Nilze Carvalho ainda faz lives, mesmo depois da pandemia. Todos os domingos de manhã, lá está ela divulgando seu repertório autoral. Quando cantou “Amor segredo”, parceria com Nei Lopes, as pessoas queriam saber em que disco a música está gravada. “Eu sempre respondia: ainda não está, mas estará”, conta Nilze. A canção é uma das faixas do álbum “Nos combates da vida”, que acaba de chegar às plataformas digitais.
“Peguei quatro músicas minhas e outras que são meio lado B e não tocaram tanto, como é o caso de “Vida ao jongo”, de Lazir Sinval. Também tem a inédita “Menina miúda’, de uma compositora de São Paulo chamada Lili Figueiredo”, diz a cantora, compositora, cavaquinista e bandolinista.
Fluminense de Nova Iguaçu, Nilze Carvalho tem 54 anos, comemora os 45 de carreira. Começou ainda criança: aos 6, lá estava a menina-prodígio na TV Rio e no “Fantástico”; gravou o primeiro disco aos 12.
Teresa Cristina (“Candeeiro”) e o mineiro João Bosco (“Linha de passe”) são os convidados do novo álbum dela, com 13 faixas.
João Bosco, o fã
Gravar com João Bosco foi uma grande honra, diz ela. “João é uma pessoa talentosa, generosa, além de ser um grande artista. Gravamos três takes de ‘Linha de passe’, ele escolheu o terceiro, embora todos estivessem perfeitos e sem retoques”, conta Nilze.
“Adorei quando me convidou para fazer ‘Linha de passe’, porque sou fã dela. Espertíssima, é uma pessoa de talento muito grande e muito suingue, tem técnicas de cavaquinho já demonstradas lá no ‘Brasileirinho’, de Waldir Azevedo, peça dificílima”, diz João Bosco.
“Nilze compõe, canta e toca muito. Enfim, é uma musicista completa. Gravamos tipo ao vivo mesmo. Eu com meu violão, botando umas partes de voz, ela com o cavaco e mais um trio com bateria, baixo e percussão.”
O encontro dos dois se deu na Casa do Mato, na Gávea, perto do local onde João Bosco mora. “Acabou que Nilze veio para a minha área e pudemos jogar uma linha de passe daquelas em que a bola não cai. Fiquei muito feliz”, revela o cantor e compositor mineiro.
Nilze não tem o hábito de lançar um álbum por ano. “Normalmente, dou um tempo de três anos, mas este demorou seis. Além de ser comemorativo, é o disco da volta ao mercado fonográfico, porque já fazia um bom tempo. Um álbum que comemora minhas vitórias e conquistas pessoais”, conta ela, destacando que a inspiração veio da canção “Vida ao jongo”
“Cantei essa música em um show e pensei: “É a nossa cara, aquela coisa de estamos perigando, porém não podemos morrer. Temos de estar firmes e seguir adiante.”
"Me deixem fazer o que gosto"
Pela primeira vez, um álbum de Nilze Carvalho sairá só no streaming. “Sempre produzo meus discos, com exceção de ‘Estava faltando você’ (2005), com produção do Ruy Quaresma. Não tenho gravadora, me sinto à vontade para escolher o repertório”, explica.
“Não temos que nos moldar ao mercado porque não dá nem para competir, pois não temos nem dinheiro e nem perfil. Então, me deixem fazer o que gosto.”
Além de cuidar da produção do disco, coproduzido por Zé Luis Maia, ela assinou os arranjos com a contribuição dos músicos que a acompanham: Diego Zangado (bateria), Hudson Santos (violão), Luiz Augusto Guimarães (percussão) e Zé Luis (baixo).
Mulheres em destaque
Assim como a convidada Teresa Cristina, autora da faixa “Candeeiro”, outras vozes femininas do samba estão presentes no álbum. É o caso de Dona Ivone Lara. “Dela, peguei ‘Nos combates da vida’, que nós duas cantamos em um show e descreve positivamente toda uma situação, aquela coisa do ‘vamo simbora’”, comenta Nilze.
Leci Brandão também marca presença, com “Zé do Caroço” e “Isso é Fundo de Quintal”, parceria com Zé Maurício. “O feminino, em termos de compositoras, está bem representado no disco comigo, com Dona Ivone Lara, Lili, Figueiredo, Leci Brandão e com a Lazir Sinval.”
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Quando era pequena, Nilze adorava ouvir Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e Pixinguinha. “Meu pai era trompetista, havia música dentro da minha casa”, relembra. Autodidata, preferia “o cavaco” e também tocava bandolim. Tirava de ouvido músicas de autores norte-americanos.
Roda de samba em BH
Como diz o título de seu álbum, Nilze segue nos combates da vida e agora trabalha para viabilizar a nova turnê. “Estamos em contato com os três estados da Região Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Nordeste. Acredito que até o fim do ano já teremos vários shows agendados”, afirma.
BH não terá de esperar tanto para ouvir Nilze. Neste sábado (27/7), às 15h, ela estará entre os convidados da roda de samba comandada por Dé Lucas ao lado do Memorial Vale, na Praça da Liberdade. Marcos Sacramento, Ronaldo Coisa Nossa, Fran Januário e Dona Elisa são outras atrações.
FAIXA A FAIXA
“NOS COMBATES DA VIDA”
•De Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho
“AMOR SEGREDO”
•De Nilze Carvalho e Nei Lopes
“MENINA MIÚDA”
•De Lili Figueiredo
“É DE MANHÔ
•De Caetano Veloso
“NAS MINHAS MÃOS”
•De Nilze Carvalho e Zeca Leal
“ISSO É FUNDO DE QUINTAL”
•De Leci Brandão e Zé Maurício
“ZÉ DO CAROÇO”
•De Leci Brandão
“SERÁ QUE É AMOR?”
•De Arlindo Cruz, Babi e Junior Dom
“ARABIANDO”
•De Esmeraldino Sales
“BOCA A BOCA”
•De Nilze Carvalho e Cristino Ricardo
“LINHA DE PASSE”
•De João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio
•Participação de João Bosco
“VIDA AO JONGO”
•De Lazir Sinval
“ÁGUA DE NASCENTE”
•De Nilze Carvalho e Silvio Carvalho
“CANDEEIRO”
•De Teresa Cristina
•Participação de Teresa Cristina
“NOS COMBATES DA VIDA”
• Álbum de Nilze Carvalho
• 13 faixas
• Disponível nas plataformas digitais