“O pequeno príncipe” foi traduzido para mais de 500 idiomas e dialetos. Obra atemporal, ganhou inúmeras edições, repletas de particularidades. A coleção do escritor José Marcos Ramos, de 73 anos, já chegou à marca dos 400 exemplares. Ao longo de meio século, o belo-horizontino reuniu acervo dedicado ao clássico do francês Antoine de Saint-Exupéry. Parte dele ficará exposto até 31 de agosto na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, na Praça da Liberdade.
O amor pelo livro surgiu quando Ramos estudava na Aliança Francesa. Na escola dedicada ao ensino do francês, o adolescente teve contato com o romance pela primeira vez, lido no idioma original. Mais tarde, na década de 1970, durante viagem para a Argentina, Ramos se perguntava sobre a lembrança que traria daquele país. No aeroporto, comprou a edição de “O pequeno príncipe” em espanhol.
A extensa coleção começou ali. “A partir daquele dia, em todas as minhas viagens, procurava um exemplar de ‘O pequeno príncipe’ na língua do país onde estava. Com o tempo, percebi que, infelizmente, não conseguiria rodar o mundo todo. Então, passei a pedir aos amigos que trouxessem edições para mim. Foi assim com a China e o Japão”, conta o colecionador.
Em casa, Ramos guarda cuidadosamente livros editados na Hungria, na Espanha e até com hieróglifos utilizados no Antigo Egito. Um dos exemplares veio de uma colônia alemã no Brasil, com sua escrita particular.
Mais tarde, com a chegada da internet, o colecionador mineiro percebeu que não era “o único louco no mundo” apaixonado pelo romance de Saint-Exupéry. “Passei a trocar o livro em português brasileiro com pessoas de outras regiões, que me enviam o exemplar em sua língua ou dialeto. A troca só fez crescer minha paixão”, revela.
Em cartaz no setor infantojuvenil da Biblioteca Pública, a mostra “O pequeno príncipe – Uma paixão literária em várias línguas” reúne 132 edições do romance de Saint-Exupéry. Com entrada franca, a visitação pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
“'O pequeno príncipe’ foi publicado pela primeira vez em 1943 e ainda hoje cativa leitores de todas as idades. A coleção particular do José Marcos Ramos é muito rica, a exposição pode motivar o público a ler ou reler a obra de Antoine de Saint-Exupéry”, afirma Vanessa Mendes, bibliotecária coordenadora do setor infantojuvenil da instituição.
“Esta é uma história atemporal. Apesar da narrativa simples, carrega questões filosóficas interessantes, além de discutir temas como amor, amizade, perda e a importância de ver o mundo com os olhos da criança”, comenta Vanessa.
O colecionador José Marcos Ramos observa que não interessa apenas às crianças a história do encontro de um aviador com o menino vindo do espaço sideral.
“É um livro de literatura infantil que conversa muito bem com os adultos. Na própria dedicatória, Antoine de Saint-Exupéry endereça a obra a um adulto, Léon Werth, amigo dele que passava frio e fome na França em plena Segunda Guerra Mundial. A beleza de reler o livro várias vezes e sempre descobrir algo novo me encanta. Áreas como política e filosofia são abordadas de forma sensível. É um livro completo”, afirma Ramos.
Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) foi escritor, ilustrador e piloto. Lançou os livros “O aviador” (1926), “Correio sul” (1929) e “Voo noturno” (1931), mas nenhum deles com o impacto de “O pequeno príncipe”. Com pouco mais de 100 páginas, o romance narra a história do garoto que compartilhava o asteroide B-612 com uma rosa, três vulcões e baobás.
Amizade no Saara
Durante viagens por diferentes planetas, o menino visita a Terra e encontra um piloto perdido depois de cair com seu avião no deserto do Saara. Dessa amizade improvável surgem reflexões sobre a natureza humana. Escritas há 81 anos, elas dialogam com os dias de hoje. Considerado o livro mais traduzido em todo o mundo, ele só não é pareo para a “Bíblia”.
“O fato de ‘O pequeno príncipe’ ser traduzido para vários dialetos é muito interessante. Se pensarmos em um país como a Itália, com vários dialetos que vêm perdendo força devido ao processo geracional, a tradução naquela língua específica ajuda o idioma a perdurar, principalmente quando (o exemplar) fica disponível nas escolas”, afirma José Marcos Ramos.
“Todos os detalhes a respeito do livro de Saint-Exupéry só nos deixam ainda mais apaixonados pela história que ele escreveu”, conclui o colecionador.
“O PEQUENO PRÍNCIPE – UMA PAIXÃO LITERÁRIA EM VÁRIAS LÍNGUAS”
Exposição em cartaz até 31 de agosto. Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21, Funcionários). Aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Entrada franca. Programação completa: https://www.instagram.com/bibliotecaestadualmg/
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria