Palhaços, Rainha e Peão improvisam a valer, instigando a plateia a participar da trama que se desenrola no palco transformado em tabuleiro de xadrez -  (crédito: Pri Garcia/Divulgação)

Palhaços, Rainha e Peão improvisam a valer, instigando a plateia a participar da trama que se desenrola no palco transformado em tabuleiro de xadrez

crédito: Pri Garcia/Divulgação

 

 

Terminada a partida de xadrez, quais são os sentimentos do perdedor? O que serve como motivação para os próximos passos? E o que fica de lição? Não estamos falando aqui do jogador derrotado, mas, sim, das peças sobre o tabuleiro. É daí que parte a dramaturgia de “A Rainha procura”, montagem da Cia. Trampulim que faz curta temporada em BH até 11 de agosto, com apresentações gratuitas aos finais de semana em diferentes teatros e espaços culturais.

 


Com estreia neste sábado (27/7), no Galpão Cine Horto – onde será encenada novamente no domingo (28/7) –, a comédia infantil apresenta ao público a personagem que sobreviveu ao xeque-mate junto do Peão. “Ela está devastada, porque perdeu todo o seu exército, seu reino e o rei”, afirma Adriana Morales, atriz, palhaça e diretora da Cia. Trampulim.

 


É ela quem dá vida à Rainha, personagem em desalento, não muito propensa a brincadeiras, que flerta com certo sadismo e tem rompantes de fúria diante de situações em que precisa tomar decisões importantes.



 

Tal qual a peça do xadrez, a Rainha caminha por todo o palco – transformado em tabuleiro, vale dizer – sem conhecer limites. Anda para a frente e para trás, pelas diagonais e laterais, avançando quantas casas quiser, ao passo que o Peão (Ricardo Ikier) só avança uma casa de cada vez.

 


“Ela foi muito inspirada na Rainha (de Copas) do Tim Burton”, conta Morales, referindo-se ao longa “Alice no País das Maravilhas” (2010), dirigido pelo americano. “Mas ela não é má em sua essência. A Rainha se vê numa posição inédita, tendo que governar sem jamais ter governado. Todo o autoritarismo dela, de certa forma, esconde algum medo”, acrescenta.

 


Seguindo os conselhos do Peão, a Rainha abre vagas para interessados em reconstituir a corte (duas torres, dois cavalos, dois bispos, etc). Contudo, os únicos candidatos que aparecem são dois palhaços (Tiago Mafra e Rafael Protzner), que pleiteiam o inexistente cargo de bobo da corte.

 


A audácia faz Sua Majestade quase matar a dupla no início da trama – “corte a cabeça deles”, a dupla ouve da intransigente protagonista. Contudo, graças ao bom humor, eles conseguem preservar a vida, depois de fazê-la rir. A Rainha abre exceção e cria a vaga para bobo da corte.

 


“Só um dos palhaços vai ocupar o cargo, e quem decide é o público”, adianta Adriana Morales. “Ainda que seja uma peça com marcações muito bem definidas, afinal, estamos interpretando em um grande tabuleiro, há muito espaço para o improviso. Isso faz a plateia jogar junto com a gente”, emenda.

 


O improviso está nos números musicais desenvolvidos pelos palhaços e pela Rainha, além das intervenções a cargo das crianças, que vão dando o direcionamento para o espetáculo.

 


Especialista em improviso, Adriana Morales não se intimidou com as incertezas que vão surgindo ao longo da montagem. O maior desafio dela foi interpretar uma peça de xadrez munindo-se das técnicas da palhaçaria.

 

 

Desafio em cena

 


“A Rainha é um objeto, a peça de um jogo. Não é como os palhaços, que trazem humanidade para o espetáculo. Então, preciso ter controle de todo o meu corpo e das minhas expressões. Todos os meus movimentos são os da peça de xadrez. Tudo o que quero expressar tem de ser feito pelo rosto e tom de voz. O andar pelo palco é como se estivessem me arrastando de um lado para o outro”, observa.

 


“A Rainha procura” é a primeira montagem não autoral da Cia. Trampulim. A peça foi escrita há quase 11 anos por César Gouvêa, ator, diretor, dramaturgo e idealizador do grupo paulista Cia. do Quintal. Ele, inclusive, assina a direção do espetáculo mineiro.


Prêmios

 

Em 2013, a montagem original ganhou o grande prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e também foi eleita o melhor espetáculo do ano pelo Guia da Folha. Tal sucesso, segundo Morales, é fruto da capacidade da dramaturgia de abarcar público amplo e diversificado.

 


“A personagem da Rainha exemplifica isso muito bem”, destaca a atriz. “Ela transita entre a loucura e a ingenuidade. É bom a gente lembrar que, para ela, cortar cabeças é quase brincadeira, mas as pessoas a enxergam de maneiras diferentes, dependendo da idade. As crianças veem a vilã má, mas, ao mesmo tempo, engraçada. Os adultos enxergam alguém que passa por várias emoções naquele contexto da peça”, explica.

 


Depois das duas apresentações deste final de semana no Galpão Cine Horto, “A Rainha procura” será encenada na Casa de Candongas, no Bairro Santa Cruz (dias 3 e 4/8); ZAP 18, no Bairro Santa Terezinha (em 9/8); e no Teatro da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, na Praça da Liberdade (em 11/8). Todas as apresentações têm entrada franca.

 

 


“A RAINHA PROCURA”


Com Cia. Trampulim. Neste sábado e domingo (27 e 28/7), às 19h, no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Entrada franca, mediante retirada de ingressos na bilheteria a partir das 18h. Informações: (31) 3481-5580.