Bailarina e atriz Juliana Carneiro da Cunha estrela o curta "Histerias"
 (1983), de Inês Castilho. Filme fala sobre violência e machismo -  (crédito: Curta Circuito/Reprodução)

Bailarina e atriz Juliana Carneiro da Cunha estrela o curta "Histerias" (1983), de Inês Castilho. Filme fala sobre violência e machismo

crédito: Curta Circuito/Reprodução

 

 

Com sua segunda sessão nesta terça (30/7), no Cine Humberto Mauro, a 24ª edição do Curta Circuito traz a Belo Horizonte a cineasta Ana Carolina e a jornalista Inês Castilho. Neste ano, a mostra tem como tema “Transgressoras brasileiras do cinema”, exibindo, até 15 de outubro, 11 filmes.

 

 


A exibição desta noite será do curta “Histerias” (1983), de Inês Castilho, e do longa “Mar de rosas” (1977). Este último é o filme de Ana Carolina que abriu sua trilogia sobre a condição da mulher na sociedade brasileira – os títulos posteriores são “Das tripas coração” (1982) e “Sonho de valsa” (1987).
“Ana Carolina é uma gigante, e sua trilogia me marcou muito”, comenta Inês, que sente uma “pequena glória” ao acompanhar a exibição de “Histerias” numa tela de cinema. Melhor explicando: jornalista e referência na luta feminista no país, Inês só dirigiu dois curtas. O primeiro é “Mulheres da boca” (1982); e o segundo, o título desta noite.


No YouTube

 

Ambos os filmes estão disponíveis no canal que ela mantém no YouTube. “’Mulheres’ tem mais de 300 mil visualizações; ‘Histerias’, pouco mais de 1 mil. Daí a importância de o filme passar agora”, diz Inês Castilho.

 


Curta experimental que se debruça sobre a opressão feminina, “Histerias” traz imagens que fazem menção à Igreja, à sexualidade, à violência e ao machismo. Fragmentada, tal narrativa é entrecortada pela performance “Possessão”, coreografia do francês Alain Louafi interpretada por Juliana Carneiro da Cunha.


“O cinema foi uma onda em que surfei no momento em que houve uma conjunção com a Tatu Filmes, empresa de uma Vila Madalena jovem que desapareceu antes de (o bairro) ser moda”, conta Inês.
“Mulheres da boca”, ela informa, contou com um número grande de mulheres na ficha técnica. “Na época, isso era incomum. Terminamos o filme de forma borbulhante. Era uma festa, e isso me fez pensar em ‘Histeria’”, comenta.


 

Bernardet aos prantos

 

Naquele período, Inês era aluna ouvinte das aulas que o teórico de cinema, crítico e escritor Jean-Claude Bernardet dava na Escola de Comunicações e Artes da USP.


“Mostrei o projeto e ele me disse que achava que não daria um filme.” Mas ela seguiu adiante. A primeira exibição de “Histerias”, na Tatu Filmes, tinha meia dúzia de convidados, a cineasta Tizuka Yamasaki e o próprio Bernardet entre eles.

 


“Quando a projeção acabou, o Jean-Claude estava em soluços, chorou abertamente durante 10 minutos. Ele virou entusiasta do filme, que acabou não tendo carreira”, conta Inês. Ela deixou o projeto com dívidas. Pouco depois, recebeu o convite para editar o Mulherio, jornal da Fundação Carlos Chagas que se tornou referência da condição feminina.


Inês Castilho acabou, por conta da atividade jornalística, deixando o cinema de lado. Tentou, ao longo dos anos, emplacar, sem sucesso, algumas ideias. Mas agora está de volta, desenvolvendo um projeto sobre a história do futebol feminino no Brasil. 

 

CURTA CIRCUITO


Nesta terça (30/7), às 19h, no Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537 – Centro). Exibição dos filmes “Histerias” (1983, 16min), de Inês Castilho, e “Mar de rosas” (1977, 90min), de Ana Carolina. Após a exibição, debate com as realizadoras e a jornalista Flávia Guerra. Entrada gratuita.