César Rodrigues diz que o segredo do fenômeno

César Rodrigues diz que o segredo do fenômeno "Acredite, um espírito baixou em mim" está na torcida da plateia pelo ator Ílvio Amaral

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

 

 

Bingo! Depois de muitos anos em busca do motivo que transformou “Acredite, um espírito baixou em mim”, há 26 anos em cartaz, na montagem mais longeva da história do teatro brasileiro, o cineasta César Rodrigues chegou à seguinte conclusão: “O público desta peça é meio torcida. Ele ama ver Ílvio (Amaral) brincando e claramente se divertindo em cena. O público adora ver artista se divertindo tanto quanto ele”.

 


O experiente Cezinha dirigiu os filmes “Vai que cola – O começo” (2019), “Minha mãe é uma peça 2” (2016), “Vai que cola – O filme” (2015) e “Uma professora muito maluquinha” (2011). Na semana passada, ele esteve em Belo Horizonte não apenas para se divertir pela primeira vez com a comédia escrita por Ronaldo Ciambroni e dirigida por Sandra Pêra.

 

 


Em parceria com a Cangaral, produtora de “Espírito...”, o diretor deu início à pré-produção da nova versão cinematográfica da peça, que foi assistida por mais de 4 milhões de pessoas desde a estreia, em BH, em 1988.

 


César Rodrigues assumirá a supervisão artística do filme, que será dirigido por Hsu Chien (de “Um dia cinco estrelas”, “Desapega!” e “De repente, miss!”).

 

 

Maurício Canguçu e Ílvio Amaral sorriem para a câmera

Maurício Canguçu e Ílvio Amaral são responsáveis pelo sucesso de "Acredite, um espírito baixou em mim", comédia em cartaz há 26 anos

Leandro Couri/EM/D.A Press

 


Levar a história de Lolô (Ílvio Amaral), o fantasma gay que se recusa a seguir para o além e “baixa” em Vicente (Maurício Canguçu), provocando uma série de situações engraçadas, é um desafio para qualquer diretor.

 


De acordo com Cezinha, será “maravilhoso” transpor a comédia do teatro para o cinema. “É um desafio que mexe com a agente. Afinal, como é que se traduz um sucesso desses? São linguagens muito distintas. Ao mesmo tempo em que você tem um produto de comunicação absoluta no teatro, é preciso fazer a passagem, mantendo a fidelidade, com uma janela diferente de comunicação”, afirmou ele em entrevista ao Estado de Minas.

 

Proeza

 

O texto de Ronaldo Ciambroni aborda também a relação entre dois homens, tema que, nestes tempos de intolerância, poderia causar acaloradas polêmicas. Porém, desde a estreia da peça, não houve qualquer registro de rejeição por parte da plateia.

 


“Olha que legal: o público não os julga pela sexualidade, isso é muito difícil de alcançar. Nossa, neste momento tão policialesco com essas coisas...”, disse Cezinha, que considera importante lutar contra qualquer tipo de preconceito.

 


Ao assistir à reação da plateia que prestigiou a sessão da última quinta-feira (25/7), no Cine Theatro Brasil Vallourec, Cezinha afirma que as pessoas estão ali com o desejo de se divertir.

 

“Tem uma inocência que contribui muito. Várias pessoas que estão ali talvez sejam preconceituosas em outras coisas no dia a dia, na forma de lidar com as diferenças. Mas quando vão para aquele lugar – e esta é a mágica do teatro –, não fazem pré-julgamento. Elas aceitam”.

 

Leia também: Ílvio Amaral e Maurício Canguçu apresentaram cinco peças na Campanha de Popularização em 2024

 


O diretor continua: “Aí vira família. A gente encontra aquelas pessoas no nosso universo afetivo. Por mais que existam pessoas mais críticas e preconceituosas, elas amam. Tem o afeto. Ílvio (Amaral) e Maurício (Canguçu) são puro afeto. Eu creio nesta comunicação do artista como um fundamento também artístico, de comunicação”.

 

Sandra Pêra e Ílvio Amaral durante as filmagens de "Acredite, um espírito baixou em mim", no Cemiterio Bonfim em BH, em dezembro de 2001

Sandra Pêra e Ílvio Amaral durante as filmagens de "Acredite, um espírito baixou em mim", no Cemiterio Bonfim em BH, em dezembro de 2001

Maria Tereza Correia/EM/ 12/12/2001

 


A telona não é novidade para “Espírito...”. Em 2006, com direção de Jorge Moreno, a história ganhou a primeira versão cinematográfica com elenco que reuniu Marília Pêra, Arlete Salles e Nany People.

 


Cezinha sabe que o primeiro filme não teve repercussão nacional, embora tenha correspondido às expectativas nos cinemas de Minas Gerais.

 

“A gente deve dar um passo a mais agora, levar essa comunicação a nível nacional. Temos de refletir muito sobre como manter o espírito da peça para quem já a conhece e ama, e também para o público que não a conhece. Este é o exercício que a gente está fazendo: sintonizar essas duas plateias”, explicou o diretor.

 


Com os pés no chão, o supervisor artístico do longa reconhece que para um filme fazer sucesso, é preciso considerar o mercado. Dos lançamentos pós-pandemia, apenas duas comédias ultrapassaram 1 milhão de espectadores: “Minha irmã e eu”, com Ingrid Guimarães e Tatá Werneck (2023), e "Os farofeiros 2" (2023), com Cacau Protásio e Maurício Manfrini. “Quando o pai leva a família ao cinema, ele vai passar mais um mês ou dois sem voltar lá”, observou.

 

Aluno de Falabella

 

Natural de Muriaé, na Zona da Mata, Cezinha era um adolescente meio perdido, sem saber que rumo tomar na vida. Saiu do interior de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como bancário, estudou administração e comunicação social. Até cair, por obra e graça de uma amiga, no núcleo de teatro da faculdade. Foi aluno de Miguel Falabella, que ainda não havia estourado como ator, autor e um dos diretores mais importantes do país.

 

“Aquele encontro mudou tudo. Aprendi a ler com o Falabella, a fazer interpretação de texto. Ele só levava Shakespeare. Aí fui entender por que a gente tem de ler, interpretar, compreender o que estava por trás das palavras e das intenções”.

 

Cezinha, aos19 anos, encantou-se pelo teatro. “Tudo fez sentido. A compreensão de estudar, ler, reler, ter um ponto de vista, entender o ponto de vista do outro. Sensibilidade, eu sempre tive, mas os mecanismos para usar essa sensibilidade foram se formando aos poucos, a partir do meu encontro com Falabella”.

 


Antes de deixar a faculdade, o professor, que começava a estourar na televisão e no teatro, recomendou a Cezinha ingressar na Casa das Artes de Laranjeiras, a CAL. O mineiro confessa que não se sentia confortável como ator. “Não era ruim não, mas a interpretação foi a janela para entender que eu preferia a direção, o bastidor”, comenta.


“Capitães de areia”

 

Naquela época, César Rodrigues conheceu Roberto Bomtempo – “parceiro e ator incrível” –, com quem montou a companhia Movimento Carioca de Teatro Juvenil e uma escola de artes cênicas. A dupla fez peças como “Capitães de areia”.

 


Mais tarde, outro encontro mudou a vida de Cezinha, indicado para trabalhar como diretor de set de Daniel Filho. Deu tão certo que ele considera como o marco de sua carreira o filme “Confissões de adolescente”, do qual foi diretor-assistente. O resto é história.

 


As gravações do longa “Acredite, um espírito baixou em mim” devem começar depois do carnaval de 2025. O elenco ainda não foi divulgado.