Cem quilômetros separam as cidades de Pouso Alegre e Poços de Caldas, no Sul de Minas. Porém, os realizadores Ary Rosa, de 37 anos, e Glenda Nicácio, de 32, nascidos, respectivamente, nos dois municípios, só foram se conhecer a 1,6 mil quilômetros dali. Em 2010, iniciaram a graduação em cinema e audiovisual na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

 


Formados em 2015, já no ano seguinte dividiram a direção do primeiro longa, “Café com canela”. Menos de uma década depois, já são seis filmes. Cinco deles compõem a primeira edição da mostra “Cinema é Cachoeira” que, a partir desta quinta-feira (18/7), chega a Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Poços de Caldas.

 

 



 

Em BH, as sessões vão de hoje até quarta-feira (24/7), no UNA Cine Belas Artes. No sábado (20/7), Ary, Glenda e o ator Fabrício Boliveira participam de debate após a exibição de “Mugunzá” (2022). Em Poços de Caldas, a mostra vai de 2 a 24 de agosto, no Instituto Moreira Salles.

 

O musical “Mugunzá” foi totalmente rodado no Cine Teatro Cachoeirano, com dois atores. Arlete Dias, do Bando de Teatro Olodum e recorrente nos filmes da dupla, é a protagonista, mulher que vive numa comunidade opressora. Boliveira interpreta os personagens masculinos. Depois da mostra, este e outro longa, “Ilha” (2018), vão estrear, na próxima quinta (25/7), no UNA Cine Belas Artes.

 

 

Cidade negra

 

O título da mostra remete a Cachoeira, cidade do Recôncavo Baiano onde Ary e Glenda moram e os longas da produtora da dupla, Rosza Filmes, são rodados.

 


“Cachoeira é uma das cidades mais negras do país, uma das que mais têm terreiros por metro quadrado. Isso interfere no nosso processo de aprendizagem e no que é o cinema para nós. Nem sei se saberia fazer filmes fora de lá”, comenta Glenda.

 

 


As histórias escritas por Ary e dirigidas em dupla (Glenda costuma assinar a direção de arte) giram, de maneira geral, sobre o encontro. “Nosso primeiro filme (‘Café com canela’, 2016) teve muito reconhecimento por conta disso. ‘Ilha’ traz um encontro, mas um pouco mais dolorido. A temática comum se dá numa comunidade, seja ela rua, cidade ou família”, acrescenta ela.

 


As narrativas costumam ser sobre pessoas comuns. “A gente dá, dessa maneira, universalidade à arte. Estamos sempre assistindo a histórias que sejam de amor, de dor, de morte. Acostumamos a elas. Só que, no nosso país, não estamos acostumados a ver essa representação em corpos negros. Em nossos filmes trazemos este grupo para o centro, pois a universalização dos sentimentos costuma ser muito branca”, afirma Glenda Nicácio.

 


Realizar quase um filme por ano de forma independente e no interior é um feito e tanto. Glenda explica: “Antes de tudo, existe a construção das políticas públicas, das quais somos bastante dependentes, em que se pensa na interiorização do cinema.”

 


Os filmes da Rosza são do tamanho que conseguem ser. “O Ary escreve os roteiros pensando na possibilidade real que teremos de orçamento. ‘Até o fim’ foi pensado para que tudo pudesse acontecer dentro de um bar. ‘Voltei’, que a gente fez durante a pandemia, foi todo filmado na casa do Ary. Isso pode trazer alguns empecilhos, mas nos permite exercitar a linguagem em que acreditamos. Não vou deixar de fazer um filme porque não tenho o orçamento que gostaria”, finaliza.

 

 

PROGRAMAÇÃO

 

Hoje (18/7)


“Até o fim” (2020). Com Arlete Dias,Mary Dias e Wall Diaz. Quatro irmãs se reencontram enquanto aguardam a morte do pai.


Sexta (19/7)


“Ilha” (2018). Com Aldri Anunciação, Arlete Dias e Renan Motta. Para fazer um filme sobre a ilha, lugar de onde os nativos não conseguem sair, jovem sequestra cineasta.


Sábado (20/7)


“Mugunzá” (2022). Com Arlete Dias e Fabrício Boliveira. Arlete perdeu um amor, um filho e a casa, agora quer justiça. Sessão seguida de debate. Exibição também na quarta-feira (24/7).


Domingo (21/7)


“Café com canela” (2016). Com Valdinéia Soriano, Aline Brune e Babu Santana. A reaproximação entre pessoas, a partir da amizade de duas mulheres, embala situações como a superação do luto.


Terça (23/7)


“Voltei!” (2021). Com Arlete Dias, Mary Dias e Wall Diaz. Enquanto acompanham o julgamento que pode mudar os rumosdo país, duas irmãs são surpreendidas pela chegada da terceira, que retornado mundo dos mortos.


>> Às 19h, na Sala 3 do UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Bairro de Lourdes)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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