Paulinho da Viola cantou e conversou com a plateia em sua primeira apresentação no Inhotim, ontem -  (crédito: Daniela Paoliello/Divulgação)

Paulinho da Viola cantou e conversou com a plateia em sua primeira apresentação no Inhotim, ontem

crédito: Daniela Paoliello/Divulgação

 

Foi com samba, afeto, alegria e delicadeza a estreia de Paulinho da Viola em Inhotim. Dona Ivone, Clementina de Jesus e Portela foram evocadas na tarde deste sábado (13/7), no segundo dia do Jardim Sonoro, festival que segue neste domingo (14/7), em Brumadinho.

 


Um “colega”, o marceneiro Carlão, funcionário de Inhotim (a marcenaria é um hobby antigo do sambista), anunciou a entrada de Paulinho.

 


“Onde a dor não tem razão”, “Amor à natureza”, “Quando bate uma saudade” e “Argumento” deram início ao show, Paulinho em pé, ao cavaquinho, acompanhado de seu septeto.

 


Contou histórias de antigos parceiros, Capinam (“Coração imprudente”), Sérgio Natureza (“Vela no breu”). Já sentado, violão em punho, depois de nova afinação no instrumento, mandou a clássica das clássicas de Lupicínio Rodrigues, “Nervos de aço”. “Dança da solidão” o levou novamente ao cavaquinho.

 


A plateia, já tomada, cantou junto boa parte do show. Com a entrada da filha, Beatriz Rabello, a apresentação ganhou mais calor. Foram várias em duo, alguns clássicos do samba, mais “Bloco do amor”, presente de pai para filha que se tornou título do álbum de estreia da cantora, de 2016.


Plateia de pé

Àquela altura, o público, na parte frontal do palco, sentado num mar de cangas no gramado, já se aquietava. Levanta um daqui, outro de lá, a parte final foi com todos em pé. Não havia como segurar diante de um repertório com “Pecado capital”, “Coração leviano”, “Peregrino”, “Bebadosamba”, “Timoneiro”.

 


Paulinho levou uma multidão a Inhotim, 5 mil pessoas, a lotação do parque. Era fila pra tudo, mesmo com todos os restaurantes e bares em funcionamento, mais um espaço com barracas montadas para o evento. Como a área onde o palco foi montado (nos fundos da obra “Magic square”) é circundada por muitas árvores, quem chegou cedo se deu bem. Mas muita gente só conseguiu vê-lo de longe.

 


Ainda que ele tenha, não sem razão, concentrado as atenções, o público prestigiou nomes que alguns poderiam considerar “difíceis”.

 


Balela, é o que ficou provado já no início do dia, quando a dupla Ballaké Sissoko e Vincent Segal abriu os trabalhos no palco True Rouge. Emoldurados pela obra de Tunga que inaugurou Inhotim, o maliano e o francês apresentaram um repertório camerístico, em que o corá (harpa-alaúde de 21 cordas) e o violoncelo duelaram em pé de igualdade.

 


Segal, falando em um português esforçado, se lembrou da última vez que se apresentou no Brasil, em Recife. Tanto que o ponto alto do show foi uma ousada versão de “Asa Branca” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

 


Mais paciência foi exigida do público a seguir, no palco Tamboril, com o quarteto New Information Society, capitaneado pelo jazzista Joshua Abrams. Ele tocou o guembri (ou sintir), instrumento de três cordas da região do Magrebe, numa apresentação minimalista ao extremo, diga-se de passagem.

 


Atração de hoje

Foi por meio do ensaio filosófico “O mito de Sísifo” (1942), de Albert Camus, que o músico Rodrigo Campos conceituou o projeto Sambas do Absurdo. “Julgar se a vida vale ou não ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia”, escreveu o escritor e filósofo franco-argelino.

 


Campos montou um trio – a cantora Juçara Marçal, o produtor Gui Amabis e ele – para dar interpretação muito pessoal para a existência humana. Lançaram dois discos, “Sambas do Absurdo – Volumes 1 e 2” (2017 e 2022), que tiveram a colaboração de Nuno Ramos nas letras.

 


O primeiro foi apresentado em Belo Horizonte, no Festival de Arte Negra (FAN) de 2019. O segundo, com oito faixas, vai dominar o repertório do show que eles fazem neste domingo (14/7), em Inhotim. No palco, terão a presença do guitarrista e baixista Regis Damasceno.

 

“Na verdade, os sambas clássicos são todos absurdos, tanto pela visão de mundo quanto pelo jeito de lidar com o desencanto. É a ideia de que, se você pensar nas agruras da vida, não vive. Então aprende a viver com os absurdos. Só que os grandes sambistas sabem disso faz tempo”

Juçara Marçal,

Juçara Marçal, cantora


“Já no segundo disco (as canções) não estavam tanto dentro do universo que inspirou o primeiro. Na verdade, os sambas clássicos são todos absurdos, tanto pela visão de mundo quanto pelo jeito de lidar com o desencanto. É a ideia de que, se você pensar nas agruras da vida, não vive. Então aprende a viver com os absurdos. Só que os grandes sambistas sabem disso faz tempo”, diz Juçara.

 


A inconfundível voz de Juçara (que fez show em BH na semana passada, com o Metá Metá) ganha um registro mais suave com este projeto. “Canto sempre em resposta ao que está no entorno. Se estou numa construção de arranjos com guitarra, metais, bateria, respondo de maneira mais pulsante. Os samples que o Gui coloca no Sambas do Absurdo têm sonoridade de orquestra. Tem flauta, violino. Inevitavelmente, a voz acaba acompanhando isso. Então acho que ela sai mais delicada”, afirma. 

 


Programação

11h: Kham Meslien (contrabaixo solo, palco True Rouge)

13h: Sambas do Absurdo, com Juçara Marçal, Gui Amabis,
Rodrigo Campos e Regis Damasceno (palco Tamboril)

15h: Aguidavi do Jêje (palco Magic Square)

JARDIM SONORO
Neste domingo (14/7), em Inhotim. Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia). À venda no Sympla.