No mercado obcecado por singles, Froid lança álbum com 20 faixas e mais de uma hora de duração para falar de afetos, religião e Deus -  (crédito: Daniela Velar/Divulgação)

No mercado obcecado por singles, Froid lança álbum com 20 faixas e mais de uma hora de duração para falar de afetos, religião e Deus

crédito: Daniela Velar/Divulgação

 

 

Há dois anos, quando lançou o álbum “Gado”, Froid mergulhou de vez nas sonoridades latentes do trap. Agora, o rapper mineiro conecta sons brasileiros a manifestações da diáspora africana em seu sétimo disco de estúdio, “O queridinho de Deus”.

 


O projeto mistura o tradicional boom bap, subgênero do rap que é marca registrada de Froid, à dance hall, afrobeat e a outras batidas.

 


“Isso de queridinho de Deus era uma coisa que eu brincava entre meus amigos. Sou muito sortudo, é uma parada minha desde sempre. Acontecem comigo algumas coisas muito específicas que não têm explicação, a não ser Deus me protegendo”, afirma.

 



 

Sons da Jamaica, Nigéria e Reino Unido fazem parte da trilha sonora cotidiana do artista, que se propõe a mesclar as influências de fora com sua história construída no Brasil.

 


“Ando escutando muito dancehall e afrobeat. Entrei no rap por causa do boom bap, tenho na minha cabeça tudo o que já foi lançado e é possível ser encontrado. Sou doente pela parada mesmo, é coisa que está no meu DNA”, explica.

 


O título vem da faixa “Filme”, colaboração com Makalister. A letra diz assim: “Meu som rodou o mundo, todo bairro tem um pouco de mim, juro/ Deus é meu sócio, o diabo me copia/ Dizem que é feitiço o que faço com as rimas”.

 

 

 


O repertório fala de religião, afetos e vida após a morte. Froid optou por um formato não muito em voga atualmente, com mais de uma hora de duração e 20 faixas, na contramão do mercado dedicado ao single (canção avulsa).

 


“Sou o tipo de artista que faz álbum. De dois em dois anos, gosto de lançar álbum completo. Comecei a fazer (“O queridinho de Deus”) no último ano, depois que soltei mixtape em colaboração com o Ecologyk. Durante minha carreira, acredito que fiz um trabalho de educar meu público para que ele espere e mantenha a atenção na série (de discos)”, afirma.

 

 


Com letras questionadoras e introspectivas, o mineiro vai na contramão de projetos anteriores ao apostar em faixas dançantes que, segundo ele, dão outro tom a seu trabalho.

 


“Venho tentando experimentar novas sonoridades muito pela cor da parada. Sempre faço coisas frias e queria apostar em outras. Ano passado, em ‘Gado’, o que mais me rendeu frutos foram as músicas diurnas. Então, mesmo que seja trap, é algo para se ouvir de dia. O dancehall e o afrobeat, ainda estou estudando, mas o propósito é clarear o disco”, comenta.

 

Várias camadas

 


Froid afirma que o novo álbum tem várias camadas. “De três em três músicas, o estilo muda. Passam as primeiras, vira um drill com bossa nova e depois vem o trap. Pensei em distribuir a vibe, então, tem momentos que refletem o dia e outros com músicas mais dark, pesadas mesmo. A proposta era ter a parada completa. Não queria que faltasse nada, nenhuma emoção e nenhum sentimento”, explica.

 


Chama a atenção a faixa “A paz que eu busco”. O feat inédito de Froid com o funkeiro belo-horizontino Mc Laranjinha e a rapper paulistana Mc Luanna une diferentes realidades, sons e contextos da música preta brasileira.

 


“Luanna conseguiu deixar a música mais parecida com a proposta da minha carreira, que muitas vezes é fazer uma crítica, um questionamento ou uma reflexão. Eu e Laranjinha falamos da esbórnia, e Luanna fala o ponto de vista dela”, diz Froid. “A música ficou de ambos os lados. O disco busca dar um conselho de reflexão para as pessoas não ficarem a esmo. Ele não é vazio, é bem denso.”

 

BH, Londres e Angola

 

Apostando no intercâmbio entre o rap brasileiro com sons do exterior, o mineiro convidou a cantora britânica Miss Lafamilia e o duo de rappers angolanos DNASTY para as faixas “Tell me” e “Não deixa cair”, respectivamente.

 


“As conexões, hoje em dia, são muito mais fáceis. As pessoas consomem música de outros lugares, tem várias comunidades brasileiras nesses lugares também, tá ligado?”. No caso de Miss Lafamilia, o rapper ouviu o afrobeat da artista de Londres e fez contato com ela na internet. “Vi o som, achei bom. Ela começou a curtir meu som também. Esta mina ainda vai surpreender o mundo”, diz Froid.

 

 

Ouça "Tell me", rap de Froid com participação da britânica Miss Lafamilia:

 

 

 


Por falar em Londres, o rapper vai se apresentar na Europa em outubro e está ansioso para fazer turnê no Brasil. “Provavelmente, vou passar por todas as regiões do país até março do ano que vem”, adianta.

 


“O QUERIDINHO DE DEUS”


Álbum de Froid
OneRPM
20 faixas
Disponível nas plataformas digitais

 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria