Publicado em 1511 pelo holândes Erasmo de Rotterdam (1466-1536), “O elogio da loucura” retrata tal condição da mente humana não como patologia ou desvio de lucidez, mas, sim, como um ato de libertação.

 




Cinco séculos depois, a atualidade da obra chamou a atenção da atriz Leona Cavalli e do diretor Eduardo Figueiredo, que decidiram investir no livro para a criação de um espetáculo homônimo. “É uma abordagem completamente diferente das outras que nós estamos acostumados na dramaturgia. A loucura é tida como ir além dos próprios limites e não de uma forma sofredora”, avalia Leona Cavalli.


Depois de uma sessão única na capital mineira em outubro do ano passado, o espetáculo retorna a Belo Horizonte neste fim de semana para duas apresentações, sábado (6/7) e domingo (7/7), no Cine Theatro Brasil Vallourec, no Centro.


Em cena, Loucura, interpretada em formato de monólogo por Cavalli, chega para reivindicar sua aceitação como divindade e sua presença em todo o mundo. Mantendo o sarcasmo e a sagacidade do conteúdo original da obra, a mensagem que o público recebe é a de que esse sentimento mora dentro de cada um de nós.


Contradições do poder


Acompanhada dos músicos Rafael Ducelli (violoncelo) e Cika (percussão), a atriz cria uma sátira que expõe a hipocrisia e as contradições presentes nas relações de poder na sociedade, na política e, claro, na Igreja, que dominava o pensamento do século 16, para mostrar que o mundo não só está louco como sempre foi.


O diretor, Eduardo Figueiredo, conta que seu principal objetivo durante a adaptação foi transmitir a essência da obra de maneira acessível ao público. “A peça é bem fiel ao original, mas nós tivemos a liberdade de adaptar uma palavra ou outra, uma frase ou outra, coisas muito pontuais. Nossa função como artista é pegar uma obra e torná-la como um instrumento acessível pro público, fomentar questionamento. Acho que o espetáculo consegue isso”, avalia.

 

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Leona Cavalli diz que parte do público sempre se surpreende ao descobrir que o texto não é contemporâneo. “As pessoas juram que esse texto foi escrito agora. Tem coisas muito atuais que estão no livro. A loucura está presente nos mais diversos espectros, nos casamentos, na amizade… Esses momentos pegam muito a plateia.”


Público no palco

 

A participação do público é peça fundamental em “O elogio da loucura”. Em determinado momento da encenação, os espectadores são convidados a subir ao palco para escrever em um pedaço de papel suas próprias loucuras que depois são depositadas em uma caixa de papel. As confissões, depois lidas por Leona, arrancam boas gargalhadas da plateia.

 


O espetáculo faz ainda uma crítica trazendo projeções com imagens de artistas que, por desviarem dos padrões esperados, foram considerados loucos. Vincent Van Gogh, Antonin Artaud e Nina Simone são alguns deles. A contemporaneidade do texto também é criticada por Eduardo Figueiredo. “É deprimente ver como o pensamento conservador está tão acentuado quanto no século 16. Tem assuntos e discussões que nós já deveríamos estar muito avançados”, avalia.


Parceria


Figueiredo, que já dirigiu Leona em outras três oportunidades nas montagens “Frida y Diego”, “Gatão de meia idade” e “Procuro o homem da minha vida, marido já tive”, garante que neste espetáculo a atriz entrega uma performance surpreendente.


Leona, por sua vez, está em cartaz com outros dois espetáculos, “O ser artista” e “Fausto”, este o último escrito por Zé Celso Martinez (1937-2023), dramaturgo que foi o mentor da atriz durante o início de sua carreira.

 

“ELOGIO DA LOUCURA”
Espetáculo com Leona Cavalli. Neste sábado (6/7), às 21h, e domingo (7/7), às 19h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315 – Centro). Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda na bilheteria local e no site Eventim.

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