Chico Amaral gosta de improvisar para fazer com que cada show seja único -  (crédito: Facebook/reprodução)

Chico Amaral gosta de improvisar para fazer com que cada show seja único

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Na prateleira de discos de Chico Amaral, Jimi Hendrix divide espaço com Led Zeppelin, Beethoven, Chopin e Charlie Parker, saxofonista americano que revolucionou o bebop jazzístico. Dorival Caymmi é vizinho de Milton Nascimento, Edu Lobo está bem pertinho de Bob Dylan.

 

Todos eles contribuíram para o desenvolvimento da identidade musical do multi-instrumentista belo-horizontino, coautor da maioria dos sucessos do Skank – são dele, em parceria com Samuel Rosa, os hits “Vou deixar”, “Jackie tequila”, “Mil acasos” e “Tão seu”, entre outros.

 

 

 

“Eu nunca quis tocar saxofone igual ao Charlie Parker, até porque nem conseguiria, ou criar harmonias iguais às do Clube da Esquina. Mas são referências que tive”, diz Chico Amaral. “Tudo o que escutei ao longo da vida ficou dentro de mim e me ajudou a criar sonoridade própria. Me ajudou a imprimir a minha digital nas músicas”, acrescenta.

 

Fora do padrão

 

As composições de Chico, sobretudo aquelas feitas com seu quarteto instrumental – Christiano Caldas (piano), Enéias Xavier (baixo) e Lincoln Cheib (bateria) –, têm um quê diferente. Melodias não se enquadram na estética padrão do jazz, aproximam-se da bossa nova, sem, efetivamente, pertencer ao gênero, e ainda abrangem MPB e samba.

 

“Canções brasileiras”, disco mais recente de Chico, sintetiza isso bem. O repertório traz releituras de músicas conhecidas, mas a interpretação mantém certa distância do original. “Bachianas brasileiras nº 5”, de Heitor Villa-Lobos, por exemplo, se torna mais trágica no solo de saxofone acompanhado por piano, contrabaixo e bateria. “Esse cara” é menos melancólica do que a versão original de Caetano Veloso. E “Doralice”, de Dorival Caymmi, abre espaço para improvisos.

 

Todas elas estarão no repertório do Chico Amaral Quarteto, no próximo sábado (27/7), na casa de shows Autêntica. O grupo subirá ao palco depois de Hermeto Pascoal, que vai apresentar as músicas de seu mais recente disco, “Pra você, Ilza”, homenagem à esposa dele, morta há 24 anos.

 

Músico Hermeto Pascoal segura copo com água

Hermeto Pascoal, que cria música até com copo d'água, é o guru da improvisação musical no Brasil

Pedro Dimitrow/divulgação

 

“Hermeto é o grande mestre. É um cara muito criativo, está inventando a todo momento e sempre trazendo surpresas”, destaca Chico. “É alguém que me inspira muito, porque, além de ter identidade própria, está sempre improvisando. Tenho meus arranjos preparados aqui, mas também estou muito nesse espírito de improvisar, de fazer com que cada apresentação seja única, uma diferente da outra”, afirma.

 


As canções que o quarteto mineiro apresentará no sábado não são as mesmas dos discos. Também estão no repertório faixas de “Singular”, “Província” e “Plural”, álbuns da carreira solo de Chico Amaral. Há improviso em todas elas. “Bachianas brasileiras nº 5”, aliás, sempre termina de maneira diferente devido ao que rola naquele momento no palco.

 

 

 

A apresentação de Hermeto Pascoal e Chico Amaral marca o lançamento da quarta edição do Tabuleiro Jazz Festival, que será realizado em Tabuleiro, distrito de Conceição do Mato Dentro, de 8 a 11 de agosto. O show em BH é a prévia para o público ter um gostinho do que ocorrerá no festival.
“São quatro dias de intensa programação, quase seis horas diárias de música ao vivo”, afirma Aliéksey Vianna, curador do Tabuleiro Jazz.

 

“Tivemos de pensar uma programação que não fosse cansativa para o público. Por isso, levamos para o mesmo dia um guitarrista paquistanês que explora a sonoridade do Sul da Ásia e um venezuelano que toca instrumento harmônico que se aproxima do cavaquinho e do ukulele”, informa, referindo-se a Rez Abbasi e Roberto Koch, respectivamente.

 

Nivaldo Ornelas

 

O homenageado desta edição é o saxofonista belo-horizontino Nivaldo Ornelas, responsável por arranjos em discos de Milton Nascimento, Lô Borges, Tavinho Moura e Erasmo Carlos, entre outros. Na década de 1970, inclusive, Ornelas trabalhou com Hermeto Pascoal.

 

“Toda a programação foi pensada a partir da escolha do Nivaldo como homenageado”, revela Aliéksey.

 

Também vão se apresentar a Orquestra Opus com os solistas Otávio Castro, Fernando Araújo e Caxi Rajão; Adrielle Assis; Elaine Abras com Beto Lopes Trio; Júlia Guedes; e Antônio Loureiro Trio. O festival tem entrada franca e a programação completa está disponível no Instagram (@tabuleirojazzfestival).

 

HERMETO PASCOAL E CHICO AMARAL


Sábado (27/7), a partir das 21h30, na casa de shows A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Inteira: R$ 120 (lote 2). Tambor compartilhado/mezanino: R$ 80 e R$ 65. Mesa compartilhada/mezanino: R$ 75. Entradas à venda na plataforma Sympla. Meia na forma da lei.