Música de Luiza Lian explora o diálogo das artes visuais com ruídos eletrônicos e distorções digitais da voz  -  (crédito: Michele Diniz/divulgação)

Música de Luiza Lian explora o diálogo das artes visuais com ruídos eletrônicos e distorções digitais da voz

crédito: Michele Diniz/divulgação

A história é conhecida, mas não custa relembrar. Em janeiro de 1985, na primeira edição do Rock in Rio, grande parte dos artistas do line up, sobretudo os brasileiros, não contava com estrutura necessária para se apresentar ao vivo. Prestes a subir ao palco, a banda Os Paralamas do Sucesso descobriu que deveria ter cenário. O jeito foi improvisar com o vaso de planta do camarim.

 

Quarenta anos depois, isso é inconcebível. “Hoje, o show se tornou algo muito além da performance ao vivo do músico, pois é experiência única para quem vai assistir”, afirma o produtor musical Barral Lima.

 

 

 
Idealizador do Marte Festival, evento que se propõe a discutir o diálogo da arte com a tecnologia, Barral é responsável pela programação que começa nesta quinta-feira (25/7) e segue até sábado (27/7), em diferentes locais de Ouro Preto.

 

 

Casa da Ópera, Praça Tiradentes e os museus da Inconfidência e Boulieu receberão shows, palestras e painéis sobre transformações do mercado musical, técnicas para aliar música à tecnologia e o impacto da inteligência artificial na carreira dos artistas.

 

Diversidade

 

Ao longo de quatro edições, realizadas em 2017, 2019, 2021 e 2022, o Marte Festival reuniu nomes de várias gerações e vertentes musicais – João Bosco, Tulipa Ruiz, Russo Passapusso, Curumin, Edgar, Tuyo, Vhoor, Pena Schmidt, Marcio Buzelin e VJ1 Impar, entre eles. Além de promover shows, o evento discute a busca de soluções para crises do mercado musical e incertezas em relação ao futuro.

 

“Quando falamos em tecnologia, pensamos sempre no hightech, em aparelhos futuristas e coisas do tipo. Mas tecnologia é mais do que isso”, afirma Barral.

 

“Tecnologia é a ciência das técnicas. Então, qualquer coisa que você desenvolva dentro de casa com coisas bem rudimentares, como um pano, é tecnologia. É esta a ideia que a gente traz para as pessoas que trabalham no meio artístico.”

 

Estão confirmados shows de Maurício Tizumba, Bia Nogueira, Flor ET, Teto Preto, Juçara Marçal, Fausto Fawcett e Luiza Lian, entre outros.

 

 


A inteligência artificial (IA, em português; AI em inglês) estará em evidência. Estse debate entrará em cena nos painéis “Com ou sem AI – Como a criação de obras musicais pode potencializar a sua carreira fora dos palcos”; “AI e Big Data – Que bicho é esse?”; “Show versus espetáculo – Como transformar o show em uma grande experiência”; e “MTG – A revolução sonora de BH que está no top 10 das plataformas”.

 

Este último painel abordará as montagens (ou MTG, abreviação da palavra) que partem de músicas conhecidas e incorporam batidas eletrônicas minimalistas para gerar novo produto, com som mais agudo. Funkeiros e rappers de Belo Horizonte vêm se destacando nesta cena.

 

Luiza Lian: além da música

 

Artista que iniciou carreira em 2015, Luiza Lian dialoga bem com a proposta do Marte Festival. Em seu trabalho, a paulistana de 33 anos procura expandir o conceito de música para além dos fonogramas.

 

Artes plásticas, cinema, teatro, fotografia, moda, arte digital e performática fazem parte das apresentações ao vivo e clipes da cantora.


Na próxima sexta-feira (26/7), Ouro Preto vai receber “7 estrelas/quem arrancou o céu”, eleito o show do ano pela respeitada Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2023.

 

“É quase ópera”, afirma Luiza Lian. “Ele tem a característica muito forte de ser algo visual”, comenta. Canções dela experimentam sonoridades artificiais proporcionadas por aparatos tecnológicos. Ruídos eletrônicos e distorções digitais da voz são marca registrada das produções da cantora paulista.

 

 

 


Apesar de familiarizada com a tecnologia, Luiza analisa com cautela as transformações que vêm ocorrendo. É o caso da criação de música por meio de inteligência artificial, que tem gerado debates acalorados.

 


“É muito complexa a discussão sobre inteligência artificial, porque se trata de uma coisa ainda muito iminente”, afirma Luiza Lian. “Mas, ao mesmo tempo, sinto que o foco do problema está no lugar errado. Inteligência artificial não é ameaça por conta própria. Ela é ameaça dentro desta estrutura, desta lógica do streaming, de algoritmo, de manipulação mental”.

 

Para a artista, o debate deveria se dar em torno dos direitos autorais, da tecnocracia e do que ela define como colonialismo de dados e apropriação geral de direitos criativos da humanidade.

 

“Se a inteligência artificial é fruto da propriedade intelectual da humanidade (por criar coisas com base no que já foi inventado pelo ser humano), é a humanidade que deve receber por isso, e não quem programou aquela ferramenta”, avalia. “Minha questão não é a inteligência artificial em si – e sim quem a está usando e como está usando”, finaliza Luiza Lian.

 


NO PALCO

 

. QUINTA-FEIRA (25/7)


19h30: Cortejo
Maurício Tizumba, Tambor Mineiro e Bateria Carabina. Do Museu Boulieu até a Praça Tiradentes

20h: Bia Nogueira
Praça Tiradentes

21h: Flor ET
Praça Tiradentes

22h: Luana Flores
Praça Tiradentes

 

. SEXTA-FEIRA (26/7)


21h: Bruo
Casa da Ópera (Rua Brigadeiro Musqueira, 104, Centro)

21h: Teto Preto
Museu da Inconfidência (Praça Tiradentes, 139, Centro)

22h: Pedra Branca
Praça Tiradentes

23h: Luiza Lian
Praça Tiradentes

 

. SÁBADO (27/7)


20h: Joana Marte
Praça Tiradentes

21h: Zaika dos Santos
Praça Tiradentes

22h: Juçara Marçal
Praça Tiradentes

23h: Fausto Fawcett
Praça Tiradentes


MARTE FESTIVAL
Shows, palestras e painéis sobre música e tecnologia. De quinta a sábado (25 a 27/7), em Ouro Preto. Entrada franca. Programação completa no site martefestival.com.br.