A escritora, jornalista e ex-colunista do Estado de Minas Célia Laborne morreu nesta quarta-feira (24/7) aos 99 anos. O velório será realizado nesta quinta-feira (25), a partir de 8h30, no Memorial Zelo, em Belo Horizonte (Avenida do Contorno, 8657 - Gutierrez).
Formada em Jornalismo em 1959, começou sua carreira no Diário de Minas, do Diários Associados, onde colaborava com uma coluna de arte, usando o pseudônimo Karina. Anos depois, passou para a reportagem do Estado de Minas, do mesmo grupo de comunicação, onde também assinou a coluna “Vida Integral”, no caderno feminino.
Célia se dedicou ao Jornalismo por décadas até anunciar sua aposentadoria. Em 2007, vendo a oportunidade de seguir escrevendo, mas dessa vez online, criou o blog Vida em Plenitude, onde produzia textos com reflexões filosóficas e de cunho espiritual. A última postagem, intitulada “A travessia dos 96 anos de vida”, foi a reprodução de um texto publicado originalmente no EM (leia abaixo).
Manteve também um blog chamado “Poemas da Célia”. A paixão da jornalista pela poesia é antiga, estando presente no seu primeiro livro, “Luz sobre o mar”, publicado em 1967. Nas décadas seguintes, escreveu outras publicações como “Harmonia e Vida”, “Rota dos Sonhos” e “O Quinto Lótus” - este último sendo o mais recente, publicado em 2019.
Célia também se aventurou no ramo da pintura, tendo exposições de suas obras realizadas no Minas Tênis Clube - onde, inclusive, fez parte da equipe de natação.
Célia passou seus últimos anos em um imóvel privilegiado para idosos. Nas redes sociais, amigos e familiares lamentaram a partida da jornalista. Uma amiga comentou: “Célia foi reinar em outras moradas. Descanse na luz, amiga de alma e do coração”.
A travessia dos 96 anos de vida
Não há lição maior do que a de uma pessoa que passa dos 90 anos. Para mim, chegou a vez de aprender com a inesperada pandemia da COVID-19, nada agradável de se atravessar, mas que, realmente, nos ensina muitas coisas.
Hoje, eu me vejo passar por um tempo desafiador, não de todo lúcida, mas sempre assimilando alguma profunda verdade, que provavelmente não encontraríamos de outra forma. Estou vencendo etapas que não estavam no meu programa, mas que me trouxeram pedaços da grande sabedoria que só Deus pode nos dar, quando nos fixamos nos seus ensinamentos mais profundos.
Eu busco sustentação nas bases da filosofia oriental, que aprendi a amar e difundir aqui no Ocidente. Lições de profunda sabedoria milenar, que nos trazem para o centro de nós mesmos, proporcionando o aprimoramento da nossa espiritualidade. A exemplo disso, a recente pandemia envolve toda a humanidade, sem que para ela estivéssemos preparados.
Esse vírus agressivo veio alertar a humanidade para que nos voltemos mais para aquilo que o universo nos pode dar e nos faz compreender melhor a vida em sua plenitude. Assim também como a antivida, ou seja, uma forma de viver sem razão de ser, sem consciência do propósito mais profundo de estar neste planeta.
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Uma das lições aprendidas na pandemia é a necessidade de se criar um novo modo de convivência, já que não podemos abraçar, nem mesmo nos aproximar das pessoas que amamos. Estamos recorrendo às formas virtuais para abastecer a ausência pessoal dos parentes e amigos, que se tornam presenças constantes na nossa comunicação.
Confesso que, graças à internet, eu me sinto até mais integrada com todos, apesar do distanciamento físico que nos foi imposto. Percebo que têm brotado sentimentos muito positivos nas manifestações que recebo dos amigos. As mensagens são sempre calorosas, cheias de empatia, de benevolência e abundantes em poesia. E, assim, seguimos compartilhando afetos, vivendo e aprendendo também com a pandemia.
Para mim, é uma dádiva atravessar os tempos atuais acompanhando e usufruindo das novas formas de comunicação que me são apresentadas e que me conectam com o mundo, sem sair do espaço em que vivo.
Quando olho pelo retrovisor da minha vida como um todo, vejo um filme que protagonizei com dignidade e, até aqui, no alto dos meus 96 anos, eu me sinto vitoriosa e agradecida por participar de tantas cenas significativas e ter muitas histórias para contar.
Célia Laborne