O paleógrafo Emanuele Arioli, de 36 anos, pesquisou a história do personagem esquecido da Távola Redonda em seis países europeus e nos Estados Unidos -  (crédito: Junior/reprodução)

O paleógrafo Emanuele Arioli, de 36 anos, pesquisou a história do personagem esquecido da Távola Redonda em seis países europeus e nos Estados Unidos

crédito: Junior/reprodução


“Incrivelmente alto. Tão alto que você pensaria que ele era realmente um gigante. Tinha o rosto bonito e largo, e uma pele quase morena. Seus cabelos eram mais pretos do que qualquer outra cor, e o resto de seu corpo tinha formas e proporções tão perfeitas que não se podia encontrar nada para criticar.”

 


Assim é descrito Segurant, o Bruno, também conhecido como O Cavaleiro do Dragão, personagem da Távola Redonda. Popular na Idade Média, ele foi esquecido ao longo dos últimos 700 anos. Graças ao esforço do paleógrafo e arquivista Emanuele Arioli, de 36 anos, Segurant está de volta. Isso só foi possível depois da saga deste franco-italiano para encontrar 28 manuscritos medievais espalhados pela Europa que narram a história do gigante.

 

 

 


A reunião dos manuscritos chega ao Brasil no livro “Segurant – O Cavaleiro do Dragão” (Vestígio). Arioli aproveitou os achados para escrever as HQs “O Cavaleiro do Dragão” e “Segurant – O Cavaleiro do Dragão”, que saem no país pelos selos Nemo e Yellowfante, ambos do Grupo Autêntica.

 

 Ilustração de Segurant, o Bruno, personagem da Távola Redonda popular na Idade Média, mas esquecido ao longo dos últimos 700 anos

Segurant, o Bruno, também conhecido como O Cavaleiro do Dragão, foi personagem da Távola Redonda popular na Idade Média, mas esquecido por sete séculos

Bibliothèque de l’Arsenal/Reprodução

 


Gentil e pacífico – ao menos, quando se relacionava com os amigos, porque Segurant cortou a cabeça de vários cavaleiros e gigantes –, O Cavaleiro do Dragão tinha força descomunal e comia por 10 homens.

 


Vitorioso em todas as batalhas, ele teve a ousadia de enviar um mensageiro ao Rei Arthur comunicando a resolução de desafiar todos os cavaleiros da Bretanha.


Feitiço de Morgana

 

A audácia e a segurança de Segurant chamaram a atenção do rei, que decidiu testar pessoalmente o desempenho do cavaleiro. Contudo, Segurant foi enfeitiçado pela fada Morgana, passou a ver um enorme dragão ameaçar jogar fogo em todo mundo e fugir para a floresta. Segurant, então, abandona os duelos e parte em sua busca quixotesca daquele dragão inexistente.

 


“Em alguns momentos, me senti como Segurant, numa busca insaciável por algo que não existia”, brinca Arioli, referindo-se à descoberta do primeiro manuscrito sobre o Cavaleiro do Dragão e à dificuldade para localizar os outros documentos. “É quase impossível, hoje, encontrar coisas novas sobre a Idade Média. Eu me perguntava se valia a pena continuar nessa busca”.

 

 

Manuscrito medieval consultado por Emanuele Arioli

Manuscrito medieval consultado por Emanuele Arioli

Bibliothèque de l’Arsenal/Reprodução

 


Foram 10 anos de pesquisa, a partir de 2010. Tudo começou quando Arioli estudava o francês escrito na Itália medieval. Entre os manuscritos que leu, encontrou em “As profecias de Merlim” a primeira referência a Segurant.

 


“Manuscrito da Idade Média não traz uma única história. Muitas vezes, são vários textos juntos”, explica. “Antigamente, o pergaminho era muito caro. Então, os copistas copiavam outras histórias no mesmo livro ou publicação”.

 


Foi assim que junto de “As profecias de Merlim” ele encontrou “As aventuras de Segurant, o Cavaleiro do Dragão”. A narrativa, no entanto, fora interrompida antes do desfecho final.

 

Maratona

 

Arioli partiu em longo périplo à procura de outros episódios da história. Foi a cidades da Itália, Espanha, França, Suíça, Bélgica, Grã-Bretanha e Estados Unidos pesquisar manuscritos a respeito da lenda do Rei Arthur.

 


Não se sabe o porquê de os textos se espalharem por tantos países. Uma hipótese é de que episódios da mesma história eram escritos e circulavam sem estarem compilados numa única publicação.

 

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Desde o final do século 13, coletâneas passaram a fazer mais sucesso do que longos romances. As histórias circulavam como se fossem contos ou crônicas.

 


Outra suposição é que manuscritos sobre Segurant teriam sido destruídos junto de obras da literatura arturiana durante o Renascimento. Naquela época, romances de cavalaria, considerados “inferiores”, foram rejeitados por intelectuais”.

 


Existe a terceira possibilidade. De acordo com o pesquisador, depois de Segurant ser enfeitiçado para caçar o dragão ilusório, ele foi apagado da memória coletiva pela fada Morgana.


Ilustração da Távola Redonda, mito ligado ao reinado de Arthur na Inglaterra medieval

Ilustração da Távola Redonda, mito ligado ao reinado de Arthur na Inglaterra medieval

Bibliothèque de l’Arsenal/Reprodução

 

“O manuscrito que chegou incompleto até nós perdeu os episódios finais por um acidente histórico? Ou o copista os omitiu propositadamente?”, questiona o paleólogo e arquivista.

 


Dessa incerteza nasceram as HQs. Em “Segurant – O Cavaleiro do Dragão”, Arioli narra a própria aventura em busca dos manuscritos, no intuito de incutir nos jovens o gosto pela história e por elementos da Idade Média. Já em “O Cavaleiro do Dragão”, ele parte da dúvida sobre o destino de Segurant para inventar um final alternativo.

 


“Pelos manuscritos, ficamos sabendo que apenas o Santo Graal pode quebrar o feitiço e Segurant conseguiu se livrar da maldição. Mas não sabemos como ele chegou ao Santo Graal. Na HQ, expliquei isso da maneira que imagino que possa ter acontecido”, conclui.

 


“SEGURANT – O CAVALEIRO DO DRAGÃO”


• Livro de Emanuele Arioli
• Vestígio
• 288 páginas
• R$ 79,80

 


“SEGURANT – O CAVALEIRO DO DRAGÃO”


• HQ de Emanuele Arioli
• Ilustrações: Aleko e Emiliano Tanzillo
• Yellowfante
• 72 páginas
• R$ 69,80

 

“O CAVALEIRO DO DRAGÃO”


• HQ de Emanuele Arioli
• Ilustrações: Emiliano Tanzillo
• Nemo
• 104 páginas
• R$ 84,90