Desde 2017, o diretor artístico e regente titular da orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Fábio Mechetti, coordena
o projeto que tem o objetivo de gravar as nove sinfonias compostas por Gustav Mahler -  (crédito: Rafael Motta/Divulgação)

Desde 2017, o diretor artístico e regente titular da orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Fábio Mechetti, coordena o projeto que tem o objetivo de gravar as nove sinfonias compostas por Gustav Mahler

crédito: Rafael Motta/Divulgação


Por que Mahler? A resposta é simples diante da complexidade da obra. “Vem do desejo que toda orquestra tem de registrar um trabalho que, dentro do repertório, é o mais desafiador possível”, afirma o regente titular Fabio Mechetti, diretor artístico da Filarmônica de Minas Gerais.

 


Desde 2017, a orquestra se dedica ao projeto de gravar as nove sinfonias compostas pelo austríaco Gustav Mahler (1860-1911), que morreu deixando esboços da que seria a décima. Nestes sete anos, a Filarmônica registrou as sinfonias de número 1, 2, 3, 5 e 6. Quando terminar, se tornará a única orquestra do Brasil – quiçá da América Latina, acredita Mechetti –, a realizar tal feito.

 

 

Nesta quinta (18/7) e sexta (19/7), a Filarmônica apresenta, na Sala Minas Gerais, a “Sétima”. A partir do sábado (20/7), e durante cinco dias, a orquestra realiza a gravação desta obra. Também hoje, logo após o concerto, as cinco sinfonias já gravadas serão disponibilizadas nas plataformas digitais.

 

 

“Acho que vai ter um impacto muito grande, porque é um projeto ambicioso de uma orquestra brasileira jovem. Isto é emblemático”, continua Mechetti. Para as gravações que serão lançadas hoje, a Filarmônica contou com a participação das solistas Camila Provenzale, Luísa Francesconi e Denise de Freitas, além do Coro da Osesp, do Coral Lírico de Minas Gerais, do Concentus Musicum e do Coro Infantil Infantus.


No texto de apresentação do lançamento conjunto, o maestro escreveu sobre a dimensão da obra mahleriana. “É nela que nos vemos: seja aquilo que nos enobrece e exalta ou que nos envergonha ou deprime. É nela que o ser humano se transforma em música e a música se torna profundamente humana. É nela que gloriosamente ressuscitamos e tragicamente sucumbimos. Ela é fonte dos mais profundos questionamentos e das mais nítidas soluções. É nela que descobrimos a semente da vida e a inevitabilidade da morte.”


Modernismo


O projeto, diz ele, só passou a se tornar factível a partir de 2015, com a inauguração da Sala Minas Gerais. “A ideia inicial veio de provocar a orquestra, colocá-la em uma situação de superação. Mas o momento só veio quando achei que a orquestra tinha as condições técnicas para tal.”
Composta entre 1904 e 1905, a “Sétima sinfonia”, que estreou em 1908 em Praga com o próprio Mahler como regente, mostra o avanço do compositor para o modernismo.


Seus cinco movimentos somam 80 minutos. “Não é a mais longa nem a que tem mais músicos presentes, pois não tem participação vocal, como algumas das outras sinfonias. Mas talvez seja uma das mais tecnicamente difíceis. Cada movimento requer muita concentração dos músicos. Eles são bem contrastantes e há muitos solos. O movimento final é exuberante, enquanto o quarto, por exemplo, é mais íntimo”, explica Mechetti.


Mesmo que não seja a sinfonia que demande o maior número de músicos, a “Sétima” vai colocar quase uma centena deles no palco da Sala Minas Gerais. Haverá musicistas de fora. “O quarto movimento requer violão, que nunca havia sido utilizado em uma sinfonia até aquela época, e bandolim”, conta o maestro.

 

 

Haverá ainda uma segunda harpa e o eufônio, também chamado tuba tenor (menor do que a tuba convencional).


“O primeiro movimento começa com um solo de eufônio. Na percussão, haverá uma utilização bem típica de Mahler, que é uma daquelas campanas de vacas, o que dá um caráter pastoral, dos Alpes, região onde ele cresceu”, explica Mechetti.


Foi somente no pós-guerra que as sinfonias de Mahler receberam o devido reconhecimento. A partir da década de 1960, com a indústria do disco, sua difusão ganhou grande impulso.


25 horas de gravação

 

Para a gravação da “Sétima sinfonia” de Mahler, a Filarmônica de Minas Gerais terá 25 horas de trabalho (divididas em 10 sessões de 2h30) na Sala Minas Gerais. O processo terá início no fim de semana com o quarto e o quinto movimentos, que contam com músicos de fora de BH.


“No início da próxima semana, começamos a gravar os outros movimentos. Geralmente começamos pelos mais difíceis para depois relaxar um pouco. Reservamos o último dia para fazer retoques, caso precisemos”, conta o maestro Fabio Mechetti. Ao final de cada sessão de gravação, o regente e o engenheiro de som Ulrich Schneider, que registrou as cinco sinfonias anteriores, reveem todo o material para analisar se é necessário algum ajuste.

 

 

ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
“Sétima sinfonia” de Mahler. Nesta quinta (18/7) e sexta (19/7), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090 – Barro Preto). Ingressos de R$ 39,60 (mezanino) a R$ 180 (camarote). Valores referentes à inteira. À venda na bilheteria e no site filarmonica.art.br.