Fotógrafo belo-horizontino radicado em São Paulo, Érico Hiller está com dois trabalhos no prelo, resultantes de pesquisas e viagens pelo Brasil e pelo mundo. Nesta terça-feira (16/7), ele participa do Foto em Pauta, no Cine Santa Tereza. Além da conversa com o público mediada pelo coordenador do projeto, Eugênio Sávio, Hiller vai mostrar imagens dos livros “Água Brasil” e “Do desespero à dignidade”, ambos em processo de finalização.
A apresentação em BH será um spoiler dos dois trabalhos, que dependem apenas de recursos adicionais para publicação, conta Hiller. Ele destaca que a questão hídrica no Brasil e a violência sofrida pelas mulheres são temas que emergiram a partir de outras temáticas que já vinha explorando.
“Na fotografia documental, um tema vai levando a outro. Nossas pesquisas sociais e as andanças vão nos colocando frente a frente com histórias que não estavam previamente preparadas. O roteiro fluido vai acontecendo com a vivência, na medida em que você está em contextos que interessam”, diz.
“Água Brasil” resulta de trabalhos de Hiller com foco na vida selvagem, como “A jornada do rinoceronte” (2016), por exemplo. “Já tinha abordado a crise hídrica em lugares onde ela é mais visível e quis ter um olhar para a questão no território brasileiro, onde a água é abundante, mas não chega como deveria para quem precisa”, explica.
“Do desespero à dignidade”, sobre a violência contra as mulheres, é fruto da visita dele a mais de 40 países. “Onde eu chegava, tinha uma mulher denunciando, por exemplo, o drama da mutilação genital feminina. Em alguns lugares, existe a prática do açoite de mulheres apontadas como infiéis. Na Índia, encontrei uma comunidade de mulheres atacadas com ácido. No Brasil, a questão do feminicídio é gritante”, destaca.
Machismo em xeque
Hiller diz que este panorama o angustiou. “Me calar diante das coisas que vi seria uma espécie de confirmação do meu machismo. O homem brasileiro da minha geração – estou com 47 anos – tem o machismo internalizado muito potente. Soltar essas imagens seria terapêutico para mim e para o mundo, mas, sobretudo, diz respeito às mulheres, pois elas pediam para ter suas histórias compartilhadas.”
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“Água Brasil” e “Do desespero à dignidade” são os primeiros grandes projetos em preto e branco do artista mineiro. Foi fotografia “p e b” que o motivou a abraçar a profissão. “Era um amor tão grande que relutei a me aventurar. Além disso, os temas que vinha fotografando pediam cor, nasciam de viagens a lugares como Índia e China. O preto e branco amarra linguisticamente os dois novos projetos que venho desenvolvendo há muito tempo”, explica.
De acordo com ele, ambas as temáticas foram ganhando força com o tempo. “Não saio de casa com a cabeça vazia. Saio com uma pesquisa, com consciência bem clara do que pretendo, mas a experiência comprova que o caminhar na rua é mais rico do que a imaginação. Normalmente, o quadro mental que faço em casa é bem mais pobre do que aquilo que vou encontrar. Mas isso não implica caminhar aleatoriamente. Geralmente, faço trabalhos de longo prazo e isso requer apuração”, destaca.
Mundo afora
Em 2008, Érico Hiller realizou amplo ensaio documental sobre tensões sociais em grandes cidades da Argentina, Brasil, China, Índia, México e Rússia. Entre 2011 e 2012, ele esteve no Ártico, Tanzânia, Etiópia, Maldivas e na mata atlântica brasileira, retratando regiões onde o meio ambiente está ameaçado.
As expedições pelo mundo propiciaram a publicação dos livros “Emergentes” (2008), “Ameaçados” (2012), “A jornada do rinoceronte” (2016) e “A marcha do sal” (2018). Neste último, Hiller refez o trajeto que Mahatma Gandhi percorreu na Índia, de Ahmedabad até a praia de Dandi, em 1930.
FOTO EM PAUTA
Com Érico Hiller. Nesta terça-feira (16/7), às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89,Santa Tereza). Entrada franca.