Leonardo Marques, Jean Dolabella, Gustavo Drummond e Thiago Corrêa em 2001, na

Leonardo Marques, Jean Dolabella, Gustavo Drummond e Thiago Corrêa em 2001, na "van residência" da Diesel em Los Angeles

crédito: Acervo pessoal

 

Eles tinham 25 minutos para começar os trabalhos no Palco Mundo em 21 de janeiro de 2001, último dia do Rock in Rio 3. Depois de vencer mais de 200 bandas no concurso Escalada do Rock, a Diesel abriria a noite mais cheia do evento (240 mil pessoas) para Red Hot Chili Peppers.

 


“Avançamos um pouco o horário. Estava tocando na frente daquele mar de gente e o nosso roadie chegou dizendo que um coronel da Polícia Militar pediu para parar porque tinha um tumulto na entrada do festival”, conta Gustavo Drummond.

 


Faltavam, diz ele, 40 segundos para a música acabar. Mas o vocalista fez o que devia e avisou ao público pelo microfone. A interrupção deu pano para manga. “Pô, os caras do Red Hot Chili Peppers viram que o show estava bom demais e pediram para parar”, ri hoje Gustavo de uma das histórias que ouviu.

 

 

Fato é que a Diesel ganhou a atenção devida. Até no “Jornal Nacional” foi parar. Ao longo de 2001, a banda fez inúmeros shows no Brasil. Mas o olho estava sempre virado para os EUA. Até que no final daquele ano TC, Jean Dolabella, Leo Marques e Gustavo embarcaram para Los Angeles. Viveram verdadeira saga em busca do “sonho americano”.

 


Separados há 18 anos, Gustavo Drummond (voz e guitarra), Jean Dolabella (bateria), Leonardo Marques (guitarra) e Thiago Corrêa (baixo), o TC, voltam ao palco no dia 17 de agosto d'Autêntica, em Belo Horizonte, para comemorar os 25 anos de seu álbum de estreia, “Diesel”, lançado em 1999. Será apenas um show da banda que tem muita história para contar.

 

Leonardo Marques, Jean Dolabella, Gustavo Drummond e Thiago Corrêa

Leonardo Marques, Jean Dolabella, Gustavo Drummond e Thiago Corrêa ensaiam para voltar ao palco em 17 de agosto, na casa de shows A Autêntica, em BH

Luciano Viana/divulgação

 

Naquele já distante 2001, só Gustavo Drummond falava inglês fluente quando o quarteto desembarcou nos Estados Unidos. “Saímos daqui como heróis do indie e vivemos uma vida de filme nos EUA. Eu não sabia nada de inglês, virei lavador de carro. O Leo e o Jean vendiam sapato e o Gustavo entregava pizza” conta TC. A “casa” era a van dos anos 1970 que haviam comprado.

 


“Só que em dois, três meses, fomos descobertos pela indústria”, continua o baixista. Era surreal. Dormiam apertados no colchão que encontraram na rua, mas comiam a convite de executivos de gravadora em restaurantes badalados de Los Angeles. “Começamos a ser disputados”, recorda TC.

 

Quem é Clive Davis?

 

Assinaram com a J Records, selo criado por Clive Davis, “apenas” o figurão da indústria que descobriu Janis Joplin, Whitney Houston, Aerosmith, Alicia Keys e Maroon 5.

 


“Na verdade, a gente nem sabia quem era Clive Davis de fato. Mas vimos que a partir dali a gente iria dominar o mundo, né?”, diz Jean Dolabella.

 


O período da lua de mel foi lendário. Havia autoconfiança em excesso entre os quatro. “A gente viveu os últimos anos da era de ouro da indústria. E o Clive Davis era, talvez, o mais poderoso dos diretores artísticos da época”, diz Gustavo. Em 2002, passaram uma temporada abrindo para Jerry Cantrell, vocalista e guitarrista do Alice in Chains.

 


Até que veio a hora de gravar o disco. A ideia era gravar o repertório do álbum independente “Diesel” em um grande estúdio (Rumbo, onde trabalharam Guns N’ Roses, Tom Petty, Ringo Starr) com um produtor de renome (Matt Wallace, que havia produzido vários discos do Faith No More).

 

 


Clive Davis via “Drain”, faixa de abertura do disco de 1999, como single. A Diesel tinha carta branca e dinheiro no bolso. Nesse meio tempo, houve o imbróglio com a marca italiana Diesel pelo nome da banda. O grupo se viu obrigado a mudar – tornou-se Udora. O disco foi gravado. Foram gastos US$ 500 mil (cerca de R$ 2,8 milhões) para tal. E ele foi engavetado, nunca finalizado.

 


“Acho que a gente não teve alinhamento da gravadora. Não tínhamos experiência nem maldade mercadológica. No fim do dia, eles queriam vender, né?”, continua Gustavo. “A gente estava numa fase muito experimental, de quebrar barreiras”, acrescenta Jean.

 


O single não ficou a contento para a gravadora, que pediu mais duas músicas, com produtor que tinha viés mais radiofônico. Também não foram aprovadas. A J Records era subsidiária da BMG, que foi comprada pela Sony Music. “Perdemos o Clive Davis e ficamos na geladeira, perdidos no meio dessa confusão”, acrescenta Gustavo.

 

Veja clipe da Udora, banda sucessora da Diesel:

 

 

 

 

Sem contrato, agora Udora


O contrato foi rescindido. Os quatro voltaram à independência e aos subempregos. Em 2005, agora como Udora, lançaram “Liberty Square”, produzido por Thom Russo, que trabalhou com Michael Jackson e Chili Peppers.

 


“O disco tem uma visão mais adequada ao mercado e à realidade americana. Só que isso foi em 2005, e estávamos loucos para voltar para casa depois de uma vida de Big brother por cinco anos nos EUA”, completa Gustavo.

 

O quarteto mineiro fez cerca de 250 shows em 30 estados americanos. A convivência pesou, foram inúmeras brigas e reconciliações. Em 2006, Jean e TC deixaram a banda. Gustavo e Leo continuaram juntos por algum tempo, até que o vocalista seguiu com o Udora no Brasil, já com outros parceiros. Mas esta é outra história.

 

DIESEL

Show em 17 de agosto, a partir das 22h, n’Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Ingressos a partir de R$ 150 (3º lote e meia, estudante ou social), à venda na plataforma Sympla.