No período entre 1200 a.C e 275 d.C, o Reino de Sabá se destacou na região da Península Arábica e do Leste do continente africano. Ficava ali a chamada Arábia Feliz, onde imponente mulher guiou seu povo rumo à prosperidade e abundância.

 

Muitos séculos depois, a lendária soberana empresta seu nome à peça “Makeda – A rainha da Arábia Feliz”, que estreia nesta sexta-feira (5/7), às 19h, no CCBB-BH. Com direção e dramaturgia de Allex Miranda, o espetáculo conta a historia da pequena princesa africana predestinada a se tornar a rainha de Sabá.

 



 

Baiano radicado em Portugal por 18 anos, Allex explica que o enredo surgiu dos quilômetros que separavam o Brasil de sua nova casa.

 

“A peça veio como uma tentativa de encurtar a distância entre eu e minha filha. Pensei em como poderia auxiliar a educação dela, mesmo estando longe. Fiz pesquisas sobre princesas e rainhas africanas para ensiná-la sobre o empoderamento feminino e a valorização da beleza negra. Encontrei referências como a rainha de Sabá, um dos títulos de Makeda”, explica o diretor.

 

Personagem bíblico

 

 

No espetáculo, o trisavô da menina, Noé (na “Bíblia”, ele assume o parentesco), é o responsável por apresentá-la às antepassadas. Dentro de uma tenda, os dois viajam por universos imaginários com o intuito de visitar o passado.

 

“Muita gente pensa que ancestral é o que é velho, mas ancestral é ter sabedoria. Tanto o Noé quanto a Makeda são dois ancestrais. Um do ponto de vista mais evolutivo, por assim dizer, em termos de idade; a outra na flor da evolução, uma criança”, diz Miranda.

 

“Tem uma frase muito interessante que comentaram comigo. A pessoa velha e a criança são duas pessoas próximas do Orum, o céu da mitologia afro-brasileira. O mais velho está mais próximo do céu, vai para lá em algum momento. E a criança veio de lá há pouco tempo. Ambos são ancestrais que trazem mensagens de outros lugares”, observa.

 

 

“Makeda – A rainha da Arábia Feliz” conta com cenografia e trilha sonora autorais, que espelham questões identitárias do povo preto, misturando Brasil e Arábia. O elenco reúne Ella Fernandes, Graciana Valladares, Lucas da Purificação e Thiago Justino.

 

O espetáculo não está preso a locais e culturas específicas, afirma Miranda. “O que fiz foi tentar beber um pouco da cultura brasileira e trazer alguns códigos e símbolos que sejam identificados pelas pessoas.”

 

Com a protagonista negra cuja personalidade está em formação, a peça remete a novos arquétipos, positivos para a sociabilização das crianças pretas.

 

“Nossa formação, enquanto sociedade, vem da construção do imaginário. Quando consumimos imaginários positivamente semelhantes a nós, nos inspiramos e nos espelhamos neles. Quando aparece uma criança negra que é princesa e está visitando o passado para se tornar uma grande rainha, isso traz empoderamento”, afirma Allex Miranda.

 

 

“Claro que as crianças não sabem o que quer dizer empoderamento, mas temos de valorizar a autoestima delas e a própria estética da beleza negra. No caso dos adultos, a peça atinge a nossa criança interior, pois muitos de nós não tivemos a oportunidade de ser a criança sonhadora que hoje algumas delas conseguem ser”, conclui.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

 

“MAKEDA – A RAINHA DA ARÁBIA FELIZ”


Até 29 de julho, no CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Sessões às sextas e segundas-feiras, às 19h, e aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Informações: www.ccbb.com.br/belo-horizonte

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