“Abarrotado”, espetáculo dos alunos do turno da manhã do último ano do curso de teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), estreia no Galpão 04 da Funarte, nesta quinta (4/7), às 20h30, com entrada gratuita. No segundo semestre, os estudantes apresentarão nova montagem.
Tendo como principal cenário um típico bar brasileiro, os personagens de uma família se reúnem para conversar, dançar e afogar as mágoas. Embora únicos em suas características e anseios, as personalidades retratadas em cena compartilham as vivências de grupos marginalizados, mas sem abandonar o bom humor e a música.
“Para montar o espetáculo, pensamos nas formas de busca de liberdade dos corpos negros no mundo contemporâneo”, diz Anair Patrícia, codiretora de “Abarrotado”. “O bar, então, é posto como um espaço de lazer, de dança e encontro com os amigos para desabafar sobre a vida. É ali também que é possível se entorpecer para suportar a realidade.”
Os alunos do Cefart interpretam um leque de personagens multifacetados. Thawine Vieira, por exemplo, será Tina, vendedora que sonha em se tornar passista de escola de samba. A Carlos Lin cabe o papel do motoboy que deseja estudar psicologia, e Beatriz Regina vive Regina, a dona do bar.
“A Tina é mulher preta, retinta e congadeira que para sobreviver vende de tudo. Ela também é babá e manicure, mas seu sonho é ser passista de escola de samba. Aqui, entendemos o gênero musical como uma forma de construção da liberdade do corpo preto”, conta Anair Patrícia.
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“Temos também o Gigisclei, motoboy que acaba realizando sessão de terapia com os clientes, porque seu sonho é se tornar psicólogo. Já Regina é a mãe solo que, para conseguir cuidar do filho, abre um bar e acaba contraindo uma dívida gigante que a leva ao tribunal. De tanto trabalhar para sustentar a família, não sabe nem a cor dos olhos do próprio filho. Nós nos preocupamos em trazer diversas denúncias sociais, como esta, para o palco”, acrescenta a codiretora.
Realismo mágico
“Abarrotado” utiliza elementos do realismo mágico para tecer variadas narrativas. Personagens como a Morte (Allan Visant) e a Inteligência Artificial (Ariel Beles), nas palavras de Anair, “propõem o questionamento sobre corpos que morrem em massa”, bem como “as receitas para ser considerado humano atualmente”.
A Música, representada por vários atores em cena, também é personagem importante. “É preciso reforçar que o povo preto não é só do luto, mas também da festa e da dança, resistindo a partir da arte e de outras poéticas que não se limitam à dor e à morte. Samba, congado, pagode, afro house e dança de rua estão presentes na nossa vivência”, conclui a codiretora Anair Patrícia.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro
“ABARROTADO”
Com alunos do curso técnico em teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). Desta quinta (4/7) a sábado (6/7), às 20h30, e domingo (7/7), às 19h30, no Galpão 04 da Funarte-MG (Rua Januária, 68, Centro). Segunda semana do espetáculo, de 11 a 14 de julho. Entrada gratuita, com retirada de ingressos a partir de uma hora antes do início da sessão.