as músicas tenham sido escritas em período pandêmico e num contexto atípico para os músicos, “Belezas pra nós” não glamouriza a tristeza e a tragédia. Pelo contrário, o álbum é uma ode à alegria.

 


“O contrário da morte é a dança. É a alegria. Nós três nos encontramos durante aquele período e celebramos a alegria de estarmos vivos, num lugar onde a pandemia não estava tão acentuada e que tinha um governo que cuidava de quem adoecia”, destaca Chico.


“Então, no disco, nós celebramos a vida, deixando a morte para outro momento. Nas músicas, falamos da alegria, da vida e da alegria de estar vivo. Acho que falamos da pandemia olhando para o remédio, e não para o vírus”, diz.

 
O trio tem planos de sair em turnê com o disco, mas tem problemas com agenda. Rojabarcelo e Blanca desenvolvem juntos o projeto El Nirvana e, paralelamente, seguem carreiras solo.

 


Chico está com três turnês: uma com Zeca Baleiro, divulgando o disco “Ao arrepio da lei” – em 16 de agosto, eles se apresentam no Palácio das Artes; ingressos já à venda no site Eventim –, outra com Geraldo Azevedo no projeto “Violivoz ao vivo” e a terceira com a própria banda. Por ora, a única apresentação agendada no Brasil foi a do último domingo (14/7), em São Paulo.

 
“Em algum momento, nós queremos unir nossas agendas – como conseguimos fazer agora para nos apresentar em São Paulo – para fazer mais shows no Brasil e em várias cidades da Argentina e Uruguai. No entanto, como nós concebemos esse disco não exatamente como um trabalho, mas como manifestação da expressão criativa dos três, pretendemos colocar essa expressão quando houver espaço e onde houver espaço”, afirma Chico. 

 

“BELEZAS PRA NÓS”
Disco de Chico César,
Maria Rojobarcelo e Esteban Blanca
12 faixas
Disponível nas plataformas digitais